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Quase 60% dos hipertensos brasileiros não seguem tratamento, aponta estudo

Para os especialistas, pacientes negros ou miscigenados podem ter mais dificuldade de seguir o tratamento por questões socioeconômicas Imagem: iStock

Colaboração para VivaBem

10/10/2025 05h31

Quase 60% dos brasileiros com pressão alta não tomam à risca o medicamento recomendado por seus médicos. A conclusão é de um estudo liderado por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) publicado em 2024 no International Journal of Cardiovascular Sciences. O trabalho recebeu o Prêmio de Publicação Científica durante o 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, realizado em setembro deste ano.

O que aconteceu

Para chegar a esta conclusão, 2.578 homens e mulheres hipertensos foram acompanhados em 49 clínicas de todas as regiões do país por um ano. Todos eram maiores de 18 anos e haviam sido diagnosticados com hipertensão arterial há, pelo menos, quatro semanas. Não puderam participar do estudo pacientes com outras condições que dificultassem o uso regular de medicação, como gestantes e lactantes, renais crônicos em diálise, portadores de doenças psiquiátricas que não conseguissem manter uma rotina, entre outros.

Todos passaram por uma avaliação inicial em que foi registrada duas medições da pressão igual ou maior a 14 por 9. Além disso, eles tiveram que fornecer histórico médico e familiar, dados pessoais, todas as medicações que tomaram nos últimos 30 dias, exames laboratoriais, holter (monitoramento da pressão em movimento), eletrocardiograma dos últimos seis meses e outros exames do último ano.

Em seguida, eles tiveram que responder a um questionário validado internacionalmente com quatro perguntas sobre o uso de medicamentos. As perguntas eram: 1) Você alguma vez esquece de tomar seu remédio?; 2) Você é algumas vezes descuidado com o horário de tomar seu remédio; 3) Quando você se sente bem, você alguma vez para de tomar seu remédio?; 4) Quando você se sente mal com o remédio, para de vez de tomá-lo?.

As respostas foram avaliadas com base na Escala de Moritsky-Green, que determina três níveis de sucesso para o tratamento: alta, média e baixa aderência à medicação. Pacientes que responderam que nunca deixaram de tomar os remédios iam direto para a categoria alta. Já aqueles que deixavam de tomar o remédio em uma a duas das situações perguntadas se encaixavam na média aderência. Aqueles que interrompiam a medicação em três ou quatro das situações estavam na classe de baixa aderência.

Idosos e pacientes negros ou miscigenados seguem menos o tratamento, sugere o estudo. Cerca de 56,71% dos pacientes hipertensos estudados tinham idade igual ou maior do que 65 anos, mas destes 48,11% tinham média aderência ao tratamento e 59,74% não tomavam os medicamentos como deveriam.

17,7% dos pacientes negros e 13,1% dos miscigenados têm baixa aderência ao tratamento, número fica entre 7,5% e 9% entre asiáticos e brancos respectivamente. Medicamentos são tomados com rigor por 31,4% dos negros e 33,6% de miscigenados, enquanto a proporção chega a 46,2% entre brancos e 42,5% entre asiáticos.

Para os especialistas, pacientes negros ou miscigenados podem ter mais dificuldade de seguir o tratamento por questões socioeconômicas, como baixa escolaridade e salários, além de dificuldade no acesso a serviços de saúde. Eles destacam que o problema já foi apontado por outro estudo conduzido em Salvador (BA), com 200 pacientes hipertensos de baixa renda, em que "apenas" 46,4% dos indivíduos brancos não seguiam ao tratamento, o que acontecia entre 67% dos miscigenados/pardos e 80% dos pacientes negros.

Os participantes do Nordeste são aqueles que seguem o tratamento menos à risca de todo o país, apontou ainda o estudo. Cerca de 22% dos pacientes da região estão na categoria de menor aderência ao tratamento; este número é de cerca de 9% no Sudeste e no Sul, de 5% no Norte e 13,6% no Centro-Oeste.

Sudeste ainda tem o maior número de hipertensos do país, responsável por 23,3% de todos os pacientes. No entanto, a região também tem os maiores índices de alta aderência ao tratamento, cerca de 45,1%.

56,13% dos pacientes estudados eram mulheres, o que pode indicar que elas procuram mais os médicos do que eles, o que já foi demonstrado por outros estudos. No entanto, pesquisadores destacam que é possível que haja mais hipertensão entre mulheres por causa da queda de produção de hormônios esteroides após a menopausa, que diminui o tônus de artérias periféricas. Eles ainda destacam que homens costumam descobrir a hipertensão apenas após um evento sério, como infarto ou AVC.

No entanto, homens e mulheres costumam ter comportamentos similares em relação à medicação, concluíram os cientistas. A diferença é de 1% a 2% entre todos os níveis de aderência em ambos os sexos.

A hipertensão é uma doença silenciosa, sem sintomas, mas que pode levar ao acidente vascular cerebral, ao infarto e à morte súbita em idades precoces. Muitas pessoas não levam a sério o tratamento, e por isso testes como o Morisky deveriam ser aplicados rotineiramente nas consultas médicas. Em muitos casos, o uso contínuo de medicamentos é essencial para evitar complicações graves. Evandro José Cesarino, professor da USP que coordenou a observação de 200 dos pacientes do estudo, ao jornal da universidade

A Sociedade Brasileira de Cardiologia estima que cerca de 400 mil pessoas morram anualmente no Brasil por doenças cardiovasculares. É uma das principais causas de morte no Brasil. Atualmente, a elevação persistente da pressão acima de 140/90 mmHg é considerada hipertensão. No entanto, índices entre 120/80 mmHg e 139/89 mmHg já são tidos como quadros de pré-hipertensão.

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