Volkswagen toma medidas radicais e vai reduzir quadro de funcionários na Alemanha

Por Ramón Santaularia

Frankfurt (Alemanha), 5 set (EFE).- A Volkswagen, maior fabricante europeu de automóveis, adotou medidas radicais para sanear sua contabilidade e, contra a tradição, quer reduzir seu quadro de funcionários em milhares de pessoas na Alemanha.

O presidente do grupo, Bernd Pischetsrieder, disse nesta segunda-feira na fábrica central de Wolfsburg aos sindicatos que a empresa tem "um excedente de funcionários", uma situação bem conhecida por todos, tanto pela direção como por seu principal acionista, o Estado federado da Baixa Saxônia.

Os altos custos de produção no oeste alemão, onde a VW tem 103 mil empregados, colocaram contra a parede a direção da empresa, que não quer adiar mais um corte do número de trabalhadores.

O semanário Der Spiegel calcula em 10 mil o número de vagas que devem ser eliminadas, enquanto outros meios acreditam que poderiam ser 15 mil, mas por enquanto, a central de Wolfsburg não quis entrar ainda em uma discussão sobre números.

O especialista alemão da indústria automobilística Ferdinand Dudenhoeffer propôs que a marca alemã feche a fábrica de Bruxelas, onde o modelo Golf é produzido, para ajudar a diminuir o excesso de capacidade total de produção, calculado em um milhão de veículos.

Dudenhoeffer acredita que a VW tenha 15 mil trabalhadores excedentes, mas a empresa sempre foi muito reticente com relação às demissões despedidos e preferiu outras soluções, como a de introduzir há quatro anos um horário semanal reduzido de quatro dias.

Entre as fórmulas cogitadas, o chefe da marca Volkswagen, Wolfgang Bernhard, propôs que os empregados renunciem a parte do salário se quiserem que o novo 4X4 Marrakesch derivado do Golf fique em Wolfsburg.

Do contrário, Bernhard, que realizou com sucesso o saneamento da marca americana Chrysler, ameaçou levar a fabricação deste modelo à planta portuguesa de Palmela, onde a VW economizaria 1.000 euros (US$ 1.250) por unidade.

Neste mês, Pischetsrieder começou a preparar o terreno para cortar o quadro de funcionários em uma conferência com analistas em Londres e os comentários que fez hoje ao comitê da empresa vão na mesma direção.

Mas é Bernhard, um jovem diretor que poderia suceder Pischetsrieder no momento certo, que está forçando o radical programa para aumentar os lucros, melhorar a qualidade e reduzir o quadro de funcionários, especialmente na fábrica de Wolfsburg.

Uma opção para que a construção do 4X4 Marrakesch fique em Wolfsburg seria aplicar o modelo chamado "5 mil por 5 mil", um plano por cuja aplicação há quatro anos 3.500 operários decidiram trabalhar por um salário menor na construção do Golf Touran.

A ofensiva de Bernhard coincide com umas relações muito tensas entre a direção e o comitê de empresa, que foi sacudido por um escândalo de corrupção sem precedentes, devido ao qual presidente do comitê de empresa, Klaus Volkert, e o chefe de pessoal, Peter Hartz, que assumiu a responsabilidade pelo caso, pediram demissão.

Os males que afligem a VW não terminam aí. A debilidade do dólar frente ao euro minou a rentabilidade de seus negócios no importante mercado americano até o ponto que agora geram perdas.

Na Europa, antes de tudo na Alemanha, a marca teve que oferecer descontos grandes para modelos tão populares como o Golf, enquanto o Phaeton, um veículo de luxo concebido pelo antigo chefe da VW, Ferdinand Piech, para competir com a Mercedes e a BMW.

O mercado chinês, que até agora tinha fornecido elevadas cifras de vendas e lucros à VW, se complicou com a crescente concorrência de outros construtores.

Além disso, Pischetsrieder herdou de Piech uma estratégia comercial na qual não havia nem utilitários nem conversíveis, modelos que os concorrentes franceses e asiáticos ofereciam há tempos.

Os únicos setores com grande rentabilidade e motivo de satisfação são a marca de luxo Audi, que continua batendo números recorde de vendas, e os serviços financeiros da casa.

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