Alexitimia: a dificuldade de nomear sentimentos e seus efeitos no corpo

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Você já teve dificuldade em descrever o que estava sentindo? Em alguns momentos isso é natural, afinal, lidar com emoções não é tarefa simples. Mas quando essa dificuldade é constante, pode se tratar de alexitimia —termo que vem do grego e significa literalmente "sem palavras para a emoção".
Quem vive com esse traço de personalidade não deixa de sentir, mas encontra obstáculos para identificar e nomear os próprios sentimentos. As emoções ficam "presas", sem expressão verbal, o que pode dar a impressão de frieza ou falta de empatia. Essa desconexão também afeta a forma de lidar com as emoções alheias, tornando as relações sociais mais complexas.
Além disso, pessoas com alexitimia tendem a ter um pensamento mais lógico e prático, voltado para o concreto, e podem confundir sensações físicas com estados emocionais. Assim, uma raiva não expressa pode ser percebida como dor de cabeça, ou uma angústia, como mal-estar físico. Esse bloqueio interno abre espaço para o surgimento de doenças psicossomáticas — dores e sintomas reais, mas sem causa orgânica identificável.
Emoções, alimentação e corpo
A relação entre alexitimia e alimentação é um campo cada vez mais estudado. Comer não é apenas um ato biológico de suprir nutrientes; envolve cultura, história pessoal, ambiente social e, sobretudo, emoções. Ansiedade, estresse ou entusiasmo podem alterar a fome e a saciedade, levando tanto à perda de apetite quanto ao famoso "comer emocional", em que a comida funciona como um alívio para a dor psíquica.
Mas se uma pessoa não reconhece suas emoções, estaria imune a esse ciclo? A resposta é não. Pesquisas apontam que dificuldades na infância, como rejeição, falta de sensibilidade ou manipulação por parte dos cuidadores, favorecem a supressão de sentimentos, que pode evoluir para alexitimia e, posteriormente, para distúrbios alimentares.
Nesses casos, a comida deixa de ser apenas alimento e passa a cumprir um papel substituto da emoção não reconhecida. É por isso que a alexitimia aparece com frequência em transtornos como anorexia e bulimia, onde a desregulação emocional se traduz em comportamentos extremos com o corpo e a alimentação.
Como se reconectar consigo mesmo
As consequências da alexitimia vão além das dificuldades sociais: ela afeta a saúde física e psicológica de quem a vivencia. Quem não reconhece as próprias emoções pode comer sem fome, perder a noção de saciedade, ou exagerar nas restrições alimentares, abrindo espaço para compulsões. Estudos mostram que, na anorexia, essa dificuldade em lidar com os sentimentos pesa ainda mais do que na bulimia, ajudando a explicar por que os tratamentos podem ser tão desafiadores.
Reconstruir essa ponte entre emoção e corpo passa por reaprender a ouvir os sinais internos, como fome e saciedade, e dar menos peso aos estímulos externos, como dietas restritivas ou padrões impostos. Mais do que controlar a comida, é preciso compreender os sentimentos que movem cada escolha alimentar.
A boa notícia é que esse processo pode ser desenvolvido com apoio profissional. Psicólogos, psiquiatras e nutricionistas ajudam a criar um espaço seguro para reconhecer medos, ansiedades e desejos. Ao resgatar essa conexão, a pessoa não apenas melhora sua relação com a comida, mas também fortalece sua saúde emocional e seus vínculos com o mundo ao redor.
*Com informações de coluna de VivaBem de 07/08/2019



























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