Sem ação, mundo viverá grave epidemia de obesidade até 2050, diz estudo

Em um artigo acadêmico publicado nesta terça-feira (4), cientistas afirmam que sem uma ação forte e imediata dos governos, uma epidemia global sem precedentes de sobrepeso e obesidade afetará seis em cada dez adultos e uma em cada três crianças e adolescentes até 2050. Crise sanitária relacionada à doença também poderá sobrecarregar os sistemas de saúde.
Publicado na revista The Lancet, os resultados da pesquisa, que inclui dados de 204 países e territórios ao redor do mundo, é baseado em números do "Global Burden of Disease", um vasto programa financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates, que visa compilar dados de saúde da maioria dos países.
Os autores acreditam que a inação de governos diante da crescente crise de obesidade e sobrepeso nos últimos 30 anos levou a uma explosão alarmante no número de pessoas afetadas.
Entre 1990 e 2021, o número de pessoas nesta situação quase triplicou entre adultos com mais de 25 anos, passando de 731 milhões para 2,11 bilhões, e mais que dobrou entre crianças e adolescentes de 5 a 24 anos, passando de 198 para 493 milhões.
"Sem uma reforma política urgente e ações concretas, estima-se que 60% dos adultos, ou 3,8 bilhões de pessoas, e quase um terço (31%) das crianças e adolescentes, ou 746 milhões de menores, estejam com sobrepeso ou obesos até 2050", de acordo com o estudo.
Para enfrentar "um dos maiores desafios de saúde do século 21", devem ser adotados planos de ação quinquenais (2025-2030) com medidas-chave como "regulamentar a publicidade de alimentos ultraprocessados, integrar infraestruturas esportivas e parques infantis nas escolas, incentivar o aleitamento materno e dietas equilibradas desde a gravidez e desenvolver políticas nutricionais adaptadas a cada país", afirmam os autores.
O texto destaca que até 2050, um em cada três jovens que sofrem de obesidade —ou 130 milhões de menores— viverá no Norte da África e no Oriente Médio, seguidos pela América Latina e o Caribe, com graves consequências para a saúde, econômicas e sociais.
Pressão sobre os sistemas de saúde
A obesidade juvenil deve subir em 121% globalmente, com um total de 360 milhões de crianças e adolescentes obesos até 2050. Os primeiros a serem afetados, com um aumento acentuado esperado entre 2022 e 2030 globalmente, são os meninos de 5 a 14 anos. Em 2030, espera-se que haja mais obesos (16,5%) do que acima do peso (12,9%) nessa categoria.
Esta epidemia de obesidade aumentará ainda mais a pressão sobre os sistemas de saúde já sobrecarregados, especialmente em países com poucos recursos, já que até 2050 quase um quarto dos adultos obesos no mundo deve ter 65 anos ou mais.
"A prevenção da obesidade deve estar na vanguarda das políticas em países de baixa e média renda", disse a doutora Jessica Kerr, do Instituto de Pesquisa Infantil Murdoch, na Austrália, uma das principais autoras do estudo.
A pesquisadora pede "um compromisso político muito mais forte" com "estratégias abrangentes que melhorem a nutrição, a atividade física e o ambiente de vida das pessoas", avaliando que o período para ação é curto.
Crianças e adolescentes com sobrepeso em grande parte da Europa e do sul da Ásia precisam de estratégias preventivas, enquanto uma intervenção urgente é necessária para muitos adolescentes prestes a se tornarem obesos na América do Norte, Austrália, Oceania, Norte da África, Oriente Médio e América Latina.
Mais da metade dos adultos com sobrepeso ou obesos hoje vivem em apenas oito países: China (402 milhões), Índia (180 milhões), Estados Unidos (172 milhões), Brasil (88 milhões), Rússia (71 milhões), México (58 milhões), Indonésia (52 milhões) e Egito (41 milhões), de acordo com dados de 2021.
Obesidade não é problema apenas de países ricos
As informações da pesquisa reforçam os dados publicados na segunda-feira (3) no Atlas Mundial da Obesidade 2024, da Federação Mundial da Obesidade.
Segundo o documento, até 2035, 79% dos adultos e 88% das crianças com sobrepeso e obesidade viverão em países de baixa e média renda.
A projeção é que o número de adultos vivendo com obesidade aumente de 810 milhões em 2020 para 1,53 bilhão em 2035.
O Atlas 2024 destaca que a obesidade não é mais um problema somente de países ricos.
Surpreendentemente, das mortes globais atribuídas ao alto IMC (Índice de Massa Corporal), a medida populacional da obesidade, 78% ocorrem entre adultos em países de baixa e média renda, superando os 22% em países de alta renda.
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