'Bed rotting': tendência de ficar na cama é descanso ou autossabotagem?

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Quem nunca sonhou em passar o dia inteiro debaixo das cobertas, longe do barulho, das obrigações e do caos cotidiano?
O desejo por pausa é quase universal —e, nas redes sociais, ganhou até nome e status de tendência: "bed rotting", algo como "apodrecendo na cama".
A moda, que começou entre jovens cansados da rotina acelerada, consiste em passar horas (ou até o dia inteiro) deitado, geralmente mexendo no celular, sem fazer nada produtivo. A ideia inicial era um tipo de protesto contra a exaustão da vida moderna, mas o conceito rapidamente se distorceu. Hoje, muita gente trata o hábito como sinônimo de autocuidado —quando, na verdade, ele pode ser o oposto.
Especialistas apontam que o verdadeiro descanso envolve pausas conscientes e restauradoras, enquanto o "bed rotting" se aproxima mais da procrastinação. É o momento em que a pessoa reconhece que tem tarefas a cumprir, mas decide ignorá-las. A princípio, parece um alívio. No longo prazo, é um ciclo que mina energia, foco e motivação.
Debaixo das cobertas, um alerta
Tirar um tempo para descansar é fundamental —corpo e mente precisam de pausas para se recuperar. Momentos de ócio, lazer e sono adequado são parte essencial do bem-estar. Mas, quando o descanso vira evasão constante, algo está errado.
Ficar longos períodos na cama sem propósito, em geral, não é autocuidado, mas autossabotagem. Esse comportamento adia tarefas, compromissos e decisões, gerando ansiedade, estresse, culpa e perda de produtividade. Quando repetido com frequência, cria um ciclo vicioso: quanto mais se evita agir, mais difícil se torna o enfrentamento e a resolução de desafios.
Sem saber lidar com responsabilidades, problemas e obrigações, sentimentos conflitantes tendem a se acumular e ficar mais intimidadores.
O papel do celular nesse ciclo
O celular é um dos grandes vilões por trás do "bed rotting". A combinação de tédio e tela infinita transforma o descanso em um mergulho em dopamina digital. A cada rolagem, vídeos e notificações recompensam o cérebro, reforçando o comportamento de inércia.
Além disso, o uso prolongado de dispositivos na cama pode distorcer a relação com o sono. A luz azul das telas reduz a produção de melatonina, dificultando o adormecer. Durante o dia, o excesso de estímulos visuais e emocionais mantém o cérebro em estado de alerta, o oposto do relaxamento, além de levar a uma desassociação da cama como local de descanso.
Em casos extremos, o isolamento e a dependência digital podem evoluir para transtornos psicológicos, como depressão, ansiedade e até quadros psicóticos. Fisicamente, o corpo também sofre: má postura, dores e fadiga são consequências comuns de passar o dia deitado com o celular nas mãos.
Como sair do modo "hibernação"
Escapar desse ciclo exige mais do que força de vontade —pede autopercepção. É preciso entender o que está por trás do desejo de escapar de pressões que podem ser tanto externas como internas: cansaço real, desmotivação, medo de fracassar ou algo mais profundo?
Se o comportamento se repete e começa a afetar a rotina, é sinal de que vale buscar ajuda profissional. Psicoterapia e, em alguns casos, acompanhamento psiquiátrico podem ajudar a identificar as causas e retomar o equilíbrio.
Mas há atitudes simples que também fazem diferença:
- Divida as tarefas, faça pausas regulares e mantenha uma agenda com datas, prazos, prioridades para evitar sobrecarga.
- Defina limites para não exceder na produtividade, afinal muitas horas de trabalho levam a mais cansaço, que leva à procrastinação.
- Abandone o perfeccionismo: querer fazer tudo impecável é receita para o adiamento.
- Crie uma rotina estável, com horários fixos para dormir e acordar.
- Exponha-se à luz natural e pratique atividades físicas -- ambas ajudam o cérebro a regular energia e humor.
- Desligue as notificações e defina momentos específicos para checar o celular.
- Mantenha contato social: conversar e sair de casa quebra o ciclo de isolamento.
- Faça primeiro, pense depois: começar é mais importante do que esperar motivação.
*Com informações de reportagem publicada em 15/04/2024



























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