'Nosunscreen': a nova moda da geração Z que é devastadora para a saúde
Isabella Abreu
Colaboração para VivaBem
07/10/2025 05h30
Uma tendência que vem ganhando espaço nas redes sociais tem preocupado especialistas em saúde.
Vídeos com a hashtag #AntiSunscreen, que já ultrapassa 6 milhões de visualizações no TikTok, e #NoSunscreen, com mais de 12 milhões, incentivam jovens (especialmente da geração Z) a trocar o protetor solar por óleos e manteigas vegetais ou até a abandonar completamente o uso.
A justificativa mais comum é a busca por uma rotina "natural" de cuidados com a pele e a crença de que isso favoreceria a absorção de vitamina D.
O movimento, no entanto, pode ter consequências sérias. No Brasil, país de clima tropical marcado pela forte incidência solar em todas as estações do ano, o tema merece atenção redobrada: o câncer de pele corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos diagnosticados no país.
Pesquisas já mapearam a tendência perigosa nos Estados Unidos. Segundo o jornal americano The New York Times, uma pesquisa online com mais de 1.000 pessoas, publicada no ano passado pela Academia Americana de Dermatologia, mostrou que 28% dos jovens de 18 a 26 anos disseram não acreditar que o bronzeamento causa câncer de pele. E 37% disseram que usavam protetor solar apenas quando eram incomodados por outras pessoas a respeito.
Já o Instituto do Câncer de Orlando Health mostrou, em um outro estudo, que 14% dos adultos com menos de 35 anos acreditavam no mito de que usar protetor solar todos os dias é mais prejudicial do que a exposição direta ao sol.
Mais que estética, uma questão de saúde
Os riscos de não usar protetor solar vão muito além da estética.
"A ausência da proteção favorece o envelhecimento precoce da pele —com rugas, manchas e perda de elasticidade—, mas também aumenta o risco de queimaduras que danificam diretamente o DNA das células e pode desencadear surtos de doenças de pele sensíveis à luz, como melasma, lúpus, porfirias e outras fotodermatoses", alerta Elimar Gomes, dermatologista membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).
"A pessoa que opta por não usar protetor solar regularmente fica mais propensa a desenvolver câncer de pele não melanoma, principalmente no Brasil, onde a exposição solar é intensa, especialmente em regiões litorâneas", completa o oncologista Ramon Andrade de Mello, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia.
Ele lembra que o efeito cumulativo da exposição é um dos principais fatores de risco: "Ao longo dos anos, o excesso de sol sem proteção também pode causar carcinoma basocelular e espinocelular. É fundamental entender que o filtro solar é prevenção, não apenas vaidade".
Toxicidade: mito ou realidade?
Grande parte da resistência ao uso do protetor vem da preocupação com uma possível toxicidade. A dermatologista Leiliane Bregalda Alves, também membro da SBD, esclarece:
"É verdade que alguns ingredientes presentes em protetores solares, especialmente filtros químicos, como octinoxato, avobenzona e homosalato, podem ser absorvidos pela pele e detectados no sangue após o uso repetido. Mas a presença desses compostos na circulação não indica, por si só, toxicidade ou risco comprovado à saúde."
Ela explica que as concentrações encontradas são extremamente baixas e, até o momento, não há evidências científicas de que causem efeitos adversos em humanos nas quantidades usadas em produtos cosméticos. "Agências regulatórias como a FDA, nos EUA, a Anvisa, no Brasil, e a EMA, na Europa, seguem considerando esses filtros seguros."
Óleos e manteigas: falsa proteção
Outro ponto que chama a atenção é a substituição do filtro solar por óleos ou manteigas vegetais. Para a dermatologista Mayara Carvalho, formada pela Estácio de Sá, essa prática é perigosa.
"Nenhum óleo ou manteiga vegetal disponível comercialmente apresenta fator de proteção solar (FPS) adequado, estabilidade à radiação UV ou testes dermatológicos que validem sua segurança para esse fim", diz.
Segundo ela, o uso desses produtos como substitutos de protetor solar pode provocar uma falsa sensação de segurança. "Além de não protegerem efetivamente contra os danos causados pela radiação UV, eles ainda podem gerar acne, manchas e outras dermatites."
Vitamina D e sol: o equilíbrio possível
Entre os argumentos mais repetidos pelo movimento está a ideia de que o protetor solar impediria a produção de vitamina D. Para o presidente da SBD, Carlos Barcaui, essa preocupação é exagerada.
"A fotoproteção não significa evitar totalmente o sol. Bastam de 10 a 15 minutos de exposição em braços e pernas, fora dos horários de pico (antes das 10h ou após as 15h), para que a maioria das pessoas produza vitamina D suficiente."
Mayara Carvalho acrescenta que estudos mostram que o uso do filtro não compromete de forma relevante a absorção da vitamina. "Uma revisão publicada no British Journal of Dermatology em 2019 concluiu que o protetor não reduz significativamente os níveis de vitamina D. Em casos de deficiência, a recomendação é fazer reposição oral, e não abrir mão da proteção da pele", explica.
Escolhendo o protetor certo
A variedade de produtos disponíveis pode gerar dúvidas. Carlos Barcaui ressalta que mais importante do que escolher um FPS altíssimo é aplicar a quantidade correta e reaplicar na frequência adequada.
"Um FPS 30 já bloqueia cerca de 97% da radiação UVB, enquanto o FPS 50 chega a 98%. O ganho não é proporcional ao número. O que realmente garante uma boa proteção é usar o produto da forma correta."
Também é essencial verificar se ele é de amplo espectro, ou seja, se protege tanto contra os raios UVB quanto contra os UVA.
Mayara Carvalho recomenda avaliar o tipo de pele antes de comprar: "Peles oleosas devem preferir fórmulas oil-free e não comedogênicas (que podem obstruir os poros). Já peles sensíveis se beneficiam de filtros físicos, com toque seco e antioxidantes. Além disso, vale observar se o produto é resistente à água, um diferencial para quem transpira muito, nada ou pratica esportes".