Foi só uma coceirinha? Sintomas (ou não) das ISTs que mais afetam homens

Você sai de um encontro sexual e tudo foi ótimo —até que, dias depois, aparece um incômodo nas partes íntimas. Uma coceira estranha, uma ardência ao urinar ou uma secreção que não deveria estar ali. Calma. Apesar do susto, isso é mais comum do que parece. Estamos falando das infecções sexualmente transmissíveis, as famosas ISTs, que podem se manifestar de formas bem diferentes, dependendo do agente causador.

Nos homens, os sintomas mais comuns incluem secreção saindo do pênis (corrimento uretral), ardência ou dor ao urinar, feridas, úlceras ou verrugas na região genital, além de coceira, vermelhidão, dor nos testículos e, em alguns casos, lesões na boca, garganta ou ânus. Em outras palavras, os sinais nem sempre aparecem onde, ou quando, se espera.

Quando os sintomas aparecem --ou não

O tempo entre a exposição a um agente causador de IST e o surgimento dos sintomas varia bastante e pode enganar. Esse intervalo é conhecido como período de incubação, e cada infecção tem o seu.

A sífilis (doença causada pela bactéria Treponema pallidum, que evolui em estágios e pode afetar diversos órgãos) pode demorar de 10 a 90 dias para se manifestar, com uma média de 21 dias até o surgimento da primeira ferida —que costuma ser pequena, indolor e facilmente ignorada.

Já a gonorreia (infecção bacteriana causada pela Neisseria gonorrhoeae, que afeta principalmente o trato genital, mas também pode atingir reto, garganta e olhos) costuma ser mais rápida: os sintomas aparecem entre dois e cinco dias após o contato com a bactéria.

Mas atenção: nem todas as ISTs dão as caras logo de início; algumas nem dão sinal. Muitas são silenciosas e traiçoeiras, evoluindo sem provocar dor, coceira, corrimento ou qualquer desconforto. A pessoa se sente perfeitamente bem, mas pode transmitir a infecção a outras pessoas e ainda desenvolver complicações sérias com o tempo.

Quais as ISTs mais silenciosas?

Clamídia: infecção bacteriana causada pela Chlamydia trachomatis, que pode acometer a uretra e, em casos não tratados, provocar complicações como epididimite (inflamação dos canais que armazenam os espermatozoides) e infertilidade, mesmo na ausência de sintomas perceptíveis.

Gonorreia: frequentemente assintomática no início, principalmente quando atinge a garganta ou o reto.

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Sífilis: como a ferida inicial é indolor, muitas vezes passa despercebida. Mesmo assim, a bactéria continua ativa no corpo, podendo afetar órgãos internos anos depois.

HIV: sigla para vírus da imunodeficiência humana, que ataca o sistema imunológico e torna o organismo mais vulnerável a infecções e certos tipos de câncer. Pode permanecer em silêncio por semanas, meses ou até anos, destruindo o sistema imunológico sem que a pessoa perceba.

HPV: vírus do papiloma humano, transmitido por contato sexual, que pode causar verrugas genitais e aumentar o risco de câncer no ânus, pênis, garganta e boca. Muitas vezes, não provoca verrugas nem sintomas visíveis, mas pode evoluir para câncer no pênis, ânus ou garganta. O risco de câncer está relacionado a infecções persistentes por subtipos oncogênicos, como o HPV 16 e 18.

Portanto, ausência de sintomas não significa ausência de risco —pelo contrário. Pode até representar um perigo dobrado, tanto para a saúde de quem está infectado quanto para seus parceiros(as).

Principais sintomas em homens

Agora que você já sabe que os sintomas de ISTs podem demorar, ou nem aparecer, veja os sinais mais comuns que merecem atenção, quando surgem:

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  • Ardor ao urinar é típico de infecções urinárias, mas também comum em ISTs como:

Gonorreia (infecção bacteriana causada pela Neisseria gonorrhoeae, que afeta principalmente a uretra, causando dor e secreção);

Clamídia (infecção bacteriana pela Chlamydia trachomatis, que provoca inflamação na uretra e pode atingir testículos e reto);

Tricomoníase (infecção causada por um protozoário, o Trichomonas vaginalis, que irrita o trato urinário. É menos comum em homens e costuma ser assintomática ou causar sintomas leves, embora transmissível);

Herpes (infecção viral causada principalmente pelo herpes simples tipo 2, HSV-2, que provoca lesões dolorosas e inflamação na região genital. A dor pode se intensificar ao urinar ou evacuar, especialmente quando há lesões na área anal. O herpes simples tipo 1, HSV-1, mais conhecido por causar herpes labial, também pode provocar herpes genital e é geralmente transmitido por sexo oral).

Herpes labial também pode provocar herpes genital.
Herpes labial também pode provocar herpes genital. Imagem: iStock
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  • Vermelhidão na pele genital pode indicar:

Herpes (que provoca bolhas e inflamação local);

HIV (vírus da imunodeficiência humana, que enfraquece o sistema imunológico e pode causar erupções cutâneas);

Infecção por citomegalovírus (vírus da mesma família do herpes, geralmente inofensivo em pessoas saudáveis, mas que causa inflamações em imunossuprimidos);

Infestação por chatos (pediculose pubiana, causada por pequenos parasitas, os Phthirus pubis, que vivem nos pelos pubianos e provocam irritação e vermelhidão);

No HIV, a vermelhidão pode vir acompanhada de febre, fadiga, perda de peso e ínguas. Já no citomegalovírus, ela costuma ocorrer em pessoas com imunidade baixa e pode vir junto de pele e olhos amarelados (icterícia).

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  • Coceira é comum em:

Herpes genital (que provoca lesões dolorosas, ardência e bolhas);

Proctite (inflamação do reto causada por ISTs como gonorreia, clamídia ou herpes, que pode gerar coceira anal intensa);

Pediculose pubiana (infestação por chatos —piolhos—, com coceira persistente devido à irritação causada pelas picadas. São visíveis a olho nu em alguns casos).

  • Corrimento - secreções saindo pelo pênis podem indicar:

Gonorreia (corrimento amarelado e espesso, semelhante a pus);

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Clamídia (corrimento mais claro, aquoso ou turvo);

Tricomoníase (secreção esbranquiçada e com odor forte);

Proctite (pode causar corrimento anal, especialmente em casos transmitidos sexualmente).

  • Dor varia conforme a IST e o local atingido:

Herpes (dor na região do pênis, geralmente junto de lesões ou bolhas);

Gonorreia e clamídia (dor nos testículos, devido à inflamação causada pelas bactérias);

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Proctite (dor anal ou retal, às vezes com sangramento). Essas infecções geralmente também provocam ardência ao urinar e corrimento.

  • Febre, quando baixa e persistente, pode parecer gripe, mas pode sinalizar:

HIV (na fase aguda, causa febre, fadiga e dor de cabeça);

Hepatite B (infecção viral que atinge o fígado, podendo causar febre, mal-estar e icterícia);

Sífilis (na fase secundária, vem acompanhada de febre, manchas pelo corpo e ínguas);

Citomegalovírus (em imunossuprimidos, causa febre, fraqueza e inflamações diversas).

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Em muitos casos, a febre é o primeiro sintoma a surgir.

  • Bolhas surgem em:

Herpes (bolhas dolorosas que se rompem e viram feridas);

Molusco contagioso (infecção viral com lesões arredondadas e brilhantes, semelhantes a pequenas pápulas de cor rosada ou esbranquiçada);

HPV (vírus do papiloma humano; algumas cepas causam verrugas genitais com aspecto de couve-flor);

Linfogranuloma venéreo (infecção causada por certos tipos de clamídia; começa com bolhas pequenas que evoluem para feridas dolorosas);

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Chatos (os parasitas podem causar irritação e pequenas lesões que se confundem com bolhas).

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Imagem: iStock
  • Ínguas doloridas ou inchaço dos gânglios linfáticos indica que o corpo está combatendo uma infecção. Costuma ocorrer em:

Sífilis (fase primária ou secundária, com úlceras e inflamação local, na virilha);

HIV (por causa da ativação imunológica contra o vírus, de forma generalizada).

  • Feridas genitais no pênis, escroto ou virilha, podem sinalizar:
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Herpes (feridas dolorosas e recorrentes);

HPV (verrugas que podem se ulcerar);

Sífilis (feridas indolores que aparecem entre 10 e 90 dias após o contágio. Elas podem vir com febre, mal-estar e ínguas);

Linfogranuloma venéreo (feridas profundas e dolorosas após as bolhas iniciais);

Proctite (lesões anais em alguns casos);

Pediculose pubiana (feridas por coçar a pele irritada pelos parasitas).

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  • Feridas na boca: o sexo oral desprotegido pode transmitir:

Herpes (feridas nos lábios ou dentro da boca, dolorosas e recorrentes);

Sífilis (úlceras indolores na gengiva, língua ou garganta);

Gonorreia (inflamação e placas esbranquiçadas na garganta);

Essas lesões costumam vir acompanhadas de dor e inflamação.

  • Cansaço excessivo pode ser um dos primeiros sinais de:
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HIV (o vírus afeta a imunidade e reduz a energia mesmo antes dos sintomas mais específicos);

Hepatite B (como o fígado é comprometido, o metabolismo e a disposição caem);

Sífilis (nas fases secundária e terciária, pode provocar fadiga intensa).

  • Icterícia, com pele e olhos amarelados, indica que o fígado está comprometido. É sintoma de:

Hepatite B (vírus que inflama o fígado e interfere na excreção da bilirrubina);

Citomegalovírus (pode afetar o fígado em pessoas com baixa imunidade).

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Esse sintoma exige atenção médica imediata.

Além do sexo: outras formas de transmissão

Embora o sexo desprotegido (vaginal, anal ou oral) seja a principal via de contágio, algumas ISTs também podem ser transmitidas por:

Transfusão de sangue contaminado (muito raro atualmente graças aos testes rigorosos feitos nos hemocentros);

Compartilhamento de agulhas e seringas (especialmente em contextos de uso de drogas injetáveis);

Transmissão vertical. Da mãe para o bebê durante a gestação, o parto ou a amamentação (como pode acontecer com HIV, sífilis ou hepatite B);

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Contato direto com lesões, secreções ou sangue infectado (mesmo fora do contexto sexual).

Por isso, proteger-se envolve também cuidados com higiene, não compartilhar nem reutilizar instrumentos perfurocortantes e realizar exames pré-natais adequados.

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Imagem: Getty Images

Camisinha protege de tudo?

A camisinha é uma das principais formas de proteção contra ISTs, mas não é infalível. Algumas infecções, como HPV e herpes genital, podem ser transmitidas por contato com a pele, mesmo usando preservativo —sobretudo se as lesões estiverem fora da área coberta.

O sexo oral também oferece riscos reais: herpes, sífilis, gonorreia e HPV podem ser transmitidos dessa forma, com sintomas na boca, língua e garganta.

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Para uma proteção completa, é importante:

Usar camisinha ou barreira de látex também no sexo oral;

Ter diálogo aberto com os parceiros;

Fazer testagens regulares;

Tomar vacinas disponíveis no SUS (como HPV e hepatite B);

Acompanhar a saúde mesmo sem sintomas.

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Suspeita de IST? Exames mais indicados

Ao menor sinal de IST, nada de adivinhar ou apelar para receitas caseiras. Procure um médico (urologista, infectologista ou clínico geral) para uma avaliação completa. A consulta geralmente inclui a análise dos sintomas, o exame físico da região genital e, claro, a solicitação de exames específicos.

Os exames mais comuns incluem:

Sangue: para detectar HIV, sífilis, hepatites B e C;

Urina: útil para identificar clamídia, gonorreia e tricomoníase;

Coleta de secreções: feita do corrimento peniano ou lesões;

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Testes rápidos: disponíveis gratuitamente em unidades básicas de saúde para HIV, sífilis e hepatites;

PCR: detecta o material genético do agente com alta precisão. É notadamente útil para ISTs bacterianas (como clamídia, gonorreia e tricomoníase) e também para detecção precoce de HIV.

Outros testes que podem ser solicitados incluem sorologias, que verificam a presença de anticorpos ou antígenos no sangue, e exames laboratoriais específicos, que ajudam a confirmar o diagnóstico e indicar o tratamento mais adequado.

Quando fazer testes mesmo sem sintomas?

Como muitas ISTs são silenciosas e podem evoluir por meses ou até anos sem dar nenhum sinal, é importante se testar regularmente, mesmo na ausência de sintomas. Especialmente se você:

É sexualmente ativo — teste anual é o ideal;

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Teve relação desprotegida (inclusive oral ou anal);

Está começando um novo relacionamento;

Tem parceiro(a) com diagnóstico ou sintomas de IST;

Compartilhou agulhas ou objetos cortantes (como alicates ou lâminas não esterilizadas).

Felizmente, os testes estão cada vez mais acessíveis e gratuitos no SUS (Sistema Único de Saúde), permitindo diagnóstico precoce e tratamento rápido.

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Como funciona o tratamento das ISTs

A maioria das infecções sexualmente transmissíveis tem tratamento eficaz e, em muitos casos, cura. Mas tudo depende do tipo de IST e da rapidez com que ela é diagnosticada e tratada.

As ISTs podem ser divididas em três grandes grupos, com tratamentos distintos:

Infecções bacterianas: como sífilis, gonorreia e clamídia, são tratadas com antibióticos específicos e geralmente têm cura completa, desde que o tratamento seja feito corretamente;

Infecções virais: como HIV, herpes e HPV, não têm cura definitiva, mas há medicamentos antivirais que controlam os sintomas, reduzem a carga viral e melhoram a qualidade de vida;

Infecções parasitárias: como a tricomoníase, podem ser tratadas com antiparasitários, em forma de comprimidos ou cremes, dependendo do caso.

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Além disso, em infecções virais que enfraquecem o sistema imunológico, como o HIV, também pode ser necessário o uso de antibióticos preventivos para evitar outras doenças oportunistas.

Parceiro(a) também precisa tratar?

Sim! Quando se trata de infecções sexualmente transmissíveis, não adianta tratar apenas uma pessoa. Como o contágio acontece pelo contato íntimo, se o(a) parceiro(a) não for tratado(a), o risco de reinfecção é alto —e o problema vira um ciclo sem fim.

Aliás, mesmo quem não apresenta sintomas, mas teve contato com alguém infectado, deve procurar um médico para avaliação e testagem. Isso vale até para relacionamentos passados.

E a vida sexual durante o tratamento?

O mais seguro é evitar relações sexuais enquanto o tratamento estiver em andamento e os sintomas não tiverem desaparecido completamente. Isso ajuda a prevenir a transmissão e a evitar que a infecção piore.

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Se os parceiros decidirem manter relações nesse período, é fundamental que usem preservativo do início ao fim do ato sexual. E nada de abandonar os medicamentos antes da hora só porque os sintomas melhoraram: seguir as orientações médicas até o fim é essencial para garantir a cura e evitar que o microrganismo fique resistente.

O que pode ocorrer se a IST não for tratada?

Negligenciar uma IST pode parecer inofensivo no começo, principalmente se não houver sintomas aparentes. Mas as consequências podem ser graves e permanentes. Veja algumas:

Infertilidade, por danos nos testículos ou uretra;

Epididimite, inflamação dolorosa do epidídimo (estrutura atrás dos testículos);

Prostatite crônica, inflamação na próstata, com sintomas urinários persistentes e dor pélvica;

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Infecções sistêmicas, como a sífilis terciária, que pode afetar cérebro, coração e outros órgãos;

Comprometimento do sistema imunológico, como nos casos de HIV não controlado;

Transmissão vertical indireta, pois o homem transmite a IST à parceira, e ela, por sua vez, pode passar a infecção para o bebê durante a gestação ou no parto;

Risco aumentado de câncer, como os de pênis, ânus ou garganta, associados ao HPV.

Ou seja, deixar a IST de lado pode custar caro em saúde, bem-estar e até na vida reprodutiva.

Autoconhecimento é essencial

Para identificar uma IST no começo, é importante que o homem conheça bem o próprio corpo. Fique atento a qualquer sinal diferente, como feridas, secreções, coceiras, dor ao urinar ou ainda manchas e verrugas. Nenhum desses sintomas deve ser ignorado.

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Mesmo sem sintomas, é recomendado fazer exames regularmente e manter diálogo aberto com os(as) parceiros(as) sobre saúde sexual.

Nada de esperar "passar sozinho" ou se automedicar. Procurar um profissional de saúde é a atitude mais segura —e madura. Não há espaço para vergonha ou medo. Falar sobre ISTs é cuidar de si mesmo e de quem está ao seu lado.

Fontes: Alex Meller, urologista, professor da Escola Paulista de Medicina/Unifesp e membro do corpo clínico do Hospital Vila Nova Star (SP); Ari Miotto Junior, urologista e professor do curso de medicina da Uniderp Anhanguera (MS); Bruno Benigno, urologista e oncologista do Hospital Oswaldo Cruz, e diretor da Clínica Uro Onco (SP); Sylvia Lemos, infectologista e professora na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

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