Corpo e mente em equilíbrio

Mãe de três, Danielle perdeu 25 kg após superar a depressão e a fome emocional; veja o treino e a dieta dela

Bárbara Therrie Colaboração para o VivaBem Mariana Pekin

Nem gorda, nem sarada. O peso de Danielle Santos, 30, sempre oscilou entre 64 kg e 74 kg. Quando o número na balança estava um pouco acima do normal, a barriga mais saliente, o braço mais grosso e o rosto mais fofinho passavam quase que despercebidos graças ao seu 1,70 m de altura —e nunca incomodaram a hoje consultora de bem-estar.

O peso só se tornou um problema para a paulistana na terceira gestação. Diagnosticada com depressão e síndrome do pânico, Dani passou a descontar os sentimentos negativos na comida e ganhou 27 kg.

"Desenvolvi compulsão alimentar e fome emocional. Passava o dia chorando e comendo de tudo, sem limite", conta. Isso incluía quatro pães no café da manhã e muita massa, fast-food e doces nas outras refeições.

Após o nascimento da caçula, Isadora, a paulistana ainda viveu um período de tristeza —chamado de baby blues. Diante de tanto sofrimento e com 95 kg, a consultora já não se reconhecia mais no espelho: "Foi um choque, nunca tinha engordado tanto. Olhava para o meu corpo, a barriga flácida e deformada, o rosto inchado e me perguntava: 'Quem é essa pessoa?'".

A aparência física não agradava Danielle, mas o estado emocional era o que mais a incomodava. Estava cansada de chorar, de sofrer e de se sentir inferior. Precisava virar a chave e dar um basta na situação.

O 'Projeto Vidão' de Danielle

Com três filhos e quase 30 anos, Dani sabia que a missão que tinha pela frente não seria nada fácil. Mesmo assim, decidiu encarar o desafio e começou, em agosto de 2020, o seu "Projeto Vidão" —nessa época, ela já estava com 88 kg, pois emagreceu um pouco ao amamentar.

O nome foi escolhido pois ela não queria um "Projeto Verão", em que as pessoas visam emagrecer em curto prazo só para colocar um biquíni ou uma sunga. Seu objetivo era algo que durasse para sempre e transformasse sua vida.

A primeira mudança foi na cabeça, com um novo olhar de autocuidado e de carinho para si mesma. "Nosso corpo é capaz de alcançar muitas coisas, nossa mente é que nos limita."

Ela começou a fazer 15 minutos de meditação ao acordar e a praticar ho'oponopono —técnica havaiana antiga que foca na busca pela paz interior, pelo amor, pelo perdão, por ter pensamentos positivos e em ser mais grato pela vida. "Vou cuidar da minha saúde" e "vou me olhar com mais carinho" eram frases que Dani repetia frequentemente.

Tudo isso foi importante para a consultora ter mais bem-estar, controlar as emoções negativas e melhorar a relação com a alimentação.

Treino em casa e cardápio sem regras complicadas

O segundo passo foi acabar com a desculpa de que não tinha tempo para praticar atividade física. Mesmo com três filhos, ela organizou a rotina e começou a treinar em casa, de segunda a sábado, por cerca de uma hora.

Para fazer os exercícios, Danielle usava o peso do corpo ou coisas que tinha no armário da cozinha e no guarda-roupa, como saco de 5 kg de arroz, galão de água, malas e mochilas cheias de livros etc. (abaixo mostramos o treino que ela fez em casa para emagrecer).

Com a ajuda da mãe, a paulistana passou a preparar cardápios saudáveis, com "comida de verdade". Suas refeições tinham verduras, legumes, cereais integrais, carnes, ovos (mais abaixo, damos um exemplo do cardápio de um dia de Danielle). A paulistana ainda deixou de consumir fast-food e refrigerante e diminuiu em 90% a ingestão de açúcar refinado e de produtos com farinha branca. Para matar a vontade de comer doces, investiu em sobremesas low carb.

Além disso, adotou estratégias que contribuíram para estabelecer que essa seria sua alimentação normal, para o resto da vida, não um regime complicado, difícil de seguir no dia a dia. "Não dei o nome de dieta, não fiquei pesando a comida e não estabeleci horários regrados para me alimentar. Colocava no prato a quantidade que achava suficiente para me nutrir e ficar saciada", conta. "Quando criamos muitas regras e não conseguimos cumpri-las, geramos uma ansiedade que pode virar frustração."

Dicas para ter bons resultados treinando em casa

  • Elimine distrações

    Faça exercícios sempre com orientação de um profissional e leve o momento do treino a sério. Desligue a TV, não mexa no celular e não execute tarefas de casa ou outras atividades paralelas. Isso pode atrapalhar a intensidade da atividade --você acaba dando uma pausa nos exercícios maior do que deve, por exemplo-- e fazer com que ela não promova os resultados esperados, explica a profissional de educação física e colunista do VivaBem Taise Spolti. Preste muita atenção na execução dos movimentos, para realizá-los corretamente.

  • Aposte nos movimentos certos

    Exercícios de força que trabalham vários grupos musculares de uma vez, como agachamento, afundo, flexão de braços, barra fixa, burpee e remadas, são boas opções para o treino em casa. Além de muitos deles não exigirem acessórios para serem realizados, Taise explica que esses movimentos proporcionam grande gasto calórico e ajudam a reduzir a duração do treino (por trabalharem várias partes do corpo ao mesmo tempo).

  • Intensifique os exercícios

    Conforme seu condicionamento físico melhora, é preciso aumentar a intensidade do treino para seguir desafiando o corpo e gerar adaptações para que ele evolua. Isso pode ser feito, por exemplo, elevando a carga nos exercícios (usando halteres, elásticos ou saco de arroz, caixa de leite etc., como fez Danielle); realizando movimentos unilaterais (em que somente uma perna ou um braço é responsável por levantar a carga); ou diminuindo o tempo de intervalo entre as séries.

  • Respeite o descanso

    É durante o período de recuperação que ocorrem as principais adaptações geradas pelo treino (como o ganho de massa muscular e a queima de gordura). Para permitir que o corpo se recupere adequadamente, o indicado é ter ao menos 48 horas de descanso entre um treino e outro para a mesma parte do corpo --mas você pode trabalhar outros grupos musculares. Também é recomendado ter ao menos um dia de descanso total na semana.

Como controlar a fome emocional

Cuidar da saúde mental foi essencial para Danielle controlar a compulsão alimentar e conseguir emagrecer. Luciana Garcia, psicóloga cognitiva-comportamental e especialista em transtornos alimentares, explica que é muito comum as pessoas sentirem "fome emocional" e extravasarem as emoções na comida —tanto as negativas quanto as positivas.

Para lidar com isso, é preciso identificar as situações em que buscamos os alimentos por causa de sentimentos como estresse, ansiedade, raiva ou até alegria. Depois, temos de encontrar formas, além da comida, de driblar ou equilibrar esses sentimentos. A seguir, Garcia dá dicas para lidar com o problema.

  1. Liste todas as suas refeições, apontando o nível de fome e como estavam suas emoções naquele momento. Assim, quando exagerar, saberá o motivo;
  2. Quando estiver com vontade de comer algo que o faz perder o controle, compre (ou prepare) apenas uma pequena porção;
  3. Permita-se comer o que gosta sem culpa, sempre controlando a quantidade e a frequência;
  4. Não fique muito tempo sem se alimentar, isso pode ser gatilho para a fome emocional;
  5. Planeje todas as refeições do dia, para evitar recorrer a lanches e fast-food;
  6. Descubra coisas que ajudam você a driblar o impulso de "comer emocionalmente", como tomar um banho, telefonar para alguém, jogar no celular, passear com o cachorro;
  7. Inclua na rotina práticas que ajudam a melhorar o humor e a controlar a ansiedade, como meditar, fazer exercícios, ler um livro.

6 mudanças na alimentação que ajudam no processo de perda de peso

  • Descasque mais e desembale menos

    Evite fast-food, frituras e produtos industrializados. Inclua no almoço e no jantar vegetais folhosos (couve, repolho, acelga, espinafre, alface, rúcula, agrião) e legumes crus e cozidos. Esses alimentos garantem bom volume alimentar (você consegue montar um prato cheio de comida) com poucas calorias, além de oferecerem grande aporte de fibras, que contribuem com a saciedade.

  • Faça da fruta sua sobremesa

    Em vez de bolos, sorvetes e pudins, tente criar o hábito de consumir frutas frescas para matar a vontade de doce. "Quando possível, coma as com casca e bagaço, para ter um maior aporte de fibras", diz Clarissa Hiwatashi Fujiwara, nutricionista e mestre em ciências pela USP (Universidade de São Paulo) e membro do Departamento de Nutrição da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).

  • Aposte nas proteínas

    O nutriente promove saciedade e ajuda a reduzir o índice glicêmico das refeições --o que evita picos de insulina, hormônio que incentiva o estoque de gordura corporal. Portanto, procure incluir fontes de proteínas animal (carnes, peixe, frango, ovos, laticínios) ou vegetal (feijão, lentilha, grão-de-bico) no café da manhã, almoço, jantar e lanches.

  • Prefira os carboidratos integrais

    Evite açúcar, pães, massas e outros alimentos feitos com carboidratos refinados (farinha branca). Eles são pobres em fibras e elevam rapidamente a glicemia --gerando um pico de insulina no organismo. Prefira sempre fontes integrais e naturais do nutriente, como arroz integral, aveia, batata-doce, mandioquinha.

  • Aposte em gorduras boas, mas com moderação

    Alimentos como azeite, castanha, nozes, amêndoas e semente de gergelim fornecem gorduras insaturadas, que fazem bem à saúde e dão saciedade. No entanto, como qualquer gordura, o nutriente é altamente calórico e deve ser consumido sem exagero, especialmente por quem deseja emagrecer.

  • Organize seu cardápio

    Planeje antecipadamente tudo o que você irá comer no dia (ou até na semana) --e deixe pronto o que for possível. Organizar suas refeições reduz o risco de você consumir fast-food na hora em que a fome "aperta". Evite também ter besteiras (doces, refrigerantes etc.) em casa, para não recorrer a esses alimentos nos momentos de ansiedade ou de muito fome.

O desafio diário de ser mãe, empreendedora, dona de casa e se cuidar

Danielle eliminou 8 kg e conquistou um resultado animador logo no primeiro mês de mudanças de hábitos. Mas ela não se apegou aos quilos durante o seu projeto. Para não entrar na "neura da balança" e ficar se pesando o tempo todo, decidiu observar a evolução em fotos que tirava a cada 15 dias.

Muito focada, ela secou 25 kg e chegou a 63 kg em apenas quatros meses. Com o bordão "Se olhe com carinho", a consultora resolveu compartilhar sua mudança de hábitos no Instagram (@_danynareal), para motivar outras pessoas que buscam emagrecer e ter mais saúde e bem-estar —em especial, mães como ela, que precisam cuidar da casa, dos filhos, trabalhar, treinar.

"Foi muito difícil dar o start e continua sendo um desafio diário conseguir me dividir em várias para fazer tudo funcionar: ser mãe de três, empreendedora, dona de casa e cuidar de mim."

Após emagrecer, Danielle trocou os exercícios em casa pela academia, onde treina cinco vezes por semana. E continua com uma alimentação equilibrada, mas hoje já se permite, às vezes, comer ou beber algo que não esteja em seu cardápio saudável. A fome emocional foi controlada e a paulistana afirma que o "Projeto Vidão", repleto de cuidados com o corpo e com a mente, seguirá para sempre.

"Meu corpo é a minha história. Seguirei me alimentando bem, meditando e fazendo exercícios, para ver até onde posso chegar."

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