Número ainda é tímido, mas carros chineses chegam cada vez mais ao Brasil

Da Auto Press

Os orientais são conhecidos pela paciência e até mesmo Mao Tsé-Tung, líder da Revolução Cultural na China, disse certa vez que "O urgente geralmente atenta contra o necessário". A estratégia das marcas de automóveis conterrâneas do Grande Timoneiro no mercado brasileiro parece seguir à risca esta percepção de tempo. O número de representantes vem aumentando nos últimos tempos. Em 2007, apenas um fabricante chinês se aventurava por aqui. Hoje, já são quatro as marcas estabelecidas no Brasil. Até o fim do ano, outras três devem chegar. Um interesse muito maior que o ainda tímido volume das montadoras chinesas no país. "As marcas ainda não existem para o consumidor brasileiro, mas elas nem parecem preocupadas com isso. O tempo para eles tem uma dimensão bem diferente", acredita Luiz Carlos Mello, consultor do CEA (Centro de Estudos Automotivos).

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    Acima, a station J6, da JAC: marca que chega no Salão do Automóvel de SP (outubro)
    promete boa qualidade e design diferenciado para vender 30 mil carros já em 2011

Em 2007, a solitária e estreante Chana teve 143 unidades emplacadas. Com isso, as marcas chinesas respondiam naquele ano a 0,006% do mercado total de veículos de passeio e comerciais leves. Depois disso vieram Effa Motors, CN Auto -- com modelos da Hafei e da Jinbei -- e a Chery. No ano passado, as quatro entregaram 3.243 unidades. A soma pode parecer pífia: 0,1%. Mas, numa lógica oriental, significa um aumento de mais de 2.000%. E que, inclusive, anima outras marcas a desembarcarem por aqui. Este ano vão estrear no Brasil a JAC -- pelo grupo empresarial SHC, de Sergio Habib, ex-presidente da Citroën --, a BYD -- talvez via Caoa, importador oficial da Hyundai e da Subaru -- e Great Wall -- também pela CN Auto.

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    Acima, um dos três modelos (hatch/crossover, SUV e picape) que a Great Wall colocará no país

"Por enquanto, o volume é pequeno e ainda não incomoda o mercado. Mas, na medida que o volume crescer, acho que vai forçar o mercado a repensar estratégias", acredita Humberto Gandolpho Filho, diretor comercial da CN Auto.

O percurso, porém, ainda é longo para todas as montadoras chinesas. E todas têm consciência disso. "Estabelecemos metas conforme o mercado, ano a ano. Não podemos entrar na euforia sem mais nem menos", reconhece Mohsin Ibraimo, diretor executivo da Districar, importadora da Chana. Além disso, ainda há o obstáculo da desconfiança do consumidor com relação à qualidade construtiva dos carros feitos na China. Para tal, as marcas confiam não só no boca-a-boca dos consumidores, mas também na repercussão de exemplos como o da Geely, que acaba de comprar a Volvo. "Absorvem não só a marca, como também os engenheiros e a tecnologia", repara Ibraimo.

 

  • Murilo Góes/UOL

    O utilitário esportivo Chery Tiggo tem bom padrão de acabamento e projeto de chassis inglês

JAPONESES, COREANOS...
Os exemplos dos estereótipos superados por outras montadoras orientais também deixam os representantes dos fabricantes chineses mais animados com o futuro. Nos anos 70 e 80 os mesmos questionamentos sobre qualidade recaíam sobre as marcas japonesas. Com as sul-coreanas o mesmo fenômeno ocorreu nos anos 90. "A desconfiança já diminuiu muito. Os chineses rapidamente chegarão ao nível dos coreanos em dois, três anos", aposta Clairto Acciarto, diretor comercial da Effa Motors. "Hoje os sul-coreanos são reconhecidos por seu design e qualidade técnica pelo consumidor brasileiro em geral. As marcas chinesas ainda estão em sua fase inicial, de montagem de infraestrutura no Brasil", diz José Luiz Gandini, presidente da Kia Motors e da Abeiva, entidade que reúne as importadoras de automóveis no Brasil.

  • Eugênio Augusto Brito/UOL

    A 'dogueira' Towner fez seu retorno em 2008, com boa jogada de marketing da CN Auto

Mas as marcas também fazem por onde para tentar reverter esta ideia de má qualidade, em especial, com o aumento explosivo da rede de revenda. Só a Effa, que conseguiu diminuir o índice de reclamações sobre o acabamento dos carros da marca em quase 90% (dados da própria montadora), deve pular este ano de 42 para 90. E três representantes da matriz vão passar os próximos três anos no Brasil acompanhando o mercado e a filial. Além disso, na CN Auto, as linhas de comerciais leves importados são específicas para o mercado brasileiro. O intercâmbio é similar em praticamente todas as marcas estabelecidas no mercado brasileiro. Além disso, todas já estudam o desenvolvimento de versões flex para os carros vendidos aqui. "Os chineses serão uma realidade aqui como no restante do mundo", afirma Gandini. 

CHINESES E IMPORTADOS EM GERAL

As montadoras chinesas Hafei e Jinbei adquiriram os direitos de produção da Towner e da Topic, que eram feitos pela montadora sul-coreana Asia, comprada pela Kia.
O processo para estabelecimento da filial da CN Auto no Brasil até a abertura da primeira revenda da empresa levou oito meses
A importação de um modelo chinês pode levar até 120 dias a partir da encomenda.
Os automóveis importados pagam imposto de 35%, exceto os veículos vindos do Mercosul ou do México.

RITMO INDUSTRIAL
Paciência oriental não significa demora. Todas as marcas chinesas que operam no Brasil ou já possuem alguma fábrica no país ou, no mínimo, estudam erguer unidades no Mercosul. O Chery Tiggo, vendido desde o ano passado, vem do Uruguai, onde é montado em CKD. A Effa Motors tem unidades no país vizinho e em Manaus, ainda em construção. CN Auto e Chana estudam fábricas para montagem em CKD a médio prazo. Tudo, é claro, depende das vendas.

"Existe um estudo por parte das montadoras que está atrelado ao volume. Quando atingir um volume no Brasil e nos mercados sul-americanos, há grandes chances de surgirem fábricas", reconhece Gandolpho Filho, da CN Auto.

Até lá, porém, novos modelos vão surgir. A Chery começa a importar ainda este ano o subcompacto QQ, o compacto Face e o hatch médio Cielo para o Brasil -- que se chamam A1 e A3, respectivamente, lá fora. A CN Auto desenvolve versões picape e chassi-cabine para a Topic. E a Effa vai trazer uma picape cabine dupla a diesel e dois caminhões de 2,3 toneladas para brigar com Kia Bongo e Hyundai HR. "Trabalhamos carros de baixo valor agregado e que precisam de volume para o concessionário ter margem. Mas vamos trazer produtos com maior valor", avisa Acciarto, da Effa Motors. (por Fernando Miragaya)

As marcas chinesas em atividade no Brasil, hoje:

Chana
Produtos: a van Family, o furgão Utility e a pick-up Cargo
Unidades vendidas em 2009: 477.
Número de revendas em 2009: 19.
Número de revendas estimado para 2010: 29.

Chery
Produtos: o SUV compacto Tiggo.
Unidades vendidas em 2009: 497.
Número de revendas em 2009: 28.
Número de revendas estimado para 2010: 53.

CN Auto
Produtos: Linha Towner (van, furgão, picape e baú). Linha Topic (van e furgão).
Unidades vendidas em 2009: 2.500.
Número de revendas em 2009: 34.
Número de revendas estimado para 2010: 60.

Effa Motors
Produtos: hatch compacto M100 e linha de comerciais leves com furgão, van e picape.
Unidades vendidas em 2009: 974.
Número de revendas em 2009: 42.
Número de revendas estimado para 2010: 90.

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