IPI menor para flex é animador, mas preço do etanol vai na contramão do incentivo
Da Auto Press
O governo não resistiu e livrou os carros flex da segunda retomada do IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados) até março de 2010. Como forma de proteger a própria indústria com a ameaça do dólar em baixa -- que favorece os importados movidos a gasolina --, a medida incentiva a compra de modelos flex e se baseia na ideia de que o uso de etanol ajuda na redução da emissão de poluentes.
Mas a atitude do governo esconde contradições. A principal delas é incentivar a preservação do meio ambiente com o uso de etanol enquanto o combustível está em alta no mercado. Para o professor da Fundação Getúlio Vargas, Robson Gonçalves, a medida é frágil. "O que o governo deveria fazer era tributar mais os combustíveis. Assim, o consumidor optaria pelo combustível que polui menos, por ser o mais barato", argumenta.
Outras resoluções são ainda estudadas pelas autoridades, como o uso de selos que classifiquem o carro pela economia de combustível e outro que destaca os carros compactos e menos poluentes. Desta forma, a alíquota do IPI variaria de acordo com a eficiência do veículo. E funcionaria como acontece atualmente com a chamada "linha branca" de eletrodomésticos, classificada de acordo com a eficiência energética. Só que, com o país em um período pós-crise, muitos analistas acreditam que a preocupação dos governantes se dá mais por conta da economia do que por uma questão ambiental. "Pode até ser que o governo tenha pensado no meio ambiente, mas a médio e longo prazo. O objetivo nesse momento é a indústria, que não pode parar", acredita o economista Alexandre Andrade, da Consultoria Tendências.
Para os fabricantes, é claro, a prorrogação do IPI até março de 2010 serviu como uma injeção de ânimo para a indústria, que já em novembro sentiu o recuo de 15,23% nos emplacamentos de automóveis e comerciais leves. Segundo a Fenabrave (Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores), foram 238.504 unidades comercializadas em novembro contra 281.342 unidades em outubro. E os picos em volume de vendas ocorreram justamente a cada período que o IPI era "simbolicamente" finalizado. "As altas aconteceram em março, junho e setembro. Essa nova prorrogação traz novas perspectivas para 2010 e um incentivo extra para a recuperação do mercado", analisa Tai Kawasaky, vice-presidente comercial da Nissan.
Considerando toda a frota, existem atualmente 9,2 milhões de veículos flex no Brasil, o que equivale a 1/3 do total de automóveis no país.
O PREÇO A SER PAGO
Em contrapartida, surge a questão do preço do etanol. Segundo analistas, o que elevou o preço do combustível de origem vegetal nos últimos tempos foi a demanda. Isso porque o açúcar estava valorizado no mercado. Logo, grande parte dos produtores resolveu canalizar a produção do álcool para o produto. "A tendência, no entanto, é que o valor do combustível se normalize", aposta o economista Alexandre Andrade. O Brasil, aliás, é o segundo maior produtor mundial de etanol -- o primeiro no ranking são os Estados Unidos --, com mais de 25 bilhões de litros do combustível produzidos anualmente.
De qualquer forma, antes do incentivo da compra de veículos flex, os modelos já dominavam as vendas. Em novembro foram comercializadas 206.980 unidades com propulsor que aceitam os dois combustíveis, ou 86% do total -- apenas 31.524, ou 14%, tinham motorização a gasolina e a diesel. "Os carros flex já são a preferência nacional. Com a manutenção da redução do imposto, o que existe é um aumento da margem do crescimento para o próximo ano. O que fizeram foi apenas privilegiar essa escolha desse consumidor", acrescenta Dario Gaspar, vice-presidente da AT Kearney Consultoria.
E a suposta ideia de conscientizar o consumidor brasileiro quanto aos gases poluentes emitidos pelos veículos automotores não seria de todo ruim, caso o abastecimento coubesse no bolso do consumidor. "A melhor forma para que as pessoas tomem conhecimento sobre a preservação do meio ambiente é fazer com que elas sintam os prejuízos também no bolso", reforça o professor da Fundação Getúlio Vargas, Robson Gonçalves
TUDO E NADA
Para os fabricantes que comercializam carros movidos a gasolina, a notícia do desconto até março de 2010 não foi motivadora. "Essa ação acaba sendo prejudicial para nós, pois passamos a ter uma desvantagem competitiva", argumenta Ary Jorge Ribeiro, diretor de vendas da Kia.
A solução encontrada para a montadora da Coreia do Sul foi então absorver o imposto e não o repassar para o consumidor. "Somos frontalmente contrários a esta medida protecionista. Mas, em respeito aos consumidores, não vamos repassar o retorno gradual do IPI", valoriza o presidente da Kia, José Luiz Gandini. (por Karina Craveiro)
A alíquota para os flex se mantém em 3% para motores até 1.0 e em 7,5% para veículos até 2.0, enquanto os modelos a gasolina voltam a pagar 7% e 13%, respectivamente.
Mas a atitude do governo esconde contradições. A principal delas é incentivar a preservação do meio ambiente com o uso de etanol enquanto o combustível está em alta no mercado. Para o professor da Fundação Getúlio Vargas, Robson Gonçalves, a medida é frágil. "O que o governo deveria fazer era tributar mais os combustíveis. Assim, o consumidor optaria pelo combustível que polui menos, por ser o mais barato", argumenta.
Outras resoluções são ainda estudadas pelas autoridades, como o uso de selos que classifiquem o carro pela economia de combustível e outro que destaca os carros compactos e menos poluentes. Desta forma, a alíquota do IPI variaria de acordo com a eficiência do veículo. E funcionaria como acontece atualmente com a chamada "linha branca" de eletrodomésticos, classificada de acordo com a eficiência energética. Só que, com o país em um período pós-crise, muitos analistas acreditam que a preocupação dos governantes se dá mais por conta da economia do que por uma questão ambiental. "Pode até ser que o governo tenha pensado no meio ambiente, mas a médio e longo prazo. O objetivo nesse momento é a indústria, que não pode parar", acredita o economista Alexandre Andrade, da Consultoria Tendências.
COMO FICA O IPI
FLEX | DEZ | JAN-MAR/2010 |
até 1.000 cc | 3% | 3% |
1.000 a 2.000 cc | 7,5% | 7,5% |
+ 2.000 cc | 18% | 18% |
A GASOLINA | ||
até 1.000 cc | 5% | 7% |
1.000 a 2.000 cc | 11% | 13% |
+ 2.000 cc | 25% | 25% |
Considerando toda a frota, existem atualmente 9,2 milhões de veículos flex no Brasil, o que equivale a 1/3 do total de automóveis no país.
O PREÇO A SER PAGO
Em contrapartida, surge a questão do preço do etanol. Segundo analistas, o que elevou o preço do combustível de origem vegetal nos últimos tempos foi a demanda. Isso porque o açúcar estava valorizado no mercado. Logo, grande parte dos produtores resolveu canalizar a produção do álcool para o produto. "A tendência, no entanto, é que o valor do combustível se normalize", aposta o economista Alexandre Andrade. O Brasil, aliás, é o segundo maior produtor mundial de etanol -- o primeiro no ranking são os Estados Unidos --, com mais de 25 bilhões de litros do combustível produzidos anualmente.
De qualquer forma, antes do incentivo da compra de veículos flex, os modelos já dominavam as vendas. Em novembro foram comercializadas 206.980 unidades com propulsor que aceitam os dois combustíveis, ou 86% do total -- apenas 31.524, ou 14%, tinham motorização a gasolina e a diesel. "Os carros flex já são a preferência nacional. Com a manutenção da redução do imposto, o que existe é um aumento da margem do crescimento para o próximo ano. O que fizeram foi apenas privilegiar essa escolha desse consumidor", acrescenta Dario Gaspar, vice-presidente da AT Kearney Consultoria.
E a suposta ideia de conscientizar o consumidor brasileiro quanto aos gases poluentes emitidos pelos veículos automotores não seria de todo ruim, caso o abastecimento coubesse no bolso do consumidor. "A melhor forma para que as pessoas tomem conhecimento sobre a preservação do meio ambiente é fazer com que elas sintam os prejuízos também no bolso", reforça o professor da Fundação Getúlio Vargas, Robson Gonçalves
TUDO E NADA
Para os fabricantes que comercializam carros movidos a gasolina, a notícia do desconto até março de 2010 não foi motivadora. "Essa ação acaba sendo prejudicial para nós, pois passamos a ter uma desvantagem competitiva", argumenta Ary Jorge Ribeiro, diretor de vendas da Kia.
A solução encontrada para a montadora da Coreia do Sul foi então absorver o imposto e não o repassar para o consumidor. "Somos frontalmente contrários a esta medida protecionista. Mas, em respeito aos consumidores, não vamos repassar o retorno gradual do IPI", valoriza o presidente da Kia, José Luiz Gandini. (por Karina Craveiro)