Sem maioria nas Câmaras, prefeitos eleitos em 19 capitais negociam apoio de outros partidos

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

Em 19 das 26 capitais brasileiras, os prefeitos eleitos não têm maioria garantida nas Câmaras Municipais e precisarão negociar o apoio de partidos que não seguem uma orientação fechada de alianças, como PSD, PSB, PP, PTB, PR e PV.

RAIO-X: VEJA COMO FICOU A COMPOSIÇÃO DA CÂMARA NA SUA CIDADE

Os mandatários eleitos terão maioria garantida apenas no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Goiânia, Aracaju e Rio Branco. Nas demais capitais, eles terão que negociar para atrair outros partidos e consolidar uma base de apoio majoritária.

"As negociações incluem nomeações, cargos, pedaços do orçamento para emendas parlamentares, entre outras coisas. A presidente Dilma [Rousseff] fez isso com dez partidos para articular sua coalizão. O Lula teve que fazer, e o FHC, também", afirma o cientista político David Fleischer, professor da UnB (Universidade de Brasília).

Para Claudio Couto, cientista político e professor da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas), o chamado "presidencialismo de coalizão" em vigor no Brasil, que impele o presidente a ceder cargos a partidos em prol da governabilidade, replica-se também em nível estadual e municipal.

"Isso acontece nos três níveis. Nos partidos menos ideológicos, como o PMDB, PP, PSD, PR, PTB, PSC e PV, a tendência é sempre apoiar qualquer governo, desde que inclua oferta de cargos em secretarias e boa vontade do Executivo na liberação de verbas orçamentárias", afirma.

Haddad e Kassab

Em São Paulo, Fernando Haddad (PT) tem apoio garantido em 16 das 55 cadeiras da câmara, ocupadas por PSB (3), PCdoB (1), PP (1), além do próprio PT (11). A tendência é que os quatro parlamentares eleitos pelo PMDB se juntem ao grupo capitaneado pelo PT, assim como um vereador do PHS que apoio Haddad no segundo turno, totalizando 21 cadeiras.

O prefeito eleito já sinalizou que irá buscar apoio de partidos que integram a base de sustentação de Dilma, inclusive os que não integraram sua coligação, ou que apoiaram outros candidatos, como o PTB, PR, PRB e o PSD, que, em nível nacional, busca aproximação com a base do governo.

Para obter maioria na Casa, basta que Haddad atraia os sete vereadores do PSD de Gilberto Kassab, que ao longo da campanha foi duramente criticado pelo candidato petista. Os petistas ainda poderão negociar individualmente com parlamentares de PPS e PV.

"Em São Paulo o certo é a oposição do PSDB. O resto é negociável. O PT foi oposição ao Kassab, mas o PSD pode ter um lugar no governo e mudar de lado", afirma Couto. Segundo o cientista político, Haddad pode enfrentar dificuldades para fazer a articulação política com outros partidos em razão da falta de experiência, mas pode delegar a tarefa para figuras do PT mais escoladas nessa tarefa.

Para Fleischer, Haddad terá também que satisfazer os próprios petistas, organizados em várias tendências. "O problema dele é dentro do próprio partido, também. A briga é entre os militantes do PT para ver quem fica com o cargo mais importante."

2014 no horizonte

O professor da UnB avalia que Haddad ainda terá que lidar com o peso do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que visa a reeleição em 2014 e pode usar a estratégia de negociar cargos para manter a base dos tucanos e evitar novos apoios ao candidato do PT. "Isso já ficou evidente. E vai acontecer em outros Estados onde o governador perdeu."

RAIO-X: PMDB AINDA DETÉM MAIOR NÚMERO DE PREFEITURAS

Fleischer cita o exemplo de Curitiba, onde Gustavo Fruet (PDT) tem garantidos apenas oito dos 38 vereadores eleitos integram a coligação que o elegeu. Desde o primeiro turno, o pedetista é apoiado pelo PT, que em 2014 deve escolher a ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann para disputar o governo com o atual governador Beto Richa (PSDB).

Já em Salvador, ACM Neto (DEM) pode contar, por ora, com o apoio de apenas 14 vereadores de sua coligação, de um universo de 43 parlamentares.

Em Fortaleza, a situação do prefeito eleito, Roberto Claudio (PSB), é menos desfavorável, já que sua coligação obteve 20 cadeiras, contra 23 de partidos rivais. A oposição na capital cearense será marcada pelo ecletismo, com vereadores do PT, PSDB, DEM e PSOL.

Para Fleischer, a tendência é que, mesmo com um cenário desfavorável, a maior parte dos prefeitos eleitos consiga articular uma coalizão de apoio. "Usualmente os prefeitos conseguem uma base de apoio. Eles têm muitas coisas boas para distribuir."

"Qualquer prefeito que se negue a fazer negociações de caráter, ainda que minimamente fisiológico, não consegue governar. Dá para impor certos limites, fiscalizar, não negociar cargos estratégicos, mas algum tipo de concessão vai ter de ser feito", acrescenta Cláudio Couto.

UOL Cursos Online

Todos os cursos