Aécio irá ao 2º turno se "falar com pessoas", diz governador tucano do NE
Carlos Madeiro
Do UOL, em Maceió
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Divulgação/Assessoria de imprensa
Teotonio Vilela Filho (PSDB), governador de Alagoas, concede entrevista ao UOL
Ex-presidente do PSDB por cinco anos, entre 1996 e 2001, Teotonio Vilela Filho (PSDB), 63, é o único governador tucano de um Estado do Nordeste --Alagoas--, e funciona como uma espécie de conselheiro do partido na região.
Diz que conversa sempre com Aécio Neves --candidato do partido à Presidência da República--, e participa das reuniões da cúpula partidária.
Defende que é preciso mudar a "forma do discurso" e que o candidato precisa "falar com as pessoas" para chegar ao segundo turno da eleição presidencial.
Em entrevista ao UOL concedida na sexta-feira (5), Vilela também fez críticas ao PSDB por ter "escondido" Fernando Henrique Cardoso nas últimas eleições à presidência. "Foi um erro"
Afirma ainda que os tucanos "não sabem fazer marketing" de suas ações nos governos federal e estaduais.
Em Alagoas, o PSDB não conseguiu sustentar a candidatura do ex-procurador-geral de Justiça Eduardo Tavares --que renunciou em julho--. e acabou lançando às pressas o jornalista Júlio Cezar para a disputa, mas que não chega a 3% nas intenções de voto nas pesquisas eleitorais.
Os dois principais candidatos na disputa pelo comando de Alagoas --Renan Calheiros Filho (PMDB) e Benedito de Lira (PP)--, são hoje oposição ao governo tucano. "Iríamos ganhar a eleição com Tavares", lamenta.
Sem candidato ao Senado em Alagoas, diz que vai dar apoio a um dos nomes "em breve" e adianta que, fora da escolha, só Fernando Collor (PTB) --principal desafeto do tucano político no Estado.
Veja os principais assuntos discutidos na entrevista:
PSDB não sabe ser "marqueteiro"
"O PSDB peca não ser um bom 'marqueteiro', não consegue vender muito bem os seus feitos. O PSDB não entrega a alma ao diabo para atingir seus objetivos, mas o partido tem belíssimos quadros. José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves: todos são preparadíssimos para ser presidente. A eleição tem uma componente da emoção, da expectativa, do momento, o PSDB não encaixou, mas eu ainda acredito, não está fácil, mas é possível dar a volta de cima."
Aécio precisa "conversar mais com as pessoas"
"Conversar com as pessoas, está faltando isso. Já falei ao Aécio: ele precisa conversar mais com as pessoas, passar o que é o sentimento dele, mas ele não está conseguindo passar que é sócio nos problemas das pessoas, dizer que ele é candidato por isso, para ajudar a resolver. Aécio tem propostas para cada Estado do Brasil. Se ele conversar com as pessoas, vão perceber que ele e é o mais preparado, precisa falar pela televisão."
Discurso deve ser mais fácil de entender
"[Aécio] precisa mudar a forma, não o discurso, que é bom, correto, mas precisa ser mais decodificado, de mais fácil entendimento das pessoas. Não que seja elitista, mas ele tem o discurso do político gestor, e é preciso decodificar, olhar nos olhos das pessoas. Se as pessoas verem o Aécio como eu vejo, entenderem o trabalho que ele fez em Minas Gerais, a identificação será muito maior."
Esconder FHC foi um erro
"Eu pessoalmente acho que foi um erro, mas respeito o argumento deles à época [em 2002] acharam melhor colocar uma proposta que simbolizasse o novo. Acho que foi um erro, acho que o FHC fez um governo que precisaria ser mostrado. Mas como disse, cada eleição tem sua circunstâncias e peculiaridades. O PSDB tem projeto, discurso, consistência, programa, aliados, experiencia, currículo. O Aécio tem isso tudo."
Marina Silva e o seu "feitiço"
Tem coisas que não tem uma explicação lógica. A política tem circunstâncias que envolvem o imponderável. Você pega uma Marina [Silva. presidenciável do PSB] com a história dela belíssima, aí entra a predestinação que áurea dela demanda, cria uma mística e causa uma revolução eleitoral. Mas ela não consistência, embora seja uma pessoa do bem, séria, bem intencionada, mas não tem discurso convicto --tanto que muda, volta atrás. Ela tem programa feito em cima das pernas, não tem partido --é partido tipo bariga de aluguel--, não tem equipe. É difícil, mas tem um discurso que agrada, feito por uma mulher íntegra, que representa uma política nova, diferente, fora dessa dicotomia PT-PSDB. Tem todo um feitiço, no bom sentindo, que encanta."
PSDB partido das elites?
"Isso de PT ser dos pobres e PSDB dos ricos é marketing do PT. Nenhuma política pública nesse país ajudou mais os pobres que a estabilidade da inflação. A própria extensão das políticas sociais só foram possíveis por isso. E o Bolsa Família surgiu com o PSDB, com o Bolsa Escola."
Apoio a Marina em um eventual 2º turno
"Quando chegar ao segundo turno eu te digo [se devemos apoiar Marina ou não]. Trabalho muito para que o Aécio vá, e confio que ele esteja lá."
Força de Dilma no Nordeste
"Dilma [Rousseff, presidente da República e candidata do PT à reeleição] é muito forte nos Estados pobres, por conta do Bolsa Família, do Minha Casa, do marketing do PT --que espalha que [o PSDB] vai acabar com o Bolsa Família. Então, a candidatura não está bem como um todo, um mais, outros menos. O Aécio tem ido a alguns Estados. Mas ainda está faltando um trabalho, que vamos divulgar aqui, do compromisso dele com o Nordeste. Ele fez um programa específico, o 'Nordeste mais forte', especificando ações para cada Estado. Alagoas tem compromissos, por exemplo, como a dívida do estado, que nenhum candidato tem. Pergunta a Dilma o que ela tem para cá? É preciso mostrar melhor.
Disputa ao Senado em Alagoas
"Eu vou ter um candidato daqui a mais uns dias, estou observando o processo. No momento certo divulgarei o meu candidato."
Dedicação à família após sair do governo
"[Vou] trabalhar em política sempre, que está na minha natureza, desde criança acompanhava meu pai [o ex-senador Teotonio Vilela], gosto muito e vou participar. Mandato eletivo, se em 2018 me der muita vontade muita saudade, e o povo lembrar, eu poderei até disputar um cargo eletivo. O tempo vai dizer, o que fazer não falta. 2015 é minha família, que tem reclamado muito."
Porquê não fez sucessor em Alagoas
"Faltou o candidato que lançamos persistir. O nome foi escolhido [Eduardo Tavares], um gesto ousado, inovador, porque representava o novo, o diferente na política, uma mudança de patamar, de paradigma, uma vez que ele não pertencia a partidos, grupos ou facções partidárias. É um homem de uma biografia muito bonita. Eu tinha certeza que ele ganharia essa eleição, infelizmente ele desistiu e isso demorou muito o desdobramento do processo. O meu partido tem um agora candidato para mostrar os feitos do PSDB e deixar claro que é possível continuar se houver vontade política."