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Covid-19: start-up francesa testa vacina universal com dose única na vida

Pixabay
Imagem: Pixabay

Taíssa Stivanin

30/03/2021 10h19

As vacinas contra a Covid-19 disponíveis atualmente são eficazes para prevenir formas graves da doença. Mas muitas questões continuam sem resposta: as imunizações evitam a transmissão do Sars-CoV-2? Quanto tempo dura a imunidade do vacinado? Como driblar as diversas mutações de um vírus que circula ativamente, em larga escala, pelo mundo todo?

As vacinas contra a covid-19 disponíveis atualmente são eficazes para prevenir formas graves da doença. Mas muitas questões continuam sem resposta: as imunizações evitam a transmissão do Sars-CoV-2? Quanto tempo dura a imunidade do vacinado? Como driblar as diversas mutações de um vírus que circula ativamente, em larga escala, pelo mundo todo?

Diante de tantos senões, muitas start-ups estão apostando em uma solução que parece milagrosa, mas é cientificamente viável: uma vacina universal, que vise uma resposta imunitária mais global do que a gerada pelos anticorpos específicos, visíveis nos exames de sangue após a contaminação ou a vacinação.

Os imunizantes atuais têm como alvo a proteína Spike, situada na superfície do Sars-CoV-2, que permite a entrada do coronavírus nas células humanas. O objetivo é fazer o corpo acreditar que está sendo infectado para gerar uma resposta imune.

A vacina universal utiliza uma outra estratégia, que visa agir contra eventuais mutações e variações do coronavírus, que podem pertencer até mesmo a outras famílias.

A ideia é utilizar a parte interna do vírus, mais estável, e ativar a chamada imunidade citotóxica, que leva os linfócitos T, que atuam na resposta antiviral, a produzir citocinas ou destruir diretamente as células contaminadas. Essa característica tornaria possível, por exemplo, a administração de uma só dose para proteger o indivíduo da Covid-19 pelo resto da vida.

A start-up francesa Osivax aposta nesse caminho e adaptou à Covid-19 os estudos que já vinham sendo feitos para desenvolver um imunizante universal contra todas as cepas do vírus da gripe, explica o engenheiro de biotecnologia Alexandre Le Vert, diretor e cofundador da start-up.

Criada em 2017 em Lyon, na França, a empresa também trabalha com uma equipe de cientistas baseada na Bélgica.

"Quando a pandemia de Covid-19 começou, em 2020, imaginamos que os estudos usados na vacina contra a gripe poderiam ser potencialmente aplicados na Covid-19, já que os dois vírus são relativamente próximos", explica o engenheiro francês.

Além disso, a proteína-alvo utilizada nas pesquisas há oito anos era comparável à detectada no Sars-CoV-2, detalha. A particularidade da vacina universal, explica, é que ela tentará desencadear uma resposta imunitária na parte interna do coronavírus, chamada nucleocapsídeo.

Estudo visa parte interna do vírus

Os estudos mostram que essa estrutura poderia gerar uma reação imunológica protetora. "Em vez de focar a Spike, que é o alvo das vacinas convencionais, que hoje funcionam bem, mas estão expostas ao risco das variantes, com uma evolução que pode ser desfavorável no futuro, apostamos na parte interna do vírus, chamada nucleocapsídeo", explica o engenheiro em biotecnologia francês.

A vacina universal contra a Covid-19 está, por hora, em fase de testes pré-clínicos e é testada em animais. Alexandre Le Vert espera poder iniciar os testes com humanos no final de 2022. A tecnologia usada é a de proteínas recombinantes encapsuladas em nanopartículas, que vão induzir a resposta imunológica e são conhecidas por gerar poucos efeitos colaterais.

Ele explica que as mutações presentes nas novas cepas ocorrem fundamentalmente na parte externa do vírus - a proteína Spike. Se essa variação tiver uma vantagem competitiva em relação às outras - for mais contagiosa, por exemplo - , acabará se tornando preponderante. É a lei da seleção natural, explica o engenheiro francês, e o caso da cepa britânica, responsável pela terceira onda epidêmica na França, por exemplo.

Fase de testes

O interesse em focar os estudos no nucleocapsídeo, diz Alexandre Le Vert, é que a estrutura, pelo fato de se encontrar dentro do vírus, é menos propícia às mutações. Por que é tão difícil criar essa vacina? O grande problema, explica o cientista francês, é obter uma resposta imunitária da parte interna do vírus, difícil de atingir com um produto.

O trabalho é árduo, reconhece o pesquisador, e ainda exigirá muitos anos de pesquisa. Mas, quando for lançada no mercado, a vacina da Osivax poderá vencer o vírus de maneira indireta, destruindo as células infectadas pelo Sars-CoV-2 e impedindo sua replicação.

Os testes da vacina universal contra a gripe e a Covid-19 caminham paralelamente. No caso da gripe, a Osivax já está na fase 2 dos testes: mais de 400 pessoas receberam a imunização. Se eles forem conclusivos e o imunizante lançado, não será mais necessário se vacinar anualmente.

"Nossa ideia é trazer uma solução, que talvez não seja imediata, mas nos próximos anos, de uma vacina contra a gripe e a Covid-19 que previna contra todas as cepas. E que não tenhamos mais que nos preocupar com isso, que não tenhamos mais que nos vacinar todos os anos", resume.

O cientista francês acredita que, nos próximos anos, antes que produtos como a vacina universal possam ser comercializados, os laboratórios terão que adaptar anualmente os imunizantes contra a Covid-19 em função das variantes, como já é o caso da gripe.