Pele irritada após se barbear? Técnica errada pode causar foliculite

Seja para manter o visual alinhado ou remover todos os pelos, fazer a barba nem sempre é tranquilo para alguns homens. É que, em alguns casos, cuidar dos pelos faciais vira um verdadeiro desafio dermatológico, principalmente pelo surgimento da foliculite.

O gatilho pode parecer inofensivo: um pequeno corte com a lâmina, um poro entupido ou uma simples irritação causada pelo vai-e-vem da lâmina. Esses microtraumas acabam funcionando como uma porta de entrada para bactérias oportunistas, como a Staphylococcus aureus.

"A foliculite é uma infecção que afeta o interior dos folículos pilosos, as estruturas que abrigam a raiz dos pelos, especialmente na região da barba", explica Juliane Viana, médica pela PUC-SP, com especialização em cirurgia dermatológica.

E se você acha que não pode piorar, está enganado: fatores alterações na microbiota natural da pele, excesso de suor, umidade constante e até predisposição genética ajudam a manter a inflamação ativa —ou a trazê-la de volta com frequência.

Conhece a pseudofoliculite?

Apesar do nome parecido, essa condição tem outra origem. "É uma inflamação provocada pelo uso da lâmina, que pode fazer o pelo encravar ao crescer", continua Viana. O problema é comum em quem tem fios mais grossos ou encaracolados, que, ao tentar atravessar a pele, acabam se curvando para dentro ou crescendo de lado, gerando irritação.

Ricardo H. Kitamura, dermatologista e coordenador médico de pós-graduação do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional, complementa: "Enquanto a foliculite envolve microrganismos que inflamam e infeccionam os folículos, a pseudofoliculite surge do trauma mecânico do barbear".

Funciona assim: o corte remove a parte superior do fio (geralmente mais fina) e deixa o restante dele, mais grosso, para seguir crescendo —e ele acaba entrando na pele como uma pequena lança. O visual pode enganar —bolinhas vermelhas, ardência e coceira— mas a causa (e o tratamento) é outra.

O que está por trás da foliculite?

Na maioria das vezes, a foliculite verdadeira é uma infecção de pele. Bactérias como Staphylococcus aureus são as principais responsáveis, mas não atuam sozinhas.

Continua após a publicidade

Outros microrganismos, como Pseudomonas aeruginosa (comum em ambientes úmidos como banheiras e piscinas) e até fungos ou ácaros da pele, também podem estar por trás da inflamação, mas são casos mais raros ou específicos (ex: foliculite por malassezia ou demodicose).

Esses agentes oportunistas se aproveitam de microlesões provocadas pelo barbear ou de poros obstruídos para invadir os folículos pilosos e causar estragos. Entre os principais fatores de risco, estão:

Infecções bacterianas, principalmente por Staphylococcus aureus;

Uso de lâminas de barbear contaminadas ou mal higienizadas;

Atrito constante na região da barba, causado por golas apertadas, capacetes ou equipamentos de proteção;

Pele oleosa ou com tendência à acne, que facilita a obstrução dos poros.

Continua após a publicidade

Já a pseudofoliculite normalmente é causada pela dificuldade que o pelo tem em romper a barreira cutânea morta, por conta da depilação com lâmina. Entre os gatilhos mais comuns para essa condição, destacam-se:

Técnica inadequada de barbear, como raspar muito rente à pele;

Pelos encaracolados ou curvados, que têm maior tendência a encravar;

Uso de navalhas ou barbeadores que puxam o fio antes de cortá-lo, facilitando seu retorno à pele.

A dermatologista Maura Simonetti Junqueira Bourroul, do Fleury Medicina e Saúde, pede atenção com "o uso de lâminas que estão sem corte, usadas em várias direções, não respeitando a direção que nasce o pelo, e de lâminas mais modernas, que têm duas ou três lâminas, causando maior atrito da pele com o folículo".

Imagem
Imagem: Ocskay Mark/AdobeStock
Continua após a publicidade

Sinais de que a pele não está bem

Tanto a foliculite quanto a pseudofoliculite se manifestam de forma semelhante, confundindo até os mais atentos. No que compete à primeira, os sintomas incluem:

Vermelhidão;

Prurido (coceira);

Às vezes até pústulas —que são como pequenas espinhas com conteúdo purulento, resultado da infecção e inflamação;

Nos casos mais intensos, pode haver edema, dor e calor local acentuado.

Continua após a publicidade

Agora, a pseudofoliculite, por não envolver microrganismos infecciosos, tende a formar mais pelos visivelmente encravados e, por vezes, nódulos mais profundos e dolorosos —o que pode ser confundido com espinhas internas ou até furúnculos.

Sintomas em comum:

Pequenas bolinhas vermelhas ou com pus ao redor dos pelos;

Coceira e sensação de ardência;

Dor ao toque;

Calor e inchaço na região afetada;

Continua após a publicidade

Em casos mais severos, podem surgir crostas e até cicatrizes.

"A médio e longo prazo, é comum que a pele fique marcada por manchas amarronzadas, resultado da inflamação repetida causada por episódios frequentes de foliculite ou pseudofoliculite na região da barba. Esse quadro é conhecido como hiperpigmentação pós-inflamatória", explica a dermatologista Maura Simonetti.

Dica para diferenciar:

A foliculite verdadeira costuma evoluir com presença de pus e sinais claros de infecção.

A pseudofoliculite se revela por pelos que não conseguem atravessar a pele, formando lesões mais profundas e dolorosas, sem secreção purulenta, mas com forte inflamação.

Como saber se é foliculite --e o que fazer

Na maioria dos casos, o diagnóstico de foliculite é clínico, ou seja, feito a olho nu por um profissional capacitado, geralmente um dermatologista. Mas atenção: o olhar vai muito além da superfície, envolve um exame físico bem detalhado.

Continua após a publicidade

"Avaliamos ainda os hábitos do paciente, o tipo de depilação/barbear que realiza, a densidade e espessura dos pelos da barba, e até aspectos do dia a dia que favorecem ou inibem a proliferação de microrganismos na pele", explica Juliane Viana.

Ou seja, o médico não vê apenas a pele: ele investiga o estilo de vida do paciente. Em casos atípicos, persistentes ou com sintomas que não batem com o quadro típico, o profissional pode solicitar a coleta de material da lesão para cultura. Isso permite detectar se há infecção e qual bactéria está por trás da condição.

Tratamentos sob medida

O tipo de abordagem é guiado pela causa. "Na foliculite infecciosa, usamos sabonetes antissépticos, antibióticos tópicos como a mupirocina e, em casos mais graves, antibióticos orais", aponta o dermatologista Ricardo H. Kitamura. A ideia é controlar os agentes invasores e acalmar a inflamação.

Já na pseudofoliculite, o enfoque muda. Como não há infecção, o objetivo é evitar que os pelos encravem e irritem a pele. Para isso, recomenda-se:

Mudar ou corrigir a técnica de barbear, evitando raspar muito rente à pele e contra a direção de crescimento do pelo;

Continua após a publicidade

Aplicar cremes com ácidos esfoliantes, como glicólico ou salicílico, que ajudam a esfoliar a camada superficial e liberam os fios;

Usar cremes anti-inflamatórios para reduzir a vermelhidão e a dor;

Em casos crônicos, o laser pode ser um bom aliado, pois reduz o crescimento dos pelos e, consequentemente, a chance de encravarem.

É possível prevenir a foliculite?

Sim, tanto a foliculite quanto a pseudofoliculite podem ser evitadas com ajustes estratégicos na rotina de cuidados com a pele e os pelos. E tudo começa no momento do barbear —quando diversos gatilhos para a inflamação podem ser ativados ou evitados.

"Agressões repetidas à pele, como o barbear intenso, comprometem a integridade da barreira cutânea e favorecem a proliferação de microrganismos", explica Juliane Viana. Para ela, a chave da prevenção está na moderação: respeitar o tempo de recuperação da pele, manter o equilíbrio do microbioma cutâneo e evitar produtos que ressequem ou irritem a região.

Continua após a publicidade

Já a dermatologista Maura destaca condutas práticas: "Troca mais frequente da lâmina, não usar aparelhos de barbear com três ou quatro lâminas —preferir os mais simples, com uma ou duas—, fazer o uso apenas no sentido do crescimento do pelo e não em diversas direções", orienta.

Antes de passar a lâmina, um passo essencial é amolecer os pelos com água morna, o que facilita o corte e reduz o atrito com a pele. Também é importante usar um bom gel ou creme de barbear, para diminuir a fricção.

Após o barbear, Maura Simonetti recomenda usar sabonetes adequados ao tipo de pele e cremes calmantes e hidratantes, que ajudam a evitar a inflamação. Outro cuidado importante é limpar, higienizar e secar a lâmina a cada uso. "Às vezes é até mais prático usar lâminas descartáveis. E nunca guardar no box ou no banheiro, ambientes úmidos que favorecem a contaminação", alerta.

Ambas as médicas também indicam a depilação a laser como alternativa definitiva para pelos problemáticos. "O laser reduz significativamente ou elimina os pelos que causam a condição, e com isso diminui muito a recorrência dos episódios", reforça Juliane Viana.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.