Calor extremo dá 'pane' no corpo; veja os riscos e saiba como se proteger

Calor excessivo é quando a temperatura está tão alta que o corpo tem dificuldade para se regular, principalmente por muito tempo. Isso pode trazer vários riscos à saúde, como veremos mais adiante.

Alguns sinais que ajudam a identificar quando o calor se torna extremo incluem:

Temperaturas acima de 35 °C a 40 °C, especialmente com umidade alta;

Sensação térmica muito elevada, que faz o corpo experimentar ainda mais calor do que o termômetro mostra;

Noites abafadas, quando a temperatura não diminui o suficiente para o corpo conseguir descansar e se recuperar adequadamente;

Alta exposição ao sol, sem possibilidade de sombra ou ventilação.

Vale esclarecer que a sensação térmica não é a mesma coisa que a temperatura medida no termômetro. Ela representa como o corpo realmente sente o calor, e pode ser mais alta ou mais baixa que a temperatura real. Isso acontece porque vários fatores influenciam essa percepção, como:

Umidade relativa do ar: quanto maior, mais difícil é para o suor evaporar da pele. Logo, atrapalha o principal mecanismo de resfriamento do corpo, fazendo com que o calor "grude" na pele.

Vento (ou sua ausência): a circulação do ar ajuda a evaporar o suor e a refrescar o corpo. No entanto, em dias abafados e sem vento, o corpo se aquece com mais facilidade. Já quando há ventos quentes, a sensação térmica pode até se intensificar.

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Radiação solar direta: ficar exposto diretamente ao sol faz a pele absorver mais calor. Mesmo que a temperatura do ar esteja, por exemplo, em 32 °C, no sol direto, a sensação térmica pode ultrapassar os 40 °C.

Roupas e isolamento térmico: peças escuras ou feitas de tecidos sintéticos retêm mais calor. Usar muitas camadas, mesmo em ambientes com ar-condicionado, também pode aumentar a sensação de abafamento.

Atividade física intensa: o corpo gera calor interno ao se movimentar ou fazer exercícios. Quanto mais vigorosa a atividade, maior a produção de calor.

Ambientes fechados e mal ventilados: lugares sem circulação de ar acumulam calor, especialmente se houver muitas pessoas ou aparelhos eletrônicos em funcionamento.

Como o corpo superaquece

O corpo humano mantém sua temperatura interna em torno de 36,5 °C a 37 °C graças aos mecanismos de autorregulação que envolvem o cérebro, os vasos sanguíneos e as glândulas sudoríparas (responsáveis por produzir o suor). Quando a temperatura externa sobe ou quando o corpo produz calor em excesso (como durante o exercício físico), o hipotálamo (a parte do cérebro responsável pelo controle térmico) entra em ação para manter o equilíbrio.

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O principal mecanismo de resfriamento do corpo é o suor: ele é produzido pelas glândulas sudoríparas, se acumula na pele e, ao evaporar, retira calor do corpo. Além disso, ocorre a vasodilatação periférica, em que os vasos sanguíneos se expandem para aumentar o fluxo de sangue na superfície da pele, facilitando a troca de calor com o ambiente.

Porém, quando a temperatura ambiente está muito alta, especialmente com umidade elevada, esses mecanismos se tornam menos eficazes. O suor não evapora com facilidade, e a vasodilatação já não consegue liberar calor suficiente. Com isso, o corpo começa a reter calor, e a temperatura interna sobe gradualmente. Se essa elevação ultrapassar a capacidade de compensação do organismo (geralmente acima de 40 °C), ocorre o superaquecimento, ou hipertermia.

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O que é a hipertermia?

A hipertermia é o aumento anormal da temperatura corporal quando o corpo não consegue dissipar calor de forma eficiente, geralmente por causa de fatores externos como calor intenso, umidade alta, esforço físico excessivo ou ambientes mal ventilados.

Diferente da febre, que é uma resposta controlada do organismo a infecções, a hipertermia ocorre quando os mecanismos naturais de resfriamento falham, fazendo a temperatura interna subir sem controle. Quando essa temperatura ultrapassa 40 °C, há risco real de danos ao cérebro, coração, aos rins e outros órgãos vitais.

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Existem graus de hipertermia, sendo o mais grave a insolação (ou golpe de calor), uma emergência médica que pode causar confusão mental, perda de consciência, convulsões e até a morte, se não for tratada rapidamente.

Quais os principais sintomas?

Quando o corpo está sofrendo com calor excessivo e entra em um quadro de hipertermia, os sintomas surgem à medida que a temperatura interna se eleva perigosamente. Os principais incluem:

Temperatura corporal elevada, geralmente acima de 40 °C;

Pele quente, seca e avermelhada (em casos avançados, pode não haver mais suor);

Náuseas e vômitos;

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Tontura e fraqueza intensa;

Dor de cabeça forte;

Confusão mental, desorientação ou fala arrastada;

Batimentos cardíacos acelerados (taquicardia);

Respiração rápida e superficial;

Cãibras musculares;

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Desmaios ou perda de consciência.

Esses sintomas indicam que o corpo não está conseguindo se resfriar e que há risco de danos aos órgãos, que podem vir à falência.

Quanto à sede, é um sintoma comum nos estágios iniciais de exposição ao calor excessivo e pode estar presente em casos de hipertermia leve a moderada, especialmente como sinal de desidratação. Mas é importante saber que, em casos mais graves de hipertermia, ela pode desaparecer, mesmo com o corpo ainda gravemente desidratado —o que torna a situação ainda mais perigosa. Por isso, não sentir sede em ambientes muito quentes não significa que está tudo bem.

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O que o calor excessivo pode causar?

Desidratação: acontece quando o corpo perde mais líquidos do que repõe, o que prejudica funções importantes como o controle da temperatura e a circulação. Em dias muito quentes, essa perda aumenta com o suor, podendo levar à hipertermia. Os sintomas vão de sede intensa e boca seca a tontura, dor de cabeça e, em casos graves, confusão mental e queda de pressão.

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Queda de pressão e desmaios: em dias muito quentes, o corpo dilata os vasos sanguíneos para tentar se resfriar, o que pode reduzir a pressão arterial. Esse efeito é mais comum em pessoas desidratadas, com alimentação inadequada ou que ficam em pé por muito tempo. Como resultado, o cérebro pode receber menos sangue por alguns instantes, causando tontura, visão embaçada, visão turva, fraqueza e até desmaios.

Cãibras por calor: são contrações musculares dolorosas causadas pela perda de sais minerais pelo suor durante ou após esforço físico em ambientes quentes. Afetam geralmente pernas, braços ou abdômen e sinalizam que o corpo está começando a perder o controle do equilíbrio de líquidos e sais, podendo evoluir para problemas mais graves.

Exaustão térmica: é causada pela exposição prolongada ao calor intenso, com grande perda de líquidos e sais pelo suor. É um alerta de que o corpo está com dificuldade para controlar a temperatura. Os sintomas incluem suor excessivo, pele úmida e fria, fraqueza, tontura e náuseas. Sem cuidados, pode evoluir para insolação, uma condição perigosa e potencialmente fatal.

Insolação: é a forma mais grave de hipertermia, com temperatura corporal acima de 40 °C e falha na capacidade de resfriamento do corpo. Causa sintomas como pele quente e seca, dor de cabeça forte, confusão mental, tontura e, em casos graves, desmaios ou convulsões. É uma emergência médica que pode afetar órgãos vitais e precisa de atendimento imediato.

Agravamento de doenças respiratórias: o calor intenso, junto com ar seco e poluição, pode agravar doenças respiratórias como asma, bronquite crônica e DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica). O ar quente irrita as vias respiratórias, aumentando a inflamação e dificultando a respiração. Nesses casos, é comum a pessoa apresentar falta de ar, chiado no peito, tosse frequente e cansaço até em atividades leves.

Infarto: esse risco aumenta porque a perda de líquidos engrossa o sangue e sobrecarrega o coração. Isso pode desencadear crises, especialmente em quem já tem problemas cardíacos. Os principais sintomas incluem dor no peito, falta de ar, suor excessivo, tontura e náuseas.

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AVC isquêmico: o calor extremo, aliado à desidratação, pode aumentar o risco de AVC (acidente vascular cerebral) isquêmico, causado por obstrução de vasos sanguíneos no cérebro. Sinais de alerta incluem dormência em um lado do corpo, dificuldade para falar ou entender, alterações na visão e perda de equilíbrio ou coordenação.

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Quem está mais vulnerável?

O calor pode afetar qualquer pessoa se os cuidados não forem tomados, mas é especialmente perigoso para idosos, crianças, gestantes e pessoas com doenças crônicas, como hipertensão, hipotensão, diabetes, problemas cardíacos, renais, respiratórios e neurológicos, que têm menor capacidade de reagir ao estresse térmico.

Também estão mais vulneráveis pessoas em situação de rua e trabalhadores expostos ao sol por longos períodos, como vendedores ambulantes, garis, pedreiros e agricultores.

Episódios de mal-estar em dias muito quentes, especialmente se acompanhados de confusão mental, pele quente e seca, ausência de suor ou perda de consciência, devem ser tratados com urgência, pois indicam que o calor está colocando a vida da pessoa em risco.

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Para aliviar o calor e se proteger

Hidrate-se ao longo do dia, mesmo sem sentir sede. Além da água, vale apostar em líquidos como suco de frutas e água de coco.

Evite bebidas que desidratam, como alcoólicas, refrigerantes, café ou sucos muito adoçados. Elas atrapalham a reposição de líquidos.

Alimente-se de forma leve e refrescante. Dê preferência a pratos com pouca gordura, sem tempero e consumidos em porções pequenas. Inclua alimentos com alto teor de água, como frutas e vegetais crus.

Use roupas leves e claras, que não abafem o corpo e ajudem a manter a temperatura mais baixa.

Durante a noite, troque os tecidos pesados por lençóis leves e vista menos roupa para dormir. Cuide especialmente de bebês, idosos e pessoas acamadas, que são mais vulneráveis ao calor.

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Deixe o ar circular nos ambientes. Abra as janelas nos momentos mais frescos do dia ou use ventiladores, toalhas molhadas, bacias com água ou aparelhos que umidifiquem o ar.

Na rua, exposto ao calor, procure abrigo em locais com ar-condicionado, como mercados, shoppings ou outros espaços públicos, sempre que possível.

Evite se expor ao sol entre 10h e 16h. Se for necessário sair, proteja-se com filtro solar, boné ou chapéu, óculos escuros e procure caminhar pela sombra.

Se estiver fazendo esforço físico, faça pausas para descansar e se refrescar.

Banhos frios ao longo do dia ajudam a baixar a temperatura corporal e a aliviar o mal-estar.

Jamais deixe crianças ou animais sozinhos em veículos fechados. Mesmo com janelas abertas, o calor interno pode subir em poucos minutos e causar riscos graves à saúde.

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Ofereça água com frequência a quem não pode pedi-la sozinha, como bebês, idosos, pessoas doentes e animais de estimação —a sede nem sempre é percebida nesses casos.

Quando buscar ajuda médica

A presença dos seguintes sintomas exige atenção médica urgente:

Temperatura corporal acima de 39 °C e sem suor (pele seca e quente);

Confusão mental, desorientação ou fala arrastada;

Desmaios, convulsões ou perda de consciência;

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Vômitos persistentes ou incapacidade de ingerir líquidos;

Respiração ou batimentos cardíacos muito acelerados;

Ficar sem urinar por mais de oito horas ou apresentar urina muito escura;

Quadro de mal-estar geral que não melhora com repouso, hidratação ou resfriamento.

Esses sinais podem indicar uma condição grave, como insolação ou hipertermia avançada, e o atendimento médico é fundamental para evitar complicações graves ou até risco de morte.

Em se tratando da hipertermia, o tratamento deve ser feito em hospital, com banhos frios, compressas geladas, hidratação com soro na veia e acompanhamento médico intensivo.

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Em casos leves, é possível tratar a desidratação em casa com água, sucos, água de coco ou bebidas com sais minerais (como isotônicos). Já em casos mais graves, é necessário procurar um hospital para receber hidratação intravenosa com soro.

Apesar de não serem tão graves, as câimbras por calor precisam ser tratadas para evitar que evoluam para quadros mais sérios. O ideal é descansar em um lugar fresco, alongar o músculo afetado, beber líquidos ricos em sais e, se possível, aplicar compressas frias.

A insolação é uma emergência médica e exige tratamento imediato em hospital, com resfriamento rápido do corpo e soro na veia. Se não for tratada a tempo, pode causar danos graves ao cérebro, aos rins e a outros órgãos.

Já a exaustão térmica é uma condição séria, mas geralmente reversível, se tratada a tempo. O tratamento envolve descansar em local fresco e ventilado, afrouxar as roupas, aplicar panos úmidos e frios na pele e beber líquidos aos poucos. Se a pessoa não melhorar em pouco tempo, é importante procurar um serviço de saúde, pois a exaustão pode evoluir para insolação.

Importante: se alguém passar mal por causa do calor (desmaiar, sentir dor no peito, ter dificuldade para falar ou entender, ficar muito confuso ou não conseguir respirar), ligue imediatamente para o SAMU (192) ou para os Bombeiros (193). Eles são treinados para lidar com emergências e podem levar a pessoa rapidamente ao hospital.

Fontes: André Maurício, clínico-geral e cardiologista pela FMB-UFBA (Faculdade de Medicina da Bahia, da Universidade Federal da Bahia); Bianca Oliveira, nutricionista da Clínica Escola de Nutrição, da Unicid; Leonardo Barros, enfermeiro emergencista, intensivista e instrutor do Samu de Campina Grande, na Paraíba.

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Referências: Ministério da Saúde

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