Venda de carros bate recorde no semestre, mas indústria ainda prevê crescimento tímido no ano

Da Auto Press

A indústria automotiva brasileira ainda tem muito o que comemorar. Mesmo diante de uma recessão pós-crise econômica mundial, o setor obteve um considerável avanço de 3% nas vendas do primeiro semestre de 2009. Foram emplacados 1.449.787 veículos de janeiro a junho, resultado que supera -- por pouco mais de 40 mil veículos -- a até então excepcional marca de 1.407.211 unidades comercializadas nos seis primeiros meses de 2008, ano recorde do setor. Além disso, o número quebra dois novos recordes no comércio de veículos no país: o primeiro semestre e o mês de junho, que totalizou 300.157 vendas, o maior volume já emplacado em um período de 30 dias e 21,5% superior a maio. Só de automóveis e comerciais leves, foram 289.780 unidades.

Mas a própria indústria continua a frisar que enxerga o bom momento atual com ostensiva cautela. A explicação é que o comércio se vale do socorro do governo federal, que em dezembro liberou crédito para as financeiras das montadoras e reduziu o IPI.

"Saímos de uma média de 140 mil carros/mês para 230 mil unidades mensais. A medida de combate à crise do Ministério da Fazenda salvou a indústria automotiva", resume Sérgio Reze, presidente da Fenabrave, que representa os distribuidores de veículos. "Este cenário demonstra uma retomada de confiança no mercado, embalada por fatores como a redução do IPI", observa Jackson Schneider, presidente da Anfavea, entidade dos fabricantes.
  • Ilustração: Afonso Carlos/Carta Z Notícias

Para alívio das montadoras, o governo anunciou no dia 1º de julho a prorrogação por mais três meses da isenção do IPI -- até outubro. E, como resposta, as fábricas continuarão com as agressivas estratégias de vendas, que foram massivamente exploradas nos últimos meses. Com a volta do crédito para financiamentos, foram muitos os grandes feirões, principalmente em junho. Além disso, havia a expectativa por parte do público de que a redução na alíquota não fosse prorrogada.

"O corte na tarifa fez com que nossa indústria mantivesse um equilíbrio nas vendas em relação ao período pré-crise, o que não aconteceu na grande maioria dos mercados internacionais", elogia Paulo Sérgio Kakinoff, presidente da Audi do Brasil, que teve quatro modelos -- A3, A4, TT e Q5 -- beneficiados pelo desconto do IPI, que vale para veículos equipados com motores de até 2,0 litros.

Como reza a tradição nacional, porém, a arrancada das vendas em junho foi encabeçada majoritariamente pelos compactos. O líder do mercado brasileiro Volkswagen Gol, por exemplo, saltou das 23.725 unidades de maio para impressionantes 29.312 emplacamentos. Já o vice-líder Fiat Palio subiu de 16.612 unidades para 20.770 vendas, no mesmo período. O avanço dos compactos foi tamanho, que os sedãs médios Honda Civic e Toyota Corolla, que até março rondavam a lista dos "dez mais", perderam várias posições -- o Civic fechou o primeiro semestre em 12º lugar e o Corolla, em 15º. "A manutenção do IPI deve contribuir para as vendas se manterem no mesmo nível de 2008. E pode até fazer com que o mercado feche 2009 com o resultado superior", torce Cledorvino Belini, presidente da Fiat.

Até a GM, que andava meio conturbada por conta do pedido de concordata da matriz americana, fechou junho de forma animadora. A montadora, que usou e abusou dos feirões de fábrica, emplacou 58.647 modelos no mês, volume que passa a ser seu novo recorde de vendas no país. O total superou em 3.018 unidades a marca anterior de 55.629 veículos, comercializados em julho de 2008. "Esse novo marco histórico é motivo de orgulho para nós e uma clara demonstração de que o consumidor da Chevrolet nos deu, em junho, um voto de confiança quanto ao futuro da empresa no país", valoriza, aliviado, o presidente da marca, Jaime Ardila.

Apesar da boa fase, no entanto, a própria indústria já sinaliza com projeções tímidas para o próximo semestre -- e que, mesmo assim, são consideradas otimistas. "O setor de automóveis e comerciais leves deve apresentar resultado positivo de até 3% em 2009, o que já será um novo recorde histórico", salienta Sérgio Reze, da Fenabrave. A Anfavea vai além: com os bons resultados de junho, reajustou sua projeção para 6,4% de crescimento nas vendas no ano. "Acredito que feirões e promoções devem ser intensificados. Ninguém sabe o que vai acontecer amanhã e é melhor uma venda agora com desconto do que a 'possibilidade' de uma venda futura", completa o consultor Paulo Garbossa. Com o futuro ainda tão incerto, o melhor mesmo parece correr para aproveitar as facilidades do presente.

RITMO CADENCIADO
As vendas de carros no Brasil vão bem, é verdade. Mas ainda não foi no primeiro semestre de 2009 que a produção industrial se recuperou do tombo levado no último trimestre de 2008. Foram produzidos 1,46 milhão de veículos nos seis primeiros meses do ano, queda de 13,6% em relação às 1,69 milhão de unidades feitas entre janeiro e junho de 2008. O recuo ainda é reflexo da forte redução na produção no fim do ano passado. Para evitar estoques lotados, as montadoras deram férias coletivas antecipadas nas fábricas.

No momento, porém, o fraco da produção interna é a exportação, que caiu 46,9% no semestre. "A dificuldade de enviar carros para o exterior vai provocar uma queda na produção das montadoras em 2009, mesmo com o mercado interno aquecido", reconhece Jackson Schneider, da Anfavea.

Como o cenário internacional segue muito ruim, a própria entidade reajustou suas projeções, com queda estimada de 40% nas exportações em 2009 e de 5,2% na produção -- que deve atingir a marca de 3 milhões de unidades. "Uma coisa puxa a outra. É uma indústria que mexe com muitas outras. E quando o setor cresce, impulsiona a economia, o que é fundamental em qualquer país no mundo", argumenta Rogério César de Souza, economista do Iedi (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial). Daí o governo federal ter reduzido o IPI para veículos. Até porque, se as exportações parecem não ter solução agora, o jeito é manter as vendas internas aquecidas. (por Diogo de Oliveira)

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