Cúpula da Volkswagen em crise por conflito de interesses

Frankfurt (Alemanha), 12 dez (EFE).- A cúpula da Volkswagen enfrenta uma séria crise provocada por desavenças políticas com o Estado federado alemão da Baixa Saxônia, depois que a Porsche se tornou a maior acionista da empresa.

As últimas versões apontam para uma disputa entre o presidente mundial da Volkswagen, Bernd Pischetsrieder, e o primeiro-ministro da Baixa Saxônia, Christian Wulff, que apóia profundas reformas na produção e oferta de modelos da montadora para aumentar as receitas.

A imprensa local afirma que o confronto de Pischetsrieder com o presidente do conselho de administração da empresa, Ferdinand Piech, atingiu um nível insustentável para a cúpula de uma empresa como a VW, fazendo com que o executivo tenha considerado abandonar o cargo.

As tensões aumentaram depois que a Porsche, da qual Piech é um dos primeiros acionistas, comprou 18,5% da Volkswagen, em negociações graduais feitas desde setembro, e se tornou sua maior acionista, na frente da Baixa Saxônia, que tem 18,2%.

Piech, o qual Wulff e outros políticos e acionistas acusam de estar envolvido em um conflito de interesses por ser proprietário da Porsche e presidente do conselho de administração da Volkswagen, se nega a renunciar ao cargo, para o qual foi nomeado até 2007.

Wulff se aliou a Pischetsrieder e ao chefe da marca Volkswagen, Wolfgang Bernhard, em uma operação destinada a livrar-se de Piech e facilitar a renovação da empresa que permita uma maior rentabilidade e eficácia diante dos concorrentes do Leste Europeu e da Ásia.

A Baixa Saxônia não está disposta a vender sua participação de 18,2% da VW, disse Wulff, que argumentou que o fato de o governo estadual possuir essas ações é "bom para todas as partes envolvidas".

Por sua vez, a Porsche, que investiu mais de 3,5 bilhões de euros (US$ 4,165 bilhões) na participação na Volkswagen e pediu uma representação de dois membros no conselho de administração da empresa, ao que Wulff se opõe, mantendo uma queda-de-braço com Piech.

O político democrata-cristão fracassou há alguns meses em sua tentativa de derrubar Piech da Presidência do conselho de administração alegando que manter esse cargo e ser ao mesmo tempo um grande acionista da Porsche geram um conflito de interesses.

A Porsche assegurou o direito a aumentar para até 21,9% sua participação na Volkswagen e pode inclusive solicitar uma porcentagem maior, de até 29,9%, o que lhe daria condições de desbancar a Baixa Saxônia, que ainda tem a maioria dos votos no conselho de administração.

No mundo automotivo, os especialistas opinam que esse contexto político e empresarial é o que a Volkswagen menos precisa, em um momento em que sua direção empreende um ambicioso plano que passa pela redução da equipe e dos custos e melhora da produção.

Um estudo realizado pela empresa de consultoria Habour Consulting Group e publicado pela revista "Der Spiegel" aponta que VW requer 50 horas para montar um automóvel, enquanto seus concorrentes diretos necessitam de apenas 25 horas.

Uma vez otimizada a produção e a qualidade de seus produtos, a Volkswagen deverá fazer um corte de 30 mil empregos na Europa, segundo cálculos internos do fabricante, e fazer dolorosos ajustes nos salários.

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