Eles se 'internam' pra testar segurança de medicamentos (e ganham por isso)

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A professora Elizabeth Costa Jardim, 45, já se internou 12 vezes. Mas não é porque ela tem algum problema de saúde. Na verdade, ela faz isso de forma voluntária, para colaborar com os estudos de medicamentos.
Em troca, Elizabeth recebe uma quantia em dinheiro.
Pesquisas para testar novos medicamentos precisam da contribuição de voluntários —afinal, é preciso saber se aquela substância é segura e funciona em humanos.
No Brasil, funciona assim: as compensações financeiras aos voluntários são permitidas apenas em pesquisas de fase 1 ou de bioequivalência.
Que testes são esses?
- A fase 1 é a primeira etapa dos ensaios clínicos (em humanos) para testar novos medicamentos, vacinas ou outros dispositivos médicos. Ela avalia a segurança do medicamento. Nesta fase, será avaliada qual deverá ser a melhor via de administração, qual a dose segura e os efeitos colaterais.
- O estudo de bioequivalência compara dois medicamentos. Ele é realizado para demonstrar que dois medicamentos com a mesma substância ativa e forma farmacêutica são absorvidos de maneira semelhante.
O pagamento é permitido nestas duas situações porque os voluntários são saudáveis —não têm a patologia daquele medicamento pesquisado.
Mas, antes de colocar qualquer substância em teste em humanos, os estudos devem ter aprovação ética e regulatória. Inclusive, quando for preciso fazer teste em humanos, o estudo deve ser avaliado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), além de obter autorização da Anvisa.
A coordenadora da Conep, Ana Lúcia Paduello, explica que, embora não exista uma tabela precificando a participação em pesquisas, o valor oferecido pelas empresas não pode ser exorbitante —a ideia é não dar brecha para alguém ter a prática como principal renda.
"É uma remuneração para compensar um tempo dedicado à pesquisa", completa. "E se, por exemplo, é uma pesquisa em que a pessoa vai ter de se locomover, vai ter de pegar transporte, existe o ressarcimento além do valor que a pessoa já recebeu."
Esse reembolso é um dever do patrocinador da pesquisa, independentemente da fase, já que as normas éticas brasileiras estabelecem que as pesquisas não devem gerar custo para os participantes.
Os voluntários devem estar inscritos no cadastro nacional de voluntários e não podem integrar mais de uma pesquisa ao mesmo tempo. Para participar de outra pesquisa, é preciso esperar pelo menos seis meses entre o final de uma e o início da outra.
'Pago para ter paz'
Elizabeth se internou pela primeira vez em 2006. Na época, ela ficou sabendo da possibilidade pelo boca a boca na cidade de Campinas (SP), onde mora.
É na cidade que ficam pelo menos duas das clínicas que oferecem as internações voluntárias consultadas por VivaBem. Em cada uma de suas estadias, Elizabeth afirma que ganhou entre R$ 1.000 e R$ 3.000.
No TikTok, um jovem identificado como Valentin filmou uma das internações, que durou 36 horas. Ele conta que recebeu R$ 1.400.
@podeservalentin Se internando por dinheiro parte 1 #fy #foryou #internandopordinheiro #internação #dinheiroextra #Ftp ? som original - Valentin
@podeservalentin Se internando por dinheiro parte 2 #fy #foryou #internandopordinheiro #dinheiroextra #valentin ? som original - Valentin
"Aqui, eu já estava nos meus aposentos sendo tratado como um rei, junto com meu colega de quarto", conta ele. O teste aconteceu no final de abril e os dois vídeos somam mais de um milhão de visualizações.
No espaço que Valentin mostra, estão quatro beliches, mas só duas camas aparecem ocupadas. Em outro vídeo, ele mostra o café da manhã com pão, frios, iogurte e bolachas. Depois, conta que passou por duas coletas de sangue e foi liberado. "Fui pago para ter paz", brinca ele, no vídeo.
Na prática

O valor recebido pelos pacientes, em geral, é definido com base na complexidade do protocolo do estudo, como tempo de permanência, número de coletas, necessidade de pernoite ou confinamento, entre outras variáveis.
Ele é descrito em um termo de consentimento em que o voluntário admite não estar sendo induzido a participar do processo.
Algumas empresas, como a ALS Allergisa (que atua nos segmentos de cosméticos, higiene pessoal, dispositivos médicos, medicamentos e suplementos alimentares), ouvida pela reportagem, têm até um banco de dados de voluntários, que se inscrevem por meio do site oficial. Eles são avaliados e escolhidos de acordo com as exigências do estudo clínico em questão, levando em conta a população alvo solicitada pelas farmacêuticas.
Todos são acompanhados por uma equipe técnica até o fim do estudo. O pagamento é feito no final do processo.

























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