Detroit 2006, um "show" para esquecer a crise do setor automobilístico

Por Isabelle Cortes e Matthieu DemeestereDETROIT, EUA, 11 jan (AFP) - O Salão do Automóvel de Detroit apresentou uma grande variedade de novos modelos e veículos "ecológicos" para manter a qualidade do "show" e apagar da memória dos fabricantes americanos a crise do setor, tema constante nos bastidores do evento.

Esta feira, que recebeu profissionais e jornalistas durante três dias, estará aberta ao público de 14 a 22 de janeiro. O encontro da indústria automobilística dos Estados Unidos coincide com um momento delicado para o setor, devido ao aumento dos custos das matérias-primas e do petróleo.

Em um país onde os utilitários são as principais atrações, a edição 2006 do Salão refletiu o impacto da alta dos preços da gasolina.

Os fabricantes, atentos às preferências do público, apresentaram veículos menores e mais econômicos em termos de energia: veículos híbridos (com motores movidos tanto a gasolina como a eletricidade), modelos compactos e "crossover".

No entanto, não é esta a finalidade dos 4x4, disse Michael Dawson, do estúdio J.D. Power. "Ainda há muito lugar para eles no mercado". Por isso, a General Motors (GM) apresentará seu enorme Cadillac Escalade.

A japonesa Nissan não acredita que haverá uma mudança radical nas preferências dos consumidores americanos, e apresentou seu novo Sentra compacto como "complemento" de sua série de veículos utilitários. "Não abandonamos os grandes modelos 4x4, que ainda são muito procurados nos Estados Unidos", ressaltou Carlos Ghosn, presidente da companhia.

Os "crossover", muito importantes na estratégia da Ford, não passam de uma prova da inflexibilidade do "American way of life" (estilo de vida americano). Este modelo é caracterizado por carros de tração nas quatro rodas e algum espaço, embora seu motor seja menos potente que o dos 4x4.

Apesar do clima de festa, Detroit vive atualmente uma profunda crise, intensificada pelo risco de a GM perder sua posição de líder mundial na fabricação de automóveis para a japonesa Toyota em 2006.

A General Motors se defende melhor fora dos Estados Unidos, mas com as perdas milionárias do ano passado enfrenta sérios problemas, segundo analistas.

A Ford, também em péssimas condições, deve apresentar em 23 de janeiro os detalhes de um plano que poderá eliminar dezenas de milhares de postos de trabalho, como aconteceu com seu grande rival.

Já a DaimlerChrysler, que completa o trio dos fabricantes americanos, está em situação um pouco melhor.

A concorrência japonesa afeta a indústria automobilística americana ao disputar com ela a primeira posição no mercado.

"A era dos Big Three (Três grandes) terminou, agora são os Big Six (Seis grandes)", se forem somados os três principais construtores japoneses (Toyota, Honda e Nissan), admitiu o presidente da Ford para a América do Norte, Mark Fields.

Toyota, que abrirá uma nova montadora de 4x4 no Texas (centro-sul) em 2006, exibe em suas propagandas o papel atual de grande empregador que vem desempenhando nos Estados Unidos. A sul-coreana Hyundai usou a mesma estratégia para anunciar a abertura de sua primeira fábrica no Alabama (sul).

Atrás dos japoneses e dos coreanos, também estão os chineses com lançamentos de baixo custo. Este ano é a primeira vez que Detroit expõe um carro chinês, a um ano do centenário do salão.

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