Derrotado em Curitiba e Londrina, Richa diz que fez "planejamento correto"; analistas falam em "dura derrota"

Rafael Moro Martins e Janaina Garcia

Do UOL, em Curitiba

O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), minimizou a derrota de seus candidatos nas dois maiores colégios eleitorais do Estado, Curitiba e Londrina, na noite desse domingo (28), por meio de uma nota distribuída por sua assessoria de imprensa.

Segundo o texto, o tucano --que embarcou em viagem oficial de 12 dias para a China ainda no domingo --disse acreditar que "as urnas confirmam que o nosso planejamento para as eleições municipais foi correto".

A assessoria de Richa afirma que o grupo do governador venceu as eleições em nove das dez maiores cidades do Estado, entre elas Londrina, Cascavel e Colombo. Em Londrina, porém, o candidato apoiado por ele, Marcelo Belinati (PP), perdeu a eleição para Alexandre Kireeff (PSD). Pela eleição de Belinati, Richa gravou depoimentos para o programa de TV e fez campanha com o aliado perante o eleitor londrinense.

Embora, no Paraná, o PSD seja aliado do governo do Estado, é dada como certa a adesão da legenda à base de apoio da presidente Dilma Rousseff (PT) --antes de José Serra (PSDB) decidir se candidatar à Prefeitura de São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab, mentor do PSD, ensaiou apoiar Fernando Haddad (PT), eleito neste domingo.

Em Cascavel, Richa diz ver uma vitória de aliado pelo fato de o vice-prefeito eleito, Maurício Querino, ser do PSDB. O prefeito eleito, Edgar Bueno, porém, é do PDT, mesmo partido em que está agora o ex-aliado de Richa Gustavo Fruet, que chegou à Prefeitura de Curitiba apoiado por uma aliança costurada pelo casal de ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

Após o término da apuração, ontem, o casal de petistas manifestou o desejo de manter a aliança para as eleições estaduais de 2014 --em que Gleisi é especulada como desafiante de Richa, que buscará a reeleição. Já Dilma classificou Fruet como "parceiro importante" no Paraná.

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Derrota de aliado e críticas internas

Em Curitiba, Richa apostou na reeleição do prefeito Luciano Ducci (PSB), que fora seu vice durante seus mandatos à frente da prefeitura, entre 2004 e 2010. Para isso, vetou a candidatura de Fruet pelo PSDB --o que levou o agora futuro prefeito a buscar o PDT e o apoio do PT para concorrer. Mas Ducci parou no primeiro turno: foi superado pelo pedetista por 4.402 votos e apenas assistiu à decisão entre o ex-aliado e Ratinho Júnior (PSC), que também é da base de apoio de Dilma. Além disso, foi o único entre os prefeitos das capitais a perder a eleição já no primeiro turno.

A derrota em Curitiba foi classificada pelo senador Alvaro Dias, desafeto de Richa no PSDB paranaense, como "castigo merecido" para o partido, logo após o primeiro turno. Para ele, a legenda encolheu graças à decisão do governador de apoiar partidos aliados nas maiores cidades do Paraná, em vez de optar por candidaturas próprias.

Em Colombo, cidade da região metropolitana de Curitiba, a candidatura da tucana Beti Pavin foi cassada pela Lei da Ficha Limpa. O caso já chegou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), onde o ministro Marco Aurélio Mello manteve a cassação. Agora, aguarda-se o julgamento na última instância, o pleno do TSE.

Entrevistado pelo programa "Canal Livre", da TV Bandeirantes, ontem à noite, o secretário estadual de Minas e Energia de São Paulo, José Anibal, criticou o "caudilhismo" do PSDB do Paraná, "que nos custou Gustavo Fruet".

Relação republicana

No material intitulado "Richa comemora resultado das eleições no Paraná", a assessoria do governador afirma que "os partidos que formam a base de apoio do governo na Assembleia Legislativa elegeram cerca de 75% dos 399 novos prefeitos do Paraná".

Ainda conforme o texto, os partidos aliados ganharam as eleições em nove das dez maiores cidades do Estado, ou seja, em municípios que representam quase 30% da população paranaense.

"Estabelecemos uma estratégia eleitoral que tinha como linha dorsal um projeto aliancista, a fim de fortalecer todos os partidos da base governista, e não apenas a ou b", explicou Richa, no material de divulgação. "O propósito era prestigiar todos os aliados, sem favorecimentos e sem discriminações. E fomos vitoriosos", definiu.

No material, o governador também afirma que, tão logo retorne de viagem, irá procurar os prefeitos reeleitos e que terá uma "relação republicana com todos, independente de partidos ou correntes políticas".

Resultado em Curitiba é "dura derrota" a Richa, dizem analistas

Para o cientista político Ricardo Oliveira, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), a opção de Richa na eleição curitibana e a vitória de Fruet podem impactar a campanha do tucano para 2014.

"Confirmada a vitória de Fruet, há aí uma dura derrota para o governador --ele não só perde um aliado do PSDB agora, como fica ameaçado para daqui dois anos, período que certamente será de intensa mobilização política no Estado", considerou Oliveira, que completou: "A campanha deste ano é uma prévia do debate de 2014, e, em todo o país, tanto PSDB quanto PT movimentaram suas peças no tabuleiro pensando na próxima eleição. No Paraná, sem dúvida quem saem fortalecidos também são o ex-senador Osmar Dias e seu partido [PDT, de Fruet]."

Ainda assim, a aposta do analista é que a aliança PDT-PT se repita no Paraná na eleição estadual, mas com Dias para o Senado.

Também da UFPR, o cientista político Emerson Cervi também analisou aspecto de derrota de Richa com a vitória de Fruet , ônus que ele vê repartido também, contudo, entre o senador Roberto Requião e o ex-prefeito Rafael Greca. Ambos declararam apoio a Ratinho Júnior no segundo turno.

"Até 2014, há uma possibilidade agora de fortalecimento dos grupos de oposição tanto a Richa quanto a Requião, mas desde que o eleito em Curitiba, claro, faça uma boa administração", afirmou o analista. "Porque uma coisa é o político apadrinhar ou ser apadrinhado; outra, é achar que isso terá o efeito esperado no eleitor. E em Curitiba isso ficou claro --o eleitor demonstrou certa autonomia quanto a isso", concluiu.

Mais cedo, ao votar, Richa disse que manteria uma relação sem "picuinhas políticas ou retaliações" em relação ao prefeito eleito, mas afirmou ser "grande a expectativa dos curitibanos" em relação ao cumprimento das promessas feitas na campanha.

 

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