Ardência ao engolir? Você sabia que aftas também aparecem na garganta?

A afta é uma feridinha branca, dolorida e insistente na boca conhecida de quase todo mundo: ela arde, incomoda e pode transformar algo simples, como comer ou falar, em um verdadeiro desafio. Mas o que nem todos sabem é que essas lesões também podem surgir na garganta.

Embora pareçam semelhantes, as aftas na garganta têm algumas diferenças importantes em relação às que aparecem na mucosa da boca. Enquanto estas costumam ser pequenas, superficiais e cicatrizam rapidamente, as da garganta tendem a ser mais profundas, dolorosas e causar mais incômodo ao engolir. Em muitos casos, elas também estão associadas a causas mais complexas.

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O que há por trás desse tipo de afta

As aftas na garganta podem surgir por diversos motivos, que vão desde pequenos machucados a alterações internas do corpo, e costumam aparecer na faringe (região atrás da boca, por onde passam o ar e os alimentos), especialmente nas amígdalas, na parede posterior da garganta ou no palato mole (parte posterior do céu da boca até a úvula, ou "campainha", e a região onde começa a faringe). As causas mais comuns incluem:

Traumas locais: lesões na garganta causadas por alimentos muito duros, escovação muito vigorosa, aparelhos ortodônticos ou até o refluxo gastroesofágico (quando o ácido do estômago sobe para o esôfago e a garganta) podem irritar a mucosa e provocar o aparecimento das aftas;

Queda da imunidade: o sistema imunológico é a defesa do corpo contra infecções e agressões. Quando ele está enfraquecido (seja por estresse, doenças ou má alimentação), o organismo fica mais vulnerável ao surgimento das aftas, que são como pequenos sinais de alerta da sua saúde;

Deficiências nutricionais: a falta de nutrientes importantes, como ferro, zinco e vitaminas do complexo B (incluindo a B12 e o ácido fólico), prejudica a regeneração das células da mucosa e pode facilitar o aparecimento dessas lesões dolorosas na garganta;

Alterações hormonais: mudanças nos níveis hormonais, que acontecem naturalmente em situações como o ciclo menstrual, podem influenciar o sistema imunológico e aumentar a predisposição para as aftas, sobretudo em mulheres.

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Relação com vírus e doenças autoimunes

Algumas infecções e doenças que afetam o sistema imunológico, como as chamadas doenças autoimunes (condições em que o corpo ataca, por engano, seus próprios tecidos saudáveis), podem deixar o organismo mais propenso a desenvolver aftas na garganta, que tendem a ser mais frequentes, dolorosas e difíceis de curar.

Herpes simples (HSV-1): o vírus do herpes simples tipo 1 é famoso por causar aquelas feridas nos lábios, mas também pode infectar a garganta, provocando lesões doloridas (vesículas que evoluem para úlceras, o que as diferencia das aftas comuns), febre e sensação geral de mal-estar;

HIV/Aids: pessoas com HIV, que provoca imunossupressão (ou seja, o enfraquecimento do sistema imunológico), podem apresentar aftas recorrentes e difíceis de tratar. Isso acontece porque o corpo fica menos capaz de combater infecções, e outras doenças virais ou fúngicas podem agravar a situação.

Doença celíaca: essa condição autoimune ocorre quando o organismo reage de forma exagerada ao glúten (proteína encontrada no trigo, centeio e cevada) provocando inflamações e sintomas variados, entre eles as aftas frequentes na boca e garganta;

Lúpus e Doença de Behçet: são exemplos de doenças autoimunes em que o sistema de defesa ataca o próprio corpo, causando inflamações em várias partes, inclusive na mucosa da boca e garganta. Além das aftas severas, pacientes podem sentir dores nas articulações, fadiga e outros sintomas que afetam órgãos diversos.

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Como identificar afta na garganta

Tecnicamente chamadas de úlceras aftosas, as aftas são pequenas lesões superficiais, esbranquiçadas ou amareladas no centro e com bordas avermelhadas. Elas aparecem em áreas de mucosa, como boca, palato mole e faringe (a parte posterior da garganta), e têm como característica principal a dor localizada.

Quando surgem na garganta, podem provocar:

Odinofagia (dor ao engolir), principalmente com alimentos quentes, ácidos ou temperados;

Sensação de ardência ou de "arranhado" na garganta;

Lesão visível, semelhante às aftas comuns da boca (se estiver em uma área acessível à visualização);

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Ausência de pus ou placas espessas (como nas infecções bacterianas);

Pouca ou nenhuma febre, a não ser em casos de queda de imunidade.

Algumas doenças, como amigdalite bacteriana, trazem sensações parecidas com a afta, mas exigem outro tipo de cuidado.
Algumas doenças, como amigdalite bacteriana, trazem sensações parecidas com a afta, mas exigem outro tipo de cuidado. Imagem: iStock

Doenças que imitam seus sintomas

Mas, atenção: nem toda ferida na garganta é uma afta. Esse tipo de úlcera pode ser confundido com uma série de outras lesões e inflamações:

Amigdalite bacteriana

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A inflamação das amígdalas por bactérias, como estreptococos, costuma provocar:

Placas de pus amareladas ou esbranquiçadas nas amígdalas (diferentes das úlceras pequenas das aftas);

Febre alta e dor de garganta intensa;

Mau hálito, inchaço nos gânglios do pescoço (ínguas) e mal-estar generalizado;

Necessidade de tratamento com antibióticos, prescritos por um médico.

Faringite viral

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Inflamação causada por vírus, como os da gripe ou resfriado. Caracteriza-se por:

Vermelhidão difusa na garganta, sem lesões bem definidas;

Desconforto moderado e dor para engolir;

Pode vir acompanhada de sintomas gripais como coriza, tosse, dor no corpo e febre leve.

Mononucleose infecciosa

Conhecida como "doença do beijo", é causada pelo vírus Epstein-Barr e costuma ser confundida com amigdalite:

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Amígdalas muito aumentadas e recobertas por placas esbranquiçadas;

Febre persistente, cansaço intenso e prolongado;

Ínguas inchadas em várias regiões do corpo (como pescoço e axilas);

Exige repouso e avaliação médica.

Lesões cancerígenas

Lesões malignas, como câncer de orofaringe ou laringe, geralmente apresentam características bem diferentes:

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Geralmente não doem no começo;

Feridas que não cicatrizam após duas ou mais semanas;

Bordas endurecidas e irregulares, sangramento e dor que pode irradiar para o ouvido;

Sintomas associados como rouquidão persistente, dificuldade para engolir, perda de peso e sensação de obstrução na garganta;

Demandam avaliação médica urgente e exames específicos, como biópsia.

Quanto tempo dura uma afta na garganta

Na maioria dos casos, as aftas na garganta cicatrizam espontaneamente. Elas incomodam, doem e atrapalham na hora de comer ou falar, mas, com um pouco de paciência (e o uso de medicamentos analgésicos, se for necessário), desaparecem em cerca de uma semana.

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O tempo de cura varia conforme a gravidade e o estado do sistema imunológico da pessoa:

Casos leves: entre sete e 10 dias;

Casos moderados a graves: até 14 dias;

Mais de 15 dias: hora de procurar um médico e investigar melhor.

No entanto, em casos como de úlceras aftosas maiores, mais profundas e extensas, o tempo de cicatrização pode se estender de semanas a meses.

Mas, como regra geral, se a lesão persiste por mais de duas semanas, é um sinal de alerta. Não se trata mais de uma simples afta, mas de uma lesão que pode ter outra origem —como infecções persistentes, doenças autoimunes ou até mesmo alterações pré-cancerígenas.

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Quando a afta exige atenção médica

Algumas situações exigem avaliação especializada. Fique atento se a lesão vier acompanhada de:

Febre persistente, mesmo após o desaparecimento da lesão;

Ínguas no pescoço, doloridas ou não;

Emagrecimento sem causa aparente;

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Fadiga intensa e prolongada;

Lesões em outras partes do corpo, como boca, genitais ou pele.

Esses sinais podem indicar que há algo mais acontecendo no organismo —e que a tal "afta" pode ser apenas a ponta do iceberg.

Quem procurar nesses casos?

Diante de uma lesão persistente, o ideal é procurar avaliação com um profissional de saúde. Dependendo da suspeita, diferentes especialistas podem ajudar:

Otorrinolaringologista: cuida da garganta, nariz e ouvidos — ideal para lesões na faringe, amígdalas e laringe;

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Dentista estomatologista: especialista em doenças da boca e da mucosa oral;

Clínico geral ou infectologista: pode iniciar a investigação e encaminhar conforme necessário;

Dermatologista ou reumatologista: úteis nos casos de aftas associadas a doenças autoimunes, como lúpus ou doença de Behçet.

Oncologista ou cirurgião de cabeça e pescoço: indicados se houver suspeita de lesões malignas ou câncer de orofaringe.

Exames que ajudam a diagnosticar

A maioria das aftas não precisa de exame nenhum. Mas quando as lesões na garganta não cicatrizam no tempo esperado, voltam com frequência ou apresentam características incomuns, é hora de investigar —e a medicina tem um combo de testes diagnósticos para isso.

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Exames de sangue

São os primeiros da lista, pois ajudam a identificar causas sistêmicas (aquelas que envolvem o corpo todo) e deficiências comuns:

Hemograma completo: avalia sinais de infecção, anemia e a saúde geral do sistema imunológico;

Ferro, ferritina, vitamina B12 e ácido fólico: carências desses nutrientes estão entre as principais causas de aftas recorrentes;

Glicemia ou hemoglobina glicada: níveis alterados de açúcar no sangue (como em casos de diabetes) prejudicam a cicatrização e favorecem infecções;

Sorologias para HIV, herpes simples (HSV), citomegalovírus e Epstein-Barr (mononucleose): esses vírus podem provocar lesões na garganta que se parecem (ou se confundem) com aftas;

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Exames autoimunes, como FAN (fator antinuclear): útil quando se suspeita de doenças como lúpus ou outras desordens imunológicas.

Exames específicos da garganta

Quando a suspeita recai sobre algo localizado na região da garganta, o especialista pode lançar mão de exames mais direcionados:

Nasofibrolaringoscopia: uma microcâmera acoplada a um tubo fino examina a fundo a garganta, a laringe e a faringe em tempo real —é indicado para detectar lesões escondidas ou persistentes;

Endoscopia digestiva alta: embora mais comum para o esôfago e estômago, pode ser útil se houver suspeita de refluxo ácido como gatilho das lesões;

Teste molecular (PCR): usado especialmente na fase aguda das infecções virais, para identificar com mais precisão o agente causador;

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Cultura de secreção: pode ser solicitada quando há presença de pus ou placas, para investigar infecções bacterianas.

Biópsia

Se os sinais continuam preocupando, vem o exame mais definitivo, que é a biópsia. Ela é indicada quando a lesão:

Não cicatriza após duas a três semanas, mesmo com tratamento;

Tem bordas irregulares, aspecto endurecido ou sangra com facilidade;

Vem acompanhada de sintomas como rouquidão persistente, dor irradiada para o ouvido, emagrecimento sem causa aparente e/ou ínguas no pescoço.

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Nesse exame, o médico retira um pequeno fragmento da lesão, que é enviado para análise histopatológica —ou seja, para o laboratório avaliar se as células presentes são benignas, inflamatórias, infecciosas ou malignas.

Como tratar uma afta na garganta

A maioria das aftas na garganta se cura sozinha, sem grandes complicações. Entretanto, quando algumas doem demais, voltam constantemente ou demoram mais que o esperado para sumir, o tratamento entra em cena e pode envolver desde um simples bochecho até medicamentos específicos, dependendo da causa e da gravidade.

Anestésicos locais (uso tópico):

Lidocaína em spray, gel ou solução: proporciona alívio temporário e imediato da dor;

Pastilhas anestésicas com benzocaína ou similares: ajudam a "adormecer" a região dolorida por um tempo.

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Agentes regeneradores (uso tópico):

Ácido hialurônico (gel ou spray): forma uma película protetora sobre a afta, alivia a dor e favorece a regeneração da mucosa. Deve ser aplicado diretamente sobre a lesão, conforme orientação profissional.

Anti-inflamatórios e corticoides:

Ibuprofeno e nimesulida (uso sistêmico) podem ser úteis quando a dor é mais intensa, sempre com orientação médica;

Corticoides tópicos (em pomada), como triancinolona acetonida, são usados diretamente sobre lesões acessíveis da mucosa oral, ajudando a reduzir a inflamação local, e devem ser prescritos por um profissional;

Corticoides orais (em comprimido), como prednisona, podem ser indicados em casos mais severos, por curto período, sob acompanhamento médico.

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Bochechos e enxaguantes:

Clorexidina (enxaguante antisséptico): pode ser recomendada por dentistas ou otorrinolaringologistas para reduzir a proliferação de bactérias e prevenir infecções secundárias.

Tratar a causa é importante também

Se a afta é apenas uma decorrência de outro problema, tratar a causa é essencial:

Infecções virais (como herpes simples): antivirais como aciclovir ou valaciclovir podem ser indicados;

Doenças autoimunes (como lúpus, Doença de Behçet): tratamento com imunossupressores ou corticoides de uso controlado;

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Deficiências nutricionais (B12, ácido fólico, ferro): reposição via suplementos ou alimentação orientada;

Imunossupressão ou HIV: exige abordagem multidisciplinar com infectologistas, imunologistas e nutricionistas.

Tratamento preventivo

Se você vive uma relação turbulenta com as aftas, prevenir pode ser o melhor remédio. E há medicamentos e medidas que ajudam, como:

Solução de sucralfato: age como um "curativo líquido", formando uma película protetora sobre a mucosa e auxiliando na cicatrização, especialmente útil em casos recorrentes;

Corticoides tópicos ou sistêmicos: podem ser usados em ciclos curtos e com acompanhamento médico para controlar surtos e reduzir a frequência das lesões.

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Também é importante identificar e controlar os gatilhos:

Não fume: o tabaco prejudica a circulação e o sistema imunológico, tornando a cicatrização mais lenta;

Gerencie o estresse: ele é um grande gatilho para o aparecimento de aftas —controlar a ansiedade e garantir uma boa noite de sono ajuda;

Mantenha uma boa higiene oral: escove os dentes com cuidado e use enxaguantes recomendados pelo dentista;

Não compartilhe objetos: talheres, copos e itens pessoais, principalmente em épocas de surtos de gripe ou infecções virais;

Evite traumas locais: cuidado com a força ao escovar, use escovas macias e evite alimentos que machuquem a mucosa;

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Fuja de certos cremes dentais: com laurilsulfato de sódio, um detergente espumante comum, podem irritar mucosas sensíveis.

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Alimentos que pioram - para se evitar

A mucosa inflamada reage com dor e ardência quando entra em contato com certos alimentos, especialmente os ácidos, salgados, crocantes ou muito temperados. Saber o que evitar pode fazer toda a diferença na recuperação:

Ácidos: laranja, limão, abacaxi, maracujá, kiwi, tomate, vinagre.

Motivo: a acidez agride diretamente a mucosa inflamada, intensificando a ardência e dificultando a cicatrização.

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Apimentados e muito condimentados: pimenta, curry, mostarda, molhos industrializados.

Motivo: podem ampliar a inflamação local e agravar a sensação de queimação na garganta.

Muito salgados: embutidos (como presunto, salame), batatas fritas, salgadinhos de pacote.

Motivo: o excesso de sal desidrata a mucosa e acentua o desconforto.

Duros ou crocantes: torradas, castanhas, biscoitos secos.

Motivo: machucam fisicamente a região lesionada, podendo agravar ou prolongar o tempo ativo da ferida.

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Bebidas alcoólicas e refrigerantes: incluindo vinhos, cervejas, destilados e refrigerantes com gás.

Motivo: o álcool é um irritante da mucosa e pode retardar a regeneração do tecido.

O que consumir? Alimentos que ajudam

Optar por alimentos macios, frios ou mornos e pouco temperados pode ajudar a acalmar a dor e acelerar a recuperação da afta de garganta. Entre os listados pelos especialistas, temos:

Sucos naturais não ácidos: como os de maçã ou pera;

Purês cremosos: feitos com batata, abóbora, mandioquinha ou cenoura;

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Sopas e caldos suaves: em temperatura ambiente ou morna (evite sopas muito quentes);

Iogurte natural ou gelatina: aliviam a ardência e são fáceis de engolir;

Mingaus e alimentos pastosos: cremes com aveia, arroz; queijos amassados;

Muita água: hidratar-se também é essencial para o processo de cicatrização da mucosa.

Fontes: Henrique Árabe, otorrinolaringologista do Hospital Cema (SP); Marco Antônio Viana, otorrinolaringologista e coordenador médico do pronto atendimento digital e do ambulatório de tele especialidades da saúde digital do Grupo Fleury; Michelle Queiroz Aguiar Brasil, otorrinolaringologista e professora do curso de medicina da Unime, unidade Lauro de Freitas (BA).

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