Tucano e petista discutem e se ofendem no meio da rua em São Paulo

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

  • James Cimino/UOL

    5.out.2014 - O empresário José Clóvis Lemes e o economista Sergio Ricardo Thuller: discussão no meio da rua por causa de política

    5.out.2014 - O empresário José Clóvis Lemes e o economista Sergio Ricardo Thuller: discussão no meio da rua por causa de política

Um eleitor tucano e um eleitor petista discutiram e se ofenderam no meio da rua Martim Francisco, no bairro Santa Cecília (região central de SP) por causa das eleições.

Tudo começou quando a reportagem do UOL cruzou com o empresário José Clovis Lemes, 60, que desfilava pela rua com duas folhas de papel presas, uma no peito e outra nas costas, com os dizeres: "Povo que vota em corruptos e ladrões não é vítima, é cúmplice!!!!"

"O que está aqui é o que eu penso. Não dá para entender uma população que vê roubo todos os dias e vota nos mesmo ladrões. Claro que todos os partidos roubam, mas o PT transbordou. É um projeto de poder, não de país", disse.

Em seguida, disse que gostaria de não ter que escolher entre PT e PSDB, mas que não votaria em Marina Silva porque "esse negócio de 13º para bolsa família foi o fim". "Pra mim é como no futebol. Eu digo que tenho dois times: um é o Corinthians, por quem torço contra. O outro é o São Paulo, por quem eu torço a favor, mas torço mais contra o Corinthians que a favor do São Paulo. Com o PT é a mesma coisa. Quem vota no PSDB hoje vota no menos pior."

Enquanto conversa com a reportagem, o economista Sergio Ricardo Thuller, 49, que trajava uma camiseta do Che Guevara, parou atrás do empresário para ler o que estava escrito em sua camisa. Foi aí que a confusão começou.

Thuller bateu no ombro do opositor e disse: "Você tinha que despersonalizar isso aí, porque todos os partidos são corruptos. Então, se você quer criticar uma igreja que cobra dízimo, critique todas, porque a católica também cobra", disse o economista, que em seguida parou de costas para o empresário para conversar com o UOL.

Lemes então, literalmente, peitou o petista: "Você é um idiota. Seu petista! Deve ser funcionário público! Vocês todos vão perder seus empregos! Filho da p...!" Thuller apenas ria enquanto o tucano ia se afastando. "Você viu como ele me rotulou? É o tipo do cara que fala que não é racista, mas não deixa a filha casar com preto. Ou que diz que não é homofóbico, mas se o filho for gay expulsa de casa. Prefiro debater com o Bolsonaro ou com o Feliciano, pelo menos você sabe que posição eles têm."

Patriotismo, futebol e religião

Não muito longe dali, o analista Ricardo Falcão, 37, chegou ao colégio Mackenzie para votar acompanhado da mulher e da filha. Os três trajavam camisetas da seleção brasileira por conta de um movimento anti-petista que surgiu no Facebook. "Isso é para mostrar quem vai votar contra a Dilma. É um símbolo para mostrar que você quer que o Brasil mude", disse.

A camisa, segundo ele, serve para mostrar que o patriotismo do brasileiro não acontece apenas em período de Copa do Mundo, embora ache que a política brasileira, especialmente no Facebook, lembra o fanatismo pelo futebol.

"Eu não entro em bate-boca por causa disso, mesmo porque o petista já acha que todos os candidatos dele são os melhores. Mas, tanto de um lado, quanto de outro, parece torcida de futebol. Tem fanático de todo lado", disse o corinthiano.

Junior Lago/UOL
5.out.2014 - O analista Ricardo Falcão e sua mulher, a publictária Claudia Trindade, que foram votar usando a camiseta da seleção brasileira em sinal de protesto ao governo Dilma Rousseff; a professora Thalita Lessa, que foi a reduto tucano usando a cor vermelha e adesivo do PT; e a vendedora Silvany Ornelas, que se influencia pela religião na hora do voto
Figura rara no bairro de Higienópolis, um reduto tradicionalmente tucano, a professora Thalita Lessa, 35, disse que ódio ao PT em São Paulo é proveniente de quem não sabe o que está acontecendo fora do Estado.

"Eu morei dois anos no Nordeste. Quando fui para lá, achei que estava regredindo. Quando voltei, achei São Paulo um lugar estagnado. As pessoas não têm ideia de como o Brasil está se desenvolvendo rápido onde o PSDB não governa com sua política de Estado mínimo", pontua a professora, que foi votar toda vestida de vermelho.

"Eu percebo que as pessoas evitam me olhar por causa da roupa. Até já aconteceu de conhecidos fingirem não me conhecer por eu estar de vermelho. Esse ódio de classe faz as pessoas se tornarem fascistas, que odeiam tudo que é diferente e que atribui ao outro todos os seus problemas. Não discuto com gente assim."

E quando futebol e política se misturam, sempre é possível adicionar uma dose de religião para apimentar mais ainda o debate.

A vendedora Silvany Ornellas, 41, também votou usando uma camiseta que misturava motivos religiosos com a bandeira nacional. Católica, disse que a camiseta simbolizava sua descrença nas pesquisas eleitorais. "Com todo mundo que eu falo, ninguém vai votar na Dilma. Como ela continua na frente nas pesquisas?"

Afirmou ainda que sua religião influenciava seu voto. "Eu defendo a vida. Não somos a favor do aborto e também agora tem esse negócio de que tudo é homofobia. Nós não vemos assim. Eu tenho amigos gays, os respeito, mas sou a favor da família", disse a vendedora.

Questionada se a reivindicação dos homossexuais pelo casamento igualitário não era exatamente para que pudessem formar famílias, desconversou: "Podemos encerrar a entrevista? Eu fiz uma cirurgia na boca e não posso falar muito."

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