Suspeitas contra Demóstenes e deputados embolam disputa pela Prefeitura de Goiânia

Rafhael Borges

Do UOL, em Goiânia

O envolvimento de três pré-candidatos à Prefeitura de Goiânia --o senador Demóstenes Torres (sem partido) e os deputados federais Sandes Júnior (PP) e Jovair Arantes (PTB)--  com empresário Carlinhos Cachoeira, preso por suspeita de corrupção, embolou a disputa pela cadeira de prefeito na capital de Goiás.

Demóstenes era um dos principais nomes à corrida eleitoral e aparecia em todas as sondagens à frente dos oponentes, às vezes, com ampla vantagem. Sandes Junior e Arantes não tinham o mesmo desempenho nas pesquisas, mas eram tidos como fortes adversários do senador.

O senador era membro do DEM até a última terça-feira (3). Pediu a desfiliação para evitar a expulsão da sigla depois que conversas gravadas pela Polícia Federal entre ele e Cachoeira vazaram. Nos diálogos, o parlamentar deixou claro que por diversas vezes agiu para favorecer o empresário.

O vice-governador de Goiás, José Eliton (DEM), diz que os reflexos do escândalo que envolveu o principal nome do partido no Estado serão inevitáveis. “Nenhum dos membros do partido está acima dele. Temos noção clara da falta que a figura do Demóstenes Torres vai fazer”, afirma.

No entanto, não é de hoje que o DEM em Goiás passa por um processo de desidratação. A criação do PSD no Estado, ano passado, tirou da sigla dois prefeitos de cidades importantes.

Juraci Martins, de Rio Verde, umas das maiores economias de Goiás, era ligado ao senador. Mudou de partido e, procurado, não quis comentar o caso.

Lázaro Valdivino, de Nova Crixás (norte do Estado), engrossa o coro e já avisa que não será atingido pelas acusações que pesam sobre Demóstenes. Contudo, há quem aposte que o partido não terá a imagem arranhada.

O deputado estadual Nilo Resende (DEM) afirma que o escândalo “afetará muito pouco” os políticos da legenda. Segundo ele, cada parlamentar foi eleito por esforço próprio e “não pela estrutura do partido”.

Flagrados nas conversas gravadas pela PF, Sandes Junior e Jovair Arantes têm suas pré-candidaturas preservadas. Ambos não negam que tenham relações com Cachoeira. Sandes Junior trata o assunto como um “mal entendido”.

Jovair diz que todos em Goiás conhecem Cachoeira por ele ser um empresário de sucesso. “Sou pré-candidato a prefeito em Goiânia, então liguei para ele para pedir ajuda.”

Análise

O cientista político Pedro Célio, da Universidade Federal de Goiás, afirma que, quando aparecem fatos como os da Operação Monte Carlo --que investigou os negócios de Carlinhos Cachoeira--, um pequeno abalo já é suficiente para desestruturar e colocar fim em carreiras políticas. “A oposição deve minimizar a estridência dos discursos, assim como a capacidade de articulação com a sociedade civil”, diz.

Outros nomes

A corrida pela Prefeitura de Goiânia ainda tem o prefeito Paulo Garcia (PT). Também envolvido em denúncias com suspeita de desvio de verbas e obras paradas, como a reforma do parque Mutirama, o atual chefe do Executivo tem patinado nas pequisas de opinião.

Na última, divulgada pelo instituto Fortiori, aparece com 28,7%. Enquanto Demóstenes estava na lista, o petista ficava com apenas 10%.

Elias Vaz (PSOL), Leonardo Vilela (PSDB), candidato do governador Marconi Perillo (PSDB), que também teria relações com Cachoeira, o deputado federal Armando Vergílio (PSD-GO) e o deputado estadual Francisco Júnior (PSD) completam a lista dos pré-candidatos.

Vaz aparece em segundo lugar na intenção de votos dos goianienses com 13%, segundo o instituto Fortiori. O parlamentar foi um dos principais delatores de possíveis fraudes na prefeitura. Na semana passada, foi veiculado que ele teria agido a mando de Carlinhos Cachoeira.

“Fui caluniado. Tive prejuízo. Tenho convicção de que nada será provado contra mim”, afirma. Vaz diz que conhece o empresário, mas nega que tenha relacionamento com ele. “O que estão fazendo é desconstruir as denúncias que eu fiz”.

O DEM não elegeu vereadores em Goiânia.

Anápolis

Na terceira maior cidade do Estado, Anápolis, o atual prefeito, Antônio Gomide (PT), que é irmão do deputado federal Rubens Otoni (PT), deve ser outro atingido pela avalanche de denúncias.

Otoni apareceu em um vídeo no qual discute valores com Cachoeira, que insinua que sempre ajuda o parlamentar nas campanhas. Ele alega que o vídeo é uma armação. O parlamentar já responde no conselho de ética da Câmara dos Deputados.

Definição do futuro de Demóstenes: as escolhas

OPÇÕES PRÓ CONTRA
Renunciar ao mandato Sai do foco político, o que pode aliviar as enxurrada de denúncias contra ele Pode ficar inelegível até 2027 por conta da Lei da Ficha Limpa, perde o foro privilegiado no STF e passa a responder criminalmente na Justiça de Goiás
Perder o mandato por infidelidade partidária Sai do foco político, mas mantém a imagem de ter lutado por seu cargo até o final. Neste caso, não é enquadrado na Lei da Ficha Limpa, com isso, pode ser eleito já em 2014 Perde o foro privilegiado no STF e passa a responder criminalmente na Justiça de Goiás. O Senado, porém, pode decidir continuar o processo de cassação de mandato por quebra de decoro parlamentar. Seria algo incomum, mas não inédito
Licenciar-se do mandato Sai do foco político por 120 dias, mantém o foro privilegiado e espera que as denúncias esfriem com a aproximação das eleições municipais Continua respondendo processo no Conselho de Ética do Senado e, se cassado, pode ficar inelegível até 2027
Responder ao processo no Conselho de Ética do Senado Mantém a imagem de que lutou pelo cargo e, mesmo que condenado no conselho, ainda pode escapar da cassação no plenário do Senado, onde a votação é secreta Continua no foco político e, se condenado, pode ficar inelegível até 2027 por conta da Lei da Ficha Limpa
Renunciar e assumir o cargo de procurador de Justiça de Goiás Sai do foco político e, mesmo perdendo o foro privilegiado no STF, passaria a responder às denúncias no Tribunal de Justiça de Goiás, foro mais qualificado que a Justiça comum Pode ficar inelegível até 2027 por conta da Lei da Ficha Limpa
  • Fonte: "Folha de S.Paulo" e "Blog do Fernando Rodrigues"

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