Crise obriga Ford à maior reestruturação de sua história

Por César R. Díaz Detroit (EUA), 23 jan (EFE).- A Ford tenta minimizar as perdas de centenas de milhões de dólares em suas operações na América do Norte com o maior plano de reestruturação de sua história, que inclui a demissão de até 30.000 funcionários e o fechamento de 14 fábricas até 2012.

Os detalhes do plano foram anunciados no mesmo dia em que a empresa divulgou seus resultados globais em 2005, destacando os Estados Unidos como o pior mercado para os automóveis da marca.

Embora tenha obtido lucros de US$ 2 bilhões em 2005 - 42% a menos que em 2004 -, só na América do Norte a Ford teve prejuízo de US$ 1,6 bilhão, em sua maioria nos EUA, devido à queda das vendas em seu mercado doméstico.

Bill Ford, presidente do Conselho Administrativo do grupo e bisneto do fundador da companhia, advertiu hoje que a empresa - a segunda maior do setor de automóveis dos EUA - terá de fazer "sacrifícios dolorosos para proteger a herança da Ford e assegurar nosso futuro".

Em termos de empregos, Ford falou sobre a demissão de entre 25.000 e 30.000 funcionários das 14 fábricas - entre elas sete de montagem - a serem fechadas nos próximos anos.

A este número se somam outros 4.000 empregos assalariados cujo corte fora anunciado anteriormente, além de uma redução de 12% em sua equipe de diretores.

Duas fábricas que certamente fecharão suas portas estão em Atlanta, na Geórgia, onde 2.028 pessoas fabricam o Ford Taurus; St.

Louis, no Missouri, com 1.445 funcionários e onde se faz o Ford Explorer e o Mercury Montanier. Além disso, fecharão as instalações em Wixom, no estado do Michigan (com 1.567 funcionários, Lincoln Town Car, Lincoln LS, Ford GT); em Batavia (Ohio), com 1.745 pessoas e onde se fabrica o Windsor, e no Canadá, com 684 empregados.

O fechamento das outras fábricas será decidido até o fim do ano.

Com estes fechamentos, para 2008 a Ford reduzirá em 26% o número de veículos a serem fabricados nos Estados Unidos (cerca de quatro milhões de unidades), e reduzirá os custos de material em US$ 6 bilhões até 2010.

A reestruturação anunciada hoje é a mais profunda sofrida pela companhia em seus 103 anos de história, e reflete as graves dificuldades da empresa nos EUA. Porém, Bill Ford expressou seu otimismo com relação ao futuro.

"O próximo capítulo de nossa história será lembrado por um renovado compromisso com a inovação e como um momento em que entramos de forma atrevida para preparar a Ford na América do Norte para a competição mundial", disse Ford.

Além disso, ele justificou a péssima situação da Ford em seu mercado doméstico, onde só em 2005 perdeu 4,7% de suas vendas em relação ao ano anterior e agora controla apenas 17,4% do mercado americano.

"O mercado do automóvel na América do Norte rapidamente está ficando tão numeroso e fragmentado como outros mercados globais.

Para enfrentar este desafio, estamos atuando com rapidez para fortalecer as marcas Ford, Lincoln e Mercury" afirmou.

A estratégia da Ford inclui a renovação de suas ofertas de veículos na América do Norte, em resposta às críticas de que a Ford - assim como a como General Motors -, numa comparação com suas concorrentes asiáticas, demora muito a desenvolver novos veículos que satisfaçam as constantes necessidades do consumidor.

O melhor exemplo foi a reação lenta de GM e Ford reagiram ao divórcio do consumidor americano com os jipes.

Enquanto Toyota e Honda foram capazes de desenvolver em pouco tempo veículos alternativos, como os híbridos (motor de gasolina e outro elétrico), os fabricantes americanos tiveram dificuldades para adaptar-se à mudança.

Ford explicou que investirá para produzir "novos veículos em novos segmentos para atingir mais consumidores, incluindo carros pequenos e mais dos modelos cruzados (CUV)", com características próprias dos jipes e consumo reduzido. A companhia já afirmara que uma de suas estratégias imediatas é produzir 250.000 veículos híbridos anualmente até 2010.

A última parte da reestruturação é o planejamento de "um novo local de fabricação de baixo custo para o futuro".

Bill Ford não deu detalhes, mas isso pode significar que a empresa Ford paulatinamente transferirá a montagem dos veículos para venda nos Estados Unidos a países com baixos custos trabalhistas.

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