'Evito festa e viagem longa porque o pensamento de vomitar me causa pânico'

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A modelo Maria Eduarda Campos Costa, 19, convive desde a infância com uma condição pouco conhecida, mas que afeta diretamente sua vida: a emetofobia, o medo intenso de vomitar ou de que alguém ao seu redor vomite.
"As pessoas acham que é frescura, mas não é. Eu tenho medo de várias situações, principalmente de estar em lugares onde alguém possa passar mal. Evito festas, viagens longas e alguns alimentos porque o simples pensamento de vomitar me causa pânico", contou Maria a VivaBem.
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"Tudo começou na infância"
Ela não se lembra ao certo de quando essa fobia teve início, mas conta que desde muito pequena lida com o problema.
"Minha mãe conta que, desde pequena, eu tinha pavor de vomitar. Lembro que comi sushi quando tinha uns quatro ou cinco anos e passei muito mal. Vomitei muito e, desde então, aquilo ficou como um trauma", relata.
Aos 9 anos, viveu uma experiência ainda mais intensa devido à fobia e precisou ir para o hospital.
"Estava com meus pais em casa e comecei a sentir náusea. De repente, comecei a tremer muito e não conseguia parar. Minha mãe me levou ao hospital e o médico disse que era uma crise de ansiedade."
Com o tempo, o medo foi se agravando. Aos 17 anos, durante um episódio de virose, ela percebeu que o simples pensamento de que ela poderia vomitar desencadeava crises.
Eu tinha ânsia e engolia, de tanto pavor. Era como se o medo fosse maior do que o desconforto físico. Desde então, sempre que sinto náusea, entro em desespero. Não consigo pensar em mais nada além daquilo. Tenho tremores, choro e taquicardia, é uma crise de pânico real.
Maria Eduarda Campos Costa
Maria conta que chegou a ficar dependente de remédios para o estômago e para ânsia na tentativa de evitar episódios de vômito e, consequentemente, as crises devido ao medo de passar mal. Além disso, ela evita comer à noite para não passar mal enquanto dorme.
"Já perdi noites inteiras acordada com medo de deitar e acordar vomitando", diz.

A fobia, segundo ela, também impactou sua vida social e profissional. Trabalhando como modelo internacional, Maria viaja com frequência e os voos longos são um desafio. Seu maior medo durante as viagens é que alguém passe mal perto dela.
Meu maior medo é voo lotado. Eu não enjoo no avião, mas fico ansiosa com a possibilidade de alguém passar mal. Já cheguei a ter crise de pânico dentro do avião e precisei trocar de lugar para não me sentar perto de uma criança. Já quando viajo de ônibus compro dois assentos para ninguém sentar ao meu lado.
Maria Eduarda Campos Costa
Diagnóstico e tratamento
Durante anos, Maria acreditou que o medo era apenas uma "mania" e não sabia que se tratava de uma fobia. Recentemente, pesquisando sobre esse medo excessivo, descobriu a emetofobia. Hoje ela faz acompanhamento com psicóloga e gastroenterologista.
"Demorei anos para entender que o que eu tinha era uma fobia real. Hoje sei que não é drama e nem frescura", afirma.

A modelo está em tratamento com terapia cognitivo-comportamental (TCC) e tem adotado estratégias naturais para lidar com as crises.
"Aprendi a fazer respiração para me acalmar e tento evitar remédios. Ainda tenho crises, mas consigo driblar melhor. A psicóloga recomendou acompanhamento com psiquiatra, mas, como os antidepressivos me deixam enjoada, estamos tentando uma linha sem medicação por enquanto."
Entenda a emetofobia
A emetofobia, conhecida como o medo intenso e irracional de vomitar, é um transtorno de ansiedade que pode impactar a vida de quem sofre com essa fobia. Ele costuma aparecer ainda na infância após episódios marcantes de enjoo ou vômito, seja da própria pessoa ou de alguém próximo.
Existe ainda uma predisposição genética. Pessoas com perfil mais ansioso, perfeccionista ou sensível às sensações do corpo têm maior vulnerabilidade.
Rodolfo Damiano, psiquiatra e professor do programa de pós-graduação do Instituto de Psiquiatria da USP
Eventos estressantes da vida, como gravidez ou infecções, podem funcionar como gatilhos, especialmente em quem já tem histórico de ansiedade ou transtorno obsessivo-compulsivo, explica Damiano.
Quem tem emetofobia tende a desenvolver um comportamento de extrema vigilância em relação ao próprio corpo e à alimentação. Muitas vezes, evita certos alimentos, lugares ou situações por medo de passar mal, e pode até recusar viagens, encontros sociais e compromissos.
Em casos mais graves, a ansiedade antecipatória, ou seja, o medo de sentir medo torna-se constante. Isso gera sintomas físicos como taquicardia, suor excessivo, náusea e tontura apenas ao pensar na possibilidade de vomitar.
O tratamento dessa fobia é feito com psicoterapia, com abordagens de terapia cognitivo-comportamental (TCC), que ajudam o paciente a identificar e reformular pensamentos distorcidos em relação ao medo de vomitar. Em casos mais graves, pode ser necessário o uso de medicação para auxiliar no controle dos sintomas de ansiedade. Estratégias complementares como práticas de respiração, meditação, mindfulness e acompanhamento nutricional podem contribuir para o tratamento da fobia.
A prevenção é dos traços obsessivos e da ansiedade. Esse paciente aprende no processo terapêutico como lidar com possíveis crises e com a situação quando ele passar mal e vomitar. A emetofobia é sobre medo e controle e, quando a gente trabalha a tolerância, a incerteza e a perda do controle, a gente devolve para o paciente a liberdade. Assim, ele consegue comer, viajar --mesmo que, de vez em quando, tenha um pouco de ansiedade.
Priscilla Leitner, psicóloga, especialista em comportamento e transtornos alimentares e fundadora do Instituto de Pesquisa do Comportamento Alimentar de Curitiba (IPCAC)



























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