Como em 2008, Belo Horizonte pode ter novamente vídeos que mudam cenário eleitoral na reta final

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

Na reta final do primeiro turno em Belo Horizonte, dois vídeos foram usados de maneira distinta na campanha eleitoral do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), que tenta a reeleição, e de Patrus Ananias (PT). Especialistas ouvidos pelo UOL dizem que os materiais podem causar mudanças no cenário atual da eleição na capital mineira, a exemplo do que ocorrem em 2008, quando peças foram usadas contra o candidato Leonardo Quintão (PMDB), derrotado nas urnas por Lacerda.  

Na eleição atual, um dos vídeos foi veiculado na propaganda eleitoral na televisão destinada aos vereadores do PT e do PMDB, na última quinta-feira (4), contendo críticas contundentes ao prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), feitas pelo deputado Délio Malheiros (PV), atual candidato a vice-prefeito na chapa do socialista.

As imagens, que estavam restritas às redes sociais, mostram Malheiros dando uma entrevista cinco dias antes de aceitar ser o vice na chapa de Lacerda. Nela, Malheiros acusa Lacerda de se apoderar da máquina pública e afirma que estaria ao lado de quem se opor socialista. Malheiros, entretanto, mudou de ideia após o PT romper com o PSB e aceitou ser vice na chapa do socialista. A Justiça Eleitoral proibiu o PT de reexibir o vídeo no horário eleitoral da noite de quinta,

Segundo o cientista político Malco Braga Camargos, professor da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), o vídeo poderá influenciar no eleitorado. “A veiculação no horário eleitoral gratuito, com as declarações muito fortes, podem de fato ter algum impacto no resultado eleitoral” afirmou.

Conforme o especialista, não há como mensurar os efeitos que o vídeo pode causar na performance de Lacerda, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto feitas até o momento, com chances reais de ser reeleito ainda no primeiro turno.

“O conteúdo do vídeo, de fato, é muito significativo. As declarações são fortes. Não sei se isso vai tirar votos do Lacerda. Acho que a eleição em Belo Horizonte ainda está indefinida e o vídeo pode ajudar ainda mais essa indefinição”, opinou.

Para o cientista político Bruno Reis, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), as imagens possivelmente já produziram um impacto no eleitorado na reta final da primeira etapa da eleição na cidade, mesmo que isso tenha sido de maneira "residual" e não interfira no resultado da eleição.

“Os coordenadores da campanha de Patrus Ananias estavam preocupados com a imobilidade dele nas pesquisas. (...) Coincidência ou não, na terça-feira a pesquisa do Ibope mostrou uma queda em uma semana na diferença entre os candidatos”, afirmou.
Na pesquisa atual do Ibope, Lacerda oscilou de 47% para 44%, e Patrus Ananias subiu de 30% para 35%.

A última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira (4), mostra que o candidato socialista tem 45% das intenções – ou 54% dos votos válidos, percentual que o reelegeria no primeiro turno-- contra 34% de Patrus. Para Bruno Reis, entretanto, o efeito das imagens no eleitor também deverá ser "residual".

Lacerda usa discurso de Dilma

Em resposta ao uso do vídeo de Malheiros, a campanha de Marcio Lacerda veiculou nas inserções (comerciais introduzidos na programação das emissoras) ao longo da última quinta um vídeo no qual a presidente Dilma Rousseff faz elogios à sua administração e à sua perfomance como prefeito. A Justiça Eleitoral também proibiu o PSB de usar a peça no programa eleitoral, mas a decisão não foi tomada a tempo de impedir as inserções.

Para Malco Braga, a intenção dos coordenadores foi tentar minimizar a presença da presidente, que esteve em Belo Horizonte na última quarta-feira (3) para participar de um evento de apoio a Patrus, e procurar neutralizar os efeitos do apoio presencial de Dilma, que até então tinha apenas participado do material de campanha de Patrus e na propaganda eleitoral.

Bruno Reis concorda com o colega e afirma que a campanha do socialista precisava apresentar ao seu eleitorado um contraponto ao apoio dado pela presidente ao candidato petista.

"Foi a ‘vacina’ encontrada por eles. A função das campanhas é essa. Como dizem os americanos, as campanhas têm de disputar a narrativa da eleição. Você não pode deixar o seu adversário trazer uma presidente que tem popularidade alta, tem prestígio e não fazer nada. Você tem que oferecer ao seu simpatizante uma desconstrução daquilo e, ao mesmo tempo, um argumento", disse.

Vídeos ajudaram Lacerda em 2008

Na eleição de 2008, quando Lacerda se elegeu pela primeira vez para comandar a capital mineira, dois vídeos utilizados pela campanha do socialista contra o então adversário do segundo turno, o deputado federal peemedebista Leonardo Quintão, fizeram com que ele definhasse no pleito.

Em um deles, Quintão aparecia em uma gravação afirmando que daria um “chute na bunda” dos adversários. No outro, o humorista Tom Cavalcante satirizava o candidato e o linguajar caipira adotado pelo peemedebista na campanha.

O vídeo de Cavalcante ficou restrito às redes sociais. Já o vídeo de Quintão foi veiculado na propaganda de Lacerda.

Mais informações sobre as eleições em Belo Horizonte.

UOL Cursos Online

Todos os cursos