5 coisas que seu médico gostaria que você soubesse sobre o Alzheimer

Diante do crescimento da população idosa no Brasil —o país já ocupa o sexto lugar entre os países com maior número de idosos no mundo— é importante estar atento a doenças cujo fator de risco mais significante é a idade. Este é o caso do Alzheimer, o tipo de demência que mais acomete pessoas com 65 anos ou mais.

Considerada uma condição neurodegenerativa, a doença promove a perda progressiva de neurônios em certas regiões do cérebro, comprometendo funções comportamentais e cognitivas como a memória, o raciocínio, a linguagem, a atenção e o julgamento.

Como os cientistas estimam que, até 2050, 150 milhões de pessoas serão afetadas pela demência no globo (e outros milhões estarão cuidando delas), e a enfermidade ainda figura entre as principais causas de morte em indivíduos com mais de 60 anos, entender mais sobre essa condição é essencial para ter uma visão mais objetiva sobre ela.

Confira o que os especialistas gostariam que você soubesse sobre o Alzheimer:

1) Dá para prevenir novos casos

Embora a doença esteja associada a fatores de risco que não podem ser mudados, como o avanço da idade e a genética, o estilo de vida pode influenciar o seu desenvolvimento.

Os médicos consultados afirmam que é bom saber que o que faz mal ao coração, geralmente faz mal ao cérebro. Isso significa que hipertensão, diabetes, sedentarismo, colesterol alto, obesidade, tabagismo e uso excessivo de álcool são exemplos de condições que colaboram para a manifestação do Alzheimer.

"A velha receita que inclui ingredientes como dieta equilibrada, atividade física regular, controle geral da saúde por meio de acompanhamento médico —em todas as fases da vida— previne a enfermidade", esclarece a geriatra Joana Camila Melo Duarte.

Outro fator de proteção é o nível escolar: quanto mais anos de estudo, menor é a probabilidade de ter a doença.

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Manter-se mentalmente ativo à medida que se envelhece, adquirindo novas habilidades, também é favorável. Estar com a psicoterapia em dia igualmente ajuda. Estresse psíquico e emocional constante pode desequilibrar o processamento cerebral, prejudicando áreas igualmente suscetíveis ao processo degenerativo promovido pelo Alzheimer.

2) Demência não faz parte do envelhecimento

O esperado é envelhecer de forma saudável, lembrar, reconhecer, ser independente e capaz de realizar as atividades do dia a dia, como dirigir, cozinhar, gerenciar as próprias contas, etc. Apesar disso, nem sempre alterações nessas habilidades levam as pessoas ao médico.

De acordo com Vitor Tumas, professor de neurologia da USP, o que faz marcar uma consulta é alguma mudança na memória. Na maioria das vezes, porém, trata-se de quadros benignos (frequentes também na população jovem), que podem estar associados a depressão, ansiedade, uso de determinados medicamentos ou mesmo outras doenças.

Declínio da memória, cognitivo e alterações comportamentais são, sim, sintomas do Alzheimer. No entanto, "a perda de memória que indica a presença da doença é aquela persistente, capaz de afetar a percepção de tempo-espaço. Além disso, ela é notada pelas pessoas com as quais o idoso convive", esclarece o médico.

Na presença desse tipo de manifestação, a sugestão dos especialistas é buscar por uma avaliação profissional. O clínico geral, o psiquiatra, o geriatra ou o neurologista poderão examiná-lo.

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3) A doença se instala de modo sutil

As mudanças que prejudicam o funcionamento das células cerebrais (neurônios) decorrem do depósito de placas feitas por proteínas beta-amiloides e emaranhados da proteína tau. Essas alterações começam durante a fase que os médicos chamam de pré-clínica, ou seja, antes do aparecimento dos sintomas.

Tal processo vai minando a saúde dos tecidos celulares, até que chega a um ponto crítico. De modo geral, as manifestações iniciais de perda cognitiva podem ocorrer em até 20 anos após as primeiras alterações neuropatológicas.

Sinais biológicos da doença já podem ser identificados por meio de exames de neuroimagem, no líquido cefalorraquidiano ou no sangue, e seus resultados devem ser interpretados em conjunto com testes cognitivos e a avaliação clínica.

Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maior possibilidade de preservação da saúde cerebral e as capacidades cognitivas do paciente, quando comparada a intervenções feitas em fases mais avançadas da doença.

4) Tratamento medicamentoso tem valor

Independentemente do estágio da doença, ela não tem cura. E a trajetória clínica, cognitiva e funcional de cada pessoa será diferente, a depender do quanto o cérebro está preservado ou não.

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O avanço da doença também poderá ser mais ou menos acelerado, conforme a presença de doenças cardiovasculares não controladas, traumatismo craniano, abuso de álcool, baixo estímulo cognitivo, redução da capacidade sensorial (visão e audição), entre outros.

"A boa notícia é que já existem medicamentos que atuam na regulação das alterações que ocorrem durante a evolução da doença", fala o psiquiatra Lucas Mella, diretor científico da ABRAz-SP. "O resultado esperado é a desaceleração do declínio cognitivo e funcional, bem como a melhora das alterações comportamentais, garantindo qualidade de vida ao paciente", completa.

Os principais medicamentos hoje utilizados no tratamento são a donepezila, galantamina, rivastigmina e a memantina (disponíveis na farmácia de alto custo do SUS).

5) Para cuidar desse paciente, é preciso uma aldeia

Junto ao tratamento medicamentoso, o ideal é que pessoas com Alzheimer sejam também acompanhadas por uma equipe multidisciplinar. A ideia é garantir cuidado integral com orientações sobre dieta, prática de exercícios, saúde mental, estímulos cognitivos, engajamento social e qualidade de sono.

Centros de especialidade (como os da Unicamp, USP), assim como os hospitais universitários federais (Ebserh), responsáveis pela formação de profissionais e pela oferta de atendimento especializado 100% SUS de norte a sul do país, oferecem essa estrutura.

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Já existe política pública voltada ao Cuidado Integral às Pessoas com Alzheimer e Outras Demências, a Lei 14.878/2024. Além de garantir o cuidado integral, a legislação também busca apoiar cuidadores e familiares com medidas capazes de evitar o adoecimento físico e psíquico deles.

Associações como a Abraz oferecem acolhimento e apoio a esses grupos, além de capacitação e a atualização de profissionais da saúde, generalistas ou especialistas, que atendem idosos e lidam com a doença em sua prática clínica.

Fontes: Joana Camila Melo Duarte, geriatra do HUAC-UFCG (Hospital Universitário Alcides Carneiro, da Universidade Federal de Campina Grande-PB), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Lucas Mella, médico psiquiatra, especialista em psicogeriatria pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), coordenador do Serviço de Psiquiatria Geriátrica e Neuropsiquiatria da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), membro da diretoria científica da Febraz (Federação Brasileira das Associações de Alzheimer) e diretor científico da ABRAz-SP (Associação Brasileira de Alzheimer em São Paulo); e Vitor Tumas, professor de neurologia da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo).