Aspirina pode impedir o retorno do câncer colorretal, aponta estudo sueco
Colaboração para VivaBem
07/10/2025 05h30
Uma dose pequena de aspirina (ácido acetilsalicílico) ao dia pode significativamente reduzir as chances de recorrência de câncer colorretal, isto é, o retorno da doença. A conclusão é de um novo estudo clínico realizado por pesquisadores do renomado Instituto Karolinska, na Suécia, e publicado no New England Journal of Medicine.
O que aconteceu
Estudo contou com mais de 3.500 pacientes com câncer retal (nos estágios 1 a 3) ou câncer de cólon (estágios 2 e 3) que possuíam mutações genéticas específicas. Pesquisas anteriores já haviam demonstrados que os tumores com alterações nos genes responsáveis pela enzima PI3K poderiam reagir à presença de aspirina. No entanto, esta foi a primeira vez que a teoria foi testada.
Mutações dos genes que atuam nas vias de sinalização da enzima PI3K são encontradas em cerca de 40% dos pacientes com estes tipos de câncer. Ainda segundo o Karolinska, esta enzima é essencial para regular o crescimento e a divisão celular corretamente, um processo que falha nas células tumorais.
Cientistas então dividiram os participantes em dois grupos: um que tomaria aspirina e outro que receberia apenas um placebo. O primeiro grupo recebeu uma dose diária de 160 mg de aspirina, o equivalente a pouco menos de um terço de um comprimido de 500 mg.
Entre os pacientes do grupo que recebeu aspirina, 7,7% viram seu câncer voltar nos três anos em que foram acompanhados pelo estudo. Já no grupo de placebo, as taxas de recorrência da doença foram de 14,1% a 16,8%, dependendo da mutação específica que tinham.
Ou seja, os participantes que tomaram a aspirina diariamente tiveram um risco 55% menor de seu câncer retornar em três anos do que aqueles que receberam apenas o placebo.
Aspirina é uma droga que está prontamente disponível globalmente e é extremamente barata comparada a muitas das drogas modernas contra o câncer. Isso é muito positivo. Anna Martling, autora principal do estudo e professora de medicina molecular e cirurgia do Instituto Karolinska, em comunicado
Cientistas ainda não sabem exatamente como a aspirina age para reduzir o retorno do câncer, mas há algumas teorias. Segundo o Karolinska, é possível que a droga reduza a inflamação, iniba o crescimento do tumor e limite a função das plaquetas —células sanguíneas que podem servir de escudo para o câncer durante o espalhamento pelo corpo.
Apesar de ainda não entendermos completamente todas as ligações moleculares, os achados sugerem que o tratamento possa ser particularmente eficiente em subgrupos de pacientes geneticamente definidos. Anna Martling
Por isso, próximos estudos devem se dedicar a entender os mecanismos de ação da aspirina no combate ao câncer. Além disso, eles devem investigar como fazer o uso mais eficiente do medicamento de maneira personalizada, com base na informação genética de cada paciente, explica Martling.