Setor automotivo comemora ano de eleições, Copa e 'mãozinha' do governo
Da Auto Press
O ano de 2010 promete uma combinação tão positiva que nem mesmo um setor tão cético quanto o automotivo consegue esconder o otimismo. Depois de 2009 passar "assobiando" pela crise financeira global iniciada em setembro de 2008, o mercado ainda contabiliza, em 2010, o desconto do IPI até março, as eleições e a Copa do Mundo, eventos sempre favoráveis ao consumo.
Por essa razão, a própria Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), durante sua última entrevista no início de dezembro, já revia alguns números. A entidade acredita que 2010 pode fechar com 3,40 milhões de unidades vendidas, 9% a mais que as estimadas 3,11 milhões de 2009.
Afonso Carlos/Carta Z Notícias
Muito dessa euforia se concentra principalmente nos três primeiros meses do ano que vem. É durante eles que está mantido o desconto para o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os modelos com motores flex até 2.0 litros. "Outras áreas ajudam o país e o setor automotivo, como o agrícola e o industrial. Mas o aumento do crédito com o desconto do IPI formam a combinação perfeita", reconhece Marcos de Oliveira, presidente da Ford.
Mesmo assim, alguns executivos acreditam que o mercado pode se sobressair mesmo após o fim do desconto da alíquota. "As consequências do IPI estão arrefecendo, o consumidor já se acostumou. É um motivador, mas [hoje] é um motivador menor", pondera José Carlos Pinheiro Neto, presidente da General Motors.
O cenário que vai configurar 2010 também deve servir de empurrão para o setor. Afinal, em ano de eleições a prática usual é estimular o consumo. E Copa do Mundo também costuma deixar o consumidor mais feliz e "mão aberta". Isso sem contar o Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro.
"São fatores que sempre alavancam as vendas no geral. Vamos ter outros tipos de incentivo, principalmente no quesito de facilidades para financiamentos. Contudo, o mercado já se acostuma a viver sem ajuda do governo", diz o consultor Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive. "Ano eleitoral tende a favorecer consumo. Acho difícil termos medidas antipopulares do governo. O cenário que se desenha é de incentivo ao consumo", concorda Dario Gaspar, presidente da consultoria AT Kearney.
MERCADO ACIMA
De qualquer forma, 2010 também promete um resultado inusitado. Pela primeira vez, o mercado interno pode ultrapassar a produção. Isso por conta das exportações em queda e das importações em alta. Fruto, é claro, da questão cambial e dos mercados externos mais retraídos que o brasileiro. As previsões da Anfavea apontam para produção de 3,39 milhões unidades, sendo 530 mil dirigidas à exportação -- contra as esperadas 470 mil de 2009. A participação de importados no mercado interno deve passar de 15% em 2009 para 16% em 2010. É uma elevação de 465 mil para 545 mil unidades.
No setor, existe a expectativa -- mesmo que velada -- para uma alteração de taxas cambiais e de juros. Ou seja, o mercado mais uma vez deve ter no segundo semestre uma nova "mãozinha" do governo. "Pode ser que em algum momento o governo mexa no dólar para ajudar as exportações", arrisca Domingos Boragina Neto, diretor de marketing da Citroën.
"É claro que a moeda americana a R$ 1,70 não ajuda a competitividade do produto brasileiro, mas as medidas que já foram adotadas pelo Ministério da Fazenda e discutidas pelo Banco Central sinalizam uma clara vontade do governo de alguma coisa ser feita para evitar a pressão sobre o produto nacional", afirma Jackson Schneider, presidente da Anfavea. (por Fernando Miragaya)
Por essa razão, a própria Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), durante sua última entrevista no início de dezembro, já revia alguns números. A entidade acredita que 2010 pode fechar com 3,40 milhões de unidades vendidas, 9% a mais que as estimadas 3,11 milhões de 2009.
Afonso Carlos/Carta Z Notícias
Muito dessa euforia se concentra principalmente nos três primeiros meses do ano que vem. É durante eles que está mantido o desconto para o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os modelos com motores flex até 2.0 litros. "Outras áreas ajudam o país e o setor automotivo, como o agrícola e o industrial. Mas o aumento do crédito com o desconto do IPI formam a combinação perfeita", reconhece Marcos de Oliveira, presidente da Ford.
Mesmo assim, alguns executivos acreditam que o mercado pode se sobressair mesmo após o fim do desconto da alíquota. "As consequências do IPI estão arrefecendo, o consumidor já se acostumou. É um motivador, mas [hoje] é um motivador menor", pondera José Carlos Pinheiro Neto, presidente da General Motors.
RÁPIDAS
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"São fatores que sempre alavancam as vendas no geral. Vamos ter outros tipos de incentivo, principalmente no quesito de facilidades para financiamentos. Contudo, o mercado já se acostuma a viver sem ajuda do governo", diz o consultor Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive. "Ano eleitoral tende a favorecer consumo. Acho difícil termos medidas antipopulares do governo. O cenário que se desenha é de incentivo ao consumo", concorda Dario Gaspar, presidente da consultoria AT Kearney.
MERCADO ACIMA
De qualquer forma, 2010 também promete um resultado inusitado. Pela primeira vez, o mercado interno pode ultrapassar a produção. Isso por conta das exportações em queda e das importações em alta. Fruto, é claro, da questão cambial e dos mercados externos mais retraídos que o brasileiro. As previsões da Anfavea apontam para produção de 3,39 milhões unidades, sendo 530 mil dirigidas à exportação -- contra as esperadas 470 mil de 2009. A participação de importados no mercado interno deve passar de 15% em 2009 para 16% em 2010. É uma elevação de 465 mil para 545 mil unidades.
No setor, existe a expectativa -- mesmo que velada -- para uma alteração de taxas cambiais e de juros. Ou seja, o mercado mais uma vez deve ter no segundo semestre uma nova "mãozinha" do governo. "Pode ser que em algum momento o governo mexa no dólar para ajudar as exportações", arrisca Domingos Boragina Neto, diretor de marketing da Citroën.
"É claro que a moeda americana a R$ 1,70 não ajuda a competitividade do produto brasileiro, mas as medidas que já foram adotadas pelo Ministério da Fazenda e discutidas pelo Banco Central sinalizam uma clara vontade do governo de alguma coisa ser feita para evitar a pressão sobre o produto nacional", afirma Jackson Schneider, presidente da Anfavea. (por Fernando Miragaya)
'Brasil exportador' é ameaçado pelo dólar barato
A balança comercial no setor automotivo há alguns anos tende para o lado das exportações. Com várias fábricas instaladas por aqui e preços competitivos, o Brasil se tornou uma espécie de polo exportador de veículos, principalmente para a América Latina. Mas depois da crise financeira de setembro de 2008, os mercados compradores se retraíram. |
Para completar, o dólar abaixo de R$ 2 deixou os produtos nacionais pouco competitivos. Resultado: queda de 38% no volume exportado em 2009 até novembro, na comparação com os 11 primeiros meses de 2008. "Perdemos a competitividade por conta do dólar, e essa falta da competitividade nos coloca numa situação negativa de resultado financeiro. A GM exportava para 40 países, hoje exporta para seis. Já tivemos a marca de US$ 1,6 bilhão só com exportação. Hoje, se for US$ 300 milhões já está bom", diz José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da GM. |
Mesmo assim, a Anfavea reviu suas projeções para exportações de veículos em 2010. As vendas para fora devem fechar 2010 em 530 mil unidades, aumento de 12,8% na comparação 2009. Mesmo assim, com mexidas esperadas na taxa cambial e incentivos à exportação, os veículos "made in Brazil" não terão vida fácil. |
Além de mercados ainda retraídos lá fora, muitos países podem tentar se proteger de produtos estrangeiros, pelo menos nos primeiros meses de recuperação pós-crise. "Não adianta ter produto a um preço mais baixo se ninguém tiver dinheiro. Além disso, deve ocorrer um protecionismo velado em alguns mercados", acredita Dario Gaspar, da consultoria AT Kearney. |