Por que você deveria beber mais água se quiser melhorar o humor

Quantos copos de água você bebeu ontem? Consumir líquidos em quantidades insuficientes não afeta apenas o funcionamento de órgãos como intestino e rim, mas também pode comprometer o humor e aumentar o estresse. Especialistas afirmam que até mesmo uma desidratação leve é capaz de alterar o equilíbrio emocional e o desempenho cognitivo.

"De uma maneira geral, a desidratação gera irritabilidade, fadiga mental e dificuldade de concentração. Isso acontece porque a água é fundamental para o equilíbrio eletrolítico (quantidade de sais no organismo), transporte de nutrientes e funcionamento adequado do cérebro", explica Isolda Prado, nutróloga, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e professora da UEA (Universidade do Estado do Amazonas).

Qual a relação da desidratação com o estresse e a ansiedade?

A falta de líquidos ativa mecanismos de defesa no organismo, que interpreta a situação como uma ameaça ao equilíbrio interno. Mesmo pequenas quedas na ingestão de água podem aumentar a tensão, gerar sensação de sobrecarga mental e intensificar sintomas de estresse e ansiedade. Por isso, a desidratação tem impacto direto no bem-estar emocional.

"Ainda não há consenso científico, mas a maioria dos estudos indica que a desidratação contribui para o aumento da ansiedade e do estresse. Quando há redução no volume de líquidos circulantes e na pressão arterial, o corpo libera hormônios, como vasopressina e cortisol, para manter o equilíbrio, e essa resposta está associada à maior irritabilidade, tensão e sensação de estresse", afirma Murilo Brasileiro, psiquiatra e médico do sono do HC-UFPE (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco).

Acredita-se que regiões do cérebro responsáveis por detectar a desidratação possam disparar essa resposta hormonal. No entanto, ainda não se sabe se outras vias neurológicas também estão envolvidas no processo pelo qual a falta de água afeta o humor e a percepção emocional.

Além disso, a desidratação pode intensificar os sintomas de ansiedade ao interferir em neurotransmissores ligados ao equilíbrio emocional, como a serotonina e o GABA.

"Se a pessoa já convive com um transtorno de ansiedade, pode ficar mais atenta a sinais do corpo e tentar interpretá-los, o que acaba intensificando o quadro. Nosso organismo tende a indicar quando algo não está bem. No entanto, sintomas físicos da desidratação, como taquicardia, palpitações, sudorese e tontura, podem se confundir com manifestações de ansiedade ou até agravar crises de pânico", diz Maria Amália Pedrosa, psiquiatra e mestre em política e gestão em saúde.

Estudo afirma que beber pouca água aumenta o estresse

Um estudo da Liverpool John Moores University mostrou que não beber água suficiente pode intensificar as respostas do corpo ao estresse. Os pesquisadores verificaram que pessoas com hidratação insuficiente apresentaram níveis de cortisol cerca de 50% maiores durante situações de pressão.

Continua após a publicidade

A pesquisa envolveu 32 participantes, divididos em dois grupos de 16. Um dos grupos consumia menos de 1,5 litro de líquidos por dia, enquanto o outro seguia as recomendações diárias: cerca de 2 litros para mulheres e 2,5 litros para homens. Para garantir que os resultados fossem comparáveis, os grupos foram equilibrados em relação a fatores como níveis de ansiedade e padrões de sono.

O estudo apontou que:

  • Apesar de a baixa ingestão de líquidos não ter aumentado a sensação de sede dos participantes, ela provocou sinais biológicos de sobrecarga.
  • O organismo reage mesmo quando a falta de água não é percebida conscientemente.
  • Pessoas que ingeriram menos de 1,5 litro de líquidos por dia apresentaram uma resposta ao estresse, medida pelo cortisol, mais de 50% superior em comparação às que alcançaram as recomendações diárias de água.

Grupos mais vulneráveis

Crianças, idosos e gestantes são mais sensíveis aos efeitos da desidratação sobre o humor e a cognição. Nas crianças, o metabolismo acelerado e a maior perda de líquidos em relação ao peso corporal aumentam a vulnerabilidade.

Nos idosos, a percepção reduzida de sede e alterações na função renal podem dificultar a manutenção de uma hidratação adequada. Já as gestantes precisam de mais líquidos para sustentar o volume plasmático e o líquido amniótico, tornando-se mais propensas a alterações emocionais e cognitivas quando há déficit de água.

Continua após a publicidade

Além disso, pessoas com condições neurológicas, como enxaqueca, epilepsia ou síndromes demenciais, devem redobrar a atenção à hidratação, pois a falta de líquidos pode intensificar crises e agravar sintomas.

Sinais que o corpo dá de que está desidratado

A desidratação pode afetar o sistema nervoso e o organismo pode indicar que algo errado está acontecendo. Entre os sintomas mais comuns estão:

  • Dor de cabeça ou enxaqueca.
  • Tontura, dificuldade de concentração e lapsos de memória.
  • Alterações de humor, como irritabilidade, apatia ou impaciência.
  • Sonolência ou, em alguns casos, agitação.
  • Sensação de confusão mental.
  • Fadiga.
  • Alterações na coordenação motora.
  • Sensação de desânimo.
  • Palpitações em casos de desidratação mais intensa.

"Vale destacar que se as queixas persistirem, a avaliação médica se torna fundamental, já que apenas um profissional, com exames físicos e laboratoriais, poderá identificar se o quadro está realmente relacionado à desidratação ou se exige outro tipo de tratamento", complementa Pedrosa.

Como evitar a desidratação no dia a dia?

Manter garrafinha por perto é um bom jeito de se lembrar de beber água
Manter garrafinha por perto é um bom jeito de se lembrar de beber água Imagem: Getty Images
Continua após a publicidade

É recomendado beber água regularmente, mesmo sem sentir sede, e manter sempre uma garrafa pessoal por perto como lembrete.

Outra estratégia é consumir a bebida aromatizada com frutas, ervas ou rodelas de limão, além de incluir alimentos ricos em água na dieta, como melancia, pepino, laranja e abacaxi.

"É importante evitar o excesso de café, álcool e refrigerantes, que podem aumentar a perda de líquidos. Vale a pena observar a cor da urina: quanto mais clara, melhor o nível de hidratação", diz Prado.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.