Pimentel (PT) é eleito e põe fim a 12 anos de governos do PSDB em MG
Rayder Bragon
Do UOL, em Belo Horizonte
-
Douglas Magno/O Tempo/Estadão Conteúdo
Fernando Pimentel (à esq.) comemora a vitória ao lado do vice, Antonio Andrade (PMDB)
Fernando Pimentel, 63, foi eleito governador de Minas Gerais pelo PT, no primeiro turno, na tarde deste domingo (5). A vitória marca a ascensão petista no Estado, que elege pela primeira vez um governador no segundo maior colégio eleitoral do país e tira do poder o PSDB, que está no comando estadual há 12 anos.
Pimentel derrotou Pimenta da Veiga (PSDB), indicado pelo presidenciável de seu partido, Aécio Neves. A derrota marca de maneira negativa a carreira política de Aécio, que obteve altos índices de aprovação em seu mandato como governador do Estado e possui um retrospecto favorável na indicação de outras candidaturas vitoriosas.
Com 100% das urnas apuradas, Pimentel obteve 53% dos votos válidos contra 42% de Pimenta da Veiga. Para o Senado, ex-governador de Antonio Anastasia (PSDB) foi eleito com 56,7%.
Pimentel disparou contra seus adversários durante a primeira entrevista coletiva após a confirmação da vitória. O petista disse que o Estado "não tem dono, não tem rei, não tem imperador", em alusão à grande influência do grupo político de Aécio em Minas.
"Aqui soberano é o povo de Minas", afirmou em seu comitê de campanha, localizado na região central de Belo Horizonte.
"Essa eleição é a eleição que mostra a derrota da arrogância. Aqueles que diziam que iam ter quatro milhões de votos de frente, em relação à nossa coligação, colheram agora nas urnas um milhão de votos a mais contra eles e quase quinhentos mil votos a mais na coligação nacional", disse.
Segundo o petista, o eleitorado de Minas deu uma lição aos adversários. "O povo de Minas deu uma lição àqueles que pretendiam ser soberanos, donos dos votos da vontade alheia. Nós nunca nos arvoramos donos de nada nem de ninguém. Nós trabalhamos nesta campanha com a mesma humildada com que vamos governar o Estado', disse o político, que estava acompanhado do vice-governador eleito na chapa, o peemedebista Antônio Andrade, e de deputados eleitos da coligação.
Ajuda a Dilma Rousseff
Pimentel disse que vai trabalhar para ajudar Dilma Rousseff na campanha do segundo turno, mas enfatizou que fará isso como "cidadão". Segundo ele, a transição de governo começará a ser tratada com o atual governador Alberto Pinto Coelho (PP) a partir de amanhã.
"Precisamos fazer um esforço para diferenciar o que é tarefa de transição de governo das tarefas de campanha. (...) O governador de Minas não vai participar da campanha [presidencial], mas o cidadão Fernando Pimentel', afirmou.
Quem é Pimentel
O governador eleito já foi prefeito de Belo Horizonte (2005-2008) e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2011-2014) do governo Dilma. Apesar de amigo pessoal da presidente desde a ditadura, Pimentel já foi aliado de Aécio Neves em 2008, na disputal pela prefeitura de Belo Horizonte. Na época, a campanha para eleger Marcio Lacerda (PSB) rachou o PT local.
Na campanha de rádio e TV, Pimentel poupou Aécio de críticas pessoais. Sua estratégia rumo ao Palácio Tiradentes foi atacar os 12 anos de administração do PSDB no Estado. Mantendo o discurso regionalizado, a propaganda eleitoral explorou pouco aparições da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A coligação de Pimentel foi formada pelas legendas PT, PMDB, PC do B, Pros e PRB, o que lhe proporcionou tempo de seis minutos e três segundos.
Eleições 2014 em Minas Gerais
No ninho tucano, Aécio foi figura constante no material de campanha, procurando alanvacar Pimenta da Veiga com os altos índices de aprovação dos governos de Aécio (2003/2010). A estratégia, no entanto, não surtiu efeito e, em setembro a irmã de Aécio, Andréa Neves, deixa a campanha presidencial para tentar reverter o quadro em Minas Gerais. Nas propagandas, os ataques a Fernando Pimentel passam a ser mais agressivos. Havia tempo para tanto: o tempo de rádio e TV somava oito minutos e 18 segundos com a coligação que uniu PSDB, PP, DEM, PSD, PTB, PPS, PV, PDT, PR, PMN, PSC, PSL, PTC E SD.
A estratégia tucana de nacionalizar a disputa em Minas também tinha como objetivo ampliar o número de votos a Aécio Neves na corrida pela Presidência, que ficou abalada com o crescimento da candidatura de Marina Silva (PSB) à Presidência após a morte de Eduardo Campos.
Justiça Eleitoral
O bate-boca durante a disputa rendeu trabalho aos setores jurídicos das campanhas -- ambas as equipes protocolaram pedidos de direito de respostas e solicitações para a não veiculação de peças consideradas ofensivas aos seus respectivos candidatos.
Pimentel conseguiu um minuto no horário do adversário por informações sobre a construção de um porto em Cuba que o TRE-MG (Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais) considerou "inverídicas". Já Pimenta da Veiga obteve o direito de suspender inserções com ataques a sua candidatura.
Desafios
O petista Fernando Pimentel vai governar o Estado com maior número de municípios no país (853) e população estimada em mais de 20 milhões de pessoas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2014. Ele vai administrar o Estado com a terceira maior renda per capita dos quatro Estados que compõem a região Sudeste (R$1.069,91), ficando à frente apenas do Espírito Santo, também conforme dados do IBGE.
Na ferramenta de avaliação contínua dos Estados do UOL, o Esperançômetro, a maioria dos internautas de Minas Gerais espera melhora da segurança pública no Estado. Sobre a questão, o petista registrou em seu programa intenções de tornar os dados sobre violência e performance da segurança "públicos e transparentes", além de "implementar políticas de prevenção" à violência. Entre suas estratégias estaria o aumento de contingente das corporações de segurança pública e dos aparatos tecnológicos. O documento ainda cita a necessidade de integração entre as polícias e a criação de políticas públicas que tratem dos "efeitos do tráfico, notadamente o crack".
Raio-X das Eleições