Virada de Crivella (PRB) no Rio surpreende até marqueteiro: "inacreditável"

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

  • ERBS Jr./Frame/Estadão Conteúdo

    A diferença entre o candidato e Anthony Garotinho (PR) foi de menos de 50 mil votos

    A diferença entre o candidato e Anthony Garotinho (PR) foi de menos de 50 mil votos

Em terceiro lugar nas pesquisas desde o começo das eleições, o senador e candidato ao governo do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), ganhou fôlego na última semana antes da votação e surpreendeu a todos, até a sua equipe, ao passar para o segundo turno ao lado do governador e candidato à reeleição, Luiz Fernando Pezão (PMDB).

No próprio domingo (5), as pesquisas boca de urna o colocavam dez pontos atrás do deputado federal Antonhy Garotinho (PR), até então favorito -- a diferença entre Crivella e Garotinho foi de menos de 50 mil votos.

Marqueteiro responsável pela campanha de Crivella, Lula Vieira conta que assistia à apuração já conformado com a derrota. "Ficamos acompanhando só o resultado da apuração nacional, mas sem muito interesse. Você torce pela seleção brasileira, já perdeu, então vamos ver a disputa pelo segundo lugar", diz, ao lembrar da tarde de domingo no comitê de campanha do senador.

Nas redes sociais, Crivella postou no sábado, antes do primeiro turno, uma mensagem em tom de despedida:

 

Vieira viu se repetir o mesmo cenário de 2008, quando ele e Crivella estavam em lados opostos -- à época, o marqueteiro estava à frente da campanha de Fernando Gabeira (PV) para prefeito do Rio. Uma semana antes da eleição, o candidato do PV subiu nas pesquisas e ultrapassou o senador, até então à frente, indo para o segundo turno com o atual prefeito Eduardo Paes (PMDB).  Ele diz que o candidato do PRB é mais "gostável" e tem mais chances de conquistar os eleitores do que o atual governador. "Pezão me parece aqueles bonecos que você aperta o botão e ele sai falando", diz.

Eleições 2014 no Rio de Janeiro
Eleições 2014 no Rio de Janeiro

UOL – Vocês esperavam chegar ao segundo turno? Como foi no domingo?

Lula Vieira - Domingo foi inacreditável. Nós tínhamos alguma esperança, como sempre se tem. Peguei um táxi com meu filho e minha mulher para ir até o comitê de campanha e pelo rádio do carro ouvimos a boca de urna. Nós estávamos dez pontos abaixo do Garotinho. Pensei, "não tem como [a pesquisa] errar, dançou". Chegamos lá, já estava uma choradeira. A produtora começou a desmontar tudo. Pela televisão ficamos acompanhando só o resultado da apuração nacional, mas sem muito interesse. Você torce pela seleção brasileira, já perdeu, então vamos ver a disputa pelo segundo lugar. O Rio não saía por causa do problema com Niterói [onde a biometria atrasou o encerramento da votação]. Até que de repente alguém dá um grito, "saiu o Rio". Com 70% das urnas apuradas, Crivella estava em segundo lugar. Ninguém acreditava, começamos a acompanhar, a sofrer urna por urna.

Qual vai ser o foco da campanha no segundo turno?

Ainda estamos trabalhando nisso, costurando os apoios. Temos que nos organizar. Há muita gente oferecendo apoio. Por enquanto, temos um programa bacana de agradecimento, alguns apoios e só.

Nesta terça-feira Garotinho declarou apoio à candidatura de Crivella no segundo turno. Ele tem um índice de rejeição muito alto, isto atrapalha?

Apoio nunca atrapalha. E Garotinho não pede cargo, não pede nada. Só diz, "Crivella, vamos tirar esse governo", no que o Crivella responde, "farei com muito gosto". E é a partir disso que vamos trabalhar.

Como é trabalhar a imagem do Crivella? Ele ser bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, a religião, interfere?

Ele não é bispo, ele foi. Está licenciado. Durante todo o tempo em que ele foi senador, nunca foi bispo, foi ministro, nunca foi bispo. Ele não renega isso, muito pelo contrário, mas ele não fez nenhuma lei que beneficiasse a sua igreja, não fez nenhum discurso que tenha alguma característica de religiosidade. É como se ele fosse católico, como se fosse umbandista. O Geisel [Ernesto, presidente durante a ditadura militar] era isso e ninguém falava nada.

Como você viu a participação de Crivella nos debates?

Ele passou emoção. Consolidada a imagem dele com ele é -- ficha limpa, decente, honesto, passado irretocável --, o fundamental é que ele foi mais emocional. Ele é essa pessoa que a gente vê no debate, calmo, ponderado. Lembra da Pepsi? É o "por que não?" [slogan de uma campanha do refrigerante]. Tem um cara que é limpo. As pessoas estão perceberam isso.

Como fica a relação dele com a presidente neste segundo turno, já que no primeiro ela o apoiou e apoiou também o governador Pezão?

Ele está com a Dilma e ponto. Isso é clausula pétrea na cabecinha dele. Ele é o "Dilmella" e torce para que ela o apoie.

Qual diferença entre a onda Gabeira e a onda Crivella?

São características bem diferentes. O Gabeira era um romantismo, Rio romântico, viés de alegria carioca. Crivella é um voto mais racional, mais pensado. Onda é onda. Todo mundo começa a se apaixonar. O Crivella tem essa possibilidade, ele é mais "gostável" que o Pezão. Não consigo imaginar ninguém pensando, "que delícia, Pezão". Crivella tem esse poder, é uma pessoa capaz de passar muita emoção. Pezão me parece aqueles bonecos que você aperta o botão e ele sai falando, "eu tenho muito orgulho do meu governo, eu fiz metrô até não sei onde, 36 vagões e meio com ar-condicionado, tenho muito orgulho do meu passado, do que fiz em Piraí…". Você diz, "você é corrupto, o seu governo é corrupto", e ele continua, "eu tenho muito orgulho do meu governo, tenho orgulho do meu passado, eu fiz metrô até não sei onde".

Marcelo Crivella

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