Herpangina é contagiosa? Entenda doença que atinge mais crianças e bebês

A herpangina é uma infecção viral que causa febre e feridas dolorosas na boca e na garganta, sendo mais frequente em bebês em fase de amamentação e em crianças de três a 10 anos.

Ela é causada, na maioria dos casos, pelos Coxsackievirus do grupo A, que pertencem à família dos enterovírus. A doença tende a se espalhar em surtos, especialmente no verão, e geralmente pode durar até 12 dias —para desespero de muitos pais, já que a criança não pode frequentar a escola nesse período.

Felizmente, é uma infecção que tende a ser benigna na maioria dos casos. Saiba mais a seguir.

Principais vírus e seus riscos

A herpangina é causada por alguns vírus que se propagam facilmente. Os principais incluem:

Coxsackie A16 e B: fazem parte do grupo dos enterovírus e são as causas mais comuns da doença. O Coxsackie A16 também está associado à síndrome mão-pé-boca, enquanto o Coxsackie B pode, em casos raros, causar complicações cardíacas e neurológicas.

Enterovírus 71: menos frequente que os anteriores, pode causar quadros mais graves, incluindo complicações neurológicas, como meningite viral e encefalite.

Echovírus e parechovírus também pertencem à família dos enterovírus e podem, ocasionalmente, causar infecções semelhantes, mas não são causas comuns de herpangina.

Já os adenovírus e o vírus herpes simplex (HSV) podem provocar lesões na boca e na garganta, mas essas infecções não são classificadas como herpangina e sim como faringite viral (no caso do adenovírus) ou estomatite herpética (no caso do HSV).

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Ou seja, a herpangina é causada principalmente pelos vírus do grupo Coxsackie e Enterovírus 71, enquanto os outros podem gerar infecções com sintomas parecidos, mas não idênticos.

Quais são as formas de transmissão

A herpangina se espalha com grande facilidade especialmente entre crianças. O vírus pode ser transmitido de várias maneiras:

Pelo ar, quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou fala, liberando pequenas gotículas com o vírus;

Pelo contato com fezes contaminadas, o que pode acontecer, por exemplo, ao trocar fraldas e não higienizar bem as mãos depois;

Pelo compartilhamento de objetos, como copos, talheres e brinquedos infectados levados à boca;

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Pelo contato direto com o líquido das bolhas que surgem na boca e garganta da pessoa com a doença.

Como as crianças pequenas costumam ter muito contato entre si, principalmente em creches e berçários, elas estão mais expostas ao vírus e podem se infectar com mais facilidade.

Para piorar, a herpangina é uma infecção viral altamente contagiosa, sobretudo nas duas primeiras semanas após a contaminação. O que torna a transmissão ainda mais fácil é o fato de que o indivíduo infectado já pode espalhar o vírus antes mesmo de apresentar sintomas, ou seja, sem saber que está doente.

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Imagem: iStock

Sintomas vêm com febre e dor de garganta

A herpangina começa de repente, geralmente com febre alta, que pode passar dos 40 °C em alguns casos;

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Além da febre, a pessoa pode sentir dor de garganta intensa, o que torna difícil comer e beber;

Cerca de dois dias após o início da infecção, começam a aparecer pequenas manchas ou bolinhas acinzentadas (pápulas) dentro da boca e na garganta. Em geral, cada pessoa desenvolve cerca de quatro a cinco dessas lesões, mas, em alguns casos, podem surgir até 20;

Essas bolinhas rapidamente se transformam em pequenas bolhas, rodeadas por uma área avermelhada e inflamada, como aftas. Dolorosas, elas aparecem principalmente na parte de trás da boca e garganta, como nas amígdalas, no céu da boca, na úvula (campainha) e na língua;

Apesar do desconforto, a cicatrização ocorre sozinha dentro de um a sete dias. Durante esse período, a pessoa pode sentir dor ao engolir e dificuldade para se alimentar, além de perda de apetite;

A pessoa também pode ter dor de cabeça, sensação de mal-estar, cansaço e inchaço nos gânglios linfáticos (ínguas);

Em alguns casos, podem surgir rigidez no pescoço, confusão mental, dificuldade respiratória ou até convulsões febris, especialmente em crianças pequenas;

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No caso dos bebês, pode ser difícil perceber os sintomas, mas eles podem apresentar salivação excessiva (sialorreia), irritabilidade e até vômitos devido ao desconforto na boca.

Depois que uma pessoa se recupera da herpangina, seu corpo desenvolve uma imunidade duradoura contra o tipo específico do vírus que a infectou. No entanto, como existem outros tipos de enterovírus que podem causar a doença, é possível pegar herpangina mais de uma vez, caso o novo episódio seja causado por uma cepa diferente de microrganismo.

Possíveis complicações

A herpangina é geralmente uma infecção leve e de curta duração, resolvendo-se espontaneamente dentro de uma semana a 12 dias. No entanto, em casos raros, especialmente em bebês, crianças pequenas e pessoas com imunidade comprometida, ela pode levar a complicações mais graves, incluindo:

Miocardite (inflamação do músculo cardíaco): pode levar a arritmias cardíacas, dor no peito, falta de ar e fadiga extrema;

Encefalite (inflamação do cérebro): os sintomas podem incluir febre persistente, confusão mental, sonolência excessiva, convulsões e até coma;

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Meningite viral (inflamação das membranas do cérebro e da medula espinhal): causa dor de cabeça intensa, rigidez no pescoço, sensibilidade à luz e febre alta;

Paralisia flácida: ocorre quando o vírus afeta os nervos motores, resultando em fraqueza muscular e perda de movimento em membros.

Se houver suspeita de herpangina, é importante procurar um pediatra para avaliação e tratamento adequado. Agora, se a criança apresentar sinais de complicações, como dificuldade para respirar, dor de cabeça intensa, fraqueza muscular e/ou outros sintomas incomuns, deve-se procurar o pronto-socorro imediatamente.

Diagnóstico costuma ser clínico

O diagnóstico da herpangina é feito pelo pediatra com base nos sintomas e no exame físico, especialmente na análise clínica das lesões na boca. Geralmente, não é necessário realizar testes laboratoriais para confirmar a presença do vírus, pois as características da doença já são bastante específicas.

No entanto, em casos duvidosos ou mais graves, podem ser solicitados exames complementares, como PCR (feito a partir de amostras das feridas, bolhas, fezes ou líquido cefalorraquidiano) para identificar o vírus e descartar outras doenças com sintomas similares, como eczema herpético (causada pelo vírus herpes simplex), síndrome do choque tóxico (rara e grave, causada por toxinas liberadas por bactérias Staphylococcus aureus ou Streptococcusou) e doença de Kawasaki (inflamação dos vasos sanguíneos que, se não tratada, pode afetar o coração).

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Tratamento e medidas de prevenção

O tratamento da herpangina foca no alívio dos sintomas, já que não há medicamentos específicos para eliminar o vírus. O pediatra pode recomendar analgésicos e antitérmicos, como paracetamol ou ibuprofeno, para reduzir a febre e aliviar a dor de garganta.

A hidratação é fundamental, pois a febre alta pode levar à desidratação, principalmente em bebês. É importante oferecer bastante líquido, como água, leite materno ou fórmula. Para bebês menores de seis meses, o ideal é aumentar a frequência das mamadas.

Como as feridas na boca podem dificultar a alimentação, recomenda-se oferecer comidas macias e frias, como iogurte natural, purês e sopas, evitando alimentos salgados ou ácidos, que podem causar mais desconforto.

O repouso em um ambiente ventilado ajuda o corpo a se recuperar e reduz o risco de transmissão. E, como dissemos, a criança não deve frequentar a escola ou creche enquanto tiver febre e lesões na boca.

Para prevenir a disseminação do vírus, é complementar manter uma boa higiene, lavando bem e frequentemente as mãos, especialmente após trocar fraldas, roupas contaminadas ou limpar secreções. Evitar o contato com saliva e lesões abertas também reduz as chances de contágio.

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Além disso, evitar o compartilhamento de objetos pessoais também ajuda a prevenir a propagação do vírus.

Em casos mais graves, como convulsões febris, pode ser necessário tratamento hospitalar com medicamentos administrados na veia.

Fontes: Clery Bernardi Gallacci, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP); Daniel Jarovsky, infectologista e pediatra do Fleury Medicina e Saúde; Izabella Sad, pediatra e professora da Faculdade de Ensino Superior da Amazônia Reunida - Fesar/Afya.

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