Dez atitudes que parecem maturidade, mas podem revelar o contrário

Maturidade não é uma questão de idade e nem se resume a transmitir firmeza ou passar a imagem de alguém centrado. O verdadeiro amadurecimento envolve autoconhecimento: reconhecer limites, lidar com as próprias emoções, assumir responsabilidades e construir relações equilibradas.

Na prática, porém, distinguir maturidade real de aparência pode ser desafiador. Muitas atitudes que parecem sinalizar segurança e estabilidade acabam sendo apenas disfarces para inseguranças e dificuldades emocionais.

Confira a seguir dez exemplos comuns —e o que eles realmente podem significar:

1. Falar com excesso de certeza

Transmitir convicção pode soar como autoconfiança, mas muitas vezes revela resistência a ouvir perspectivas diferentes. A psiquiatra Danielle Admoni, professora da Afya Educação Médica São Paulo, alerta:

"Ninguém é o dono da verdade. Quando você tem muita certeza de alguma coisa, provavelmente tem uma dificuldade enorme de poder escutar o outro lado, de pensar, ter flexibilidade."

O problema não está em ter opinião firme, e sim na rigidez que impede reflexão e abertura ao diálogo.

2. Evitar responsabilidades difíceis

Recusar desafios pode parecer prudência, como evitar assumir algo que talvez não consiga cumprir, mas sendo frequente encobre medo de fracassar ou de se expor. A verdadeira maturidade está em discernir quando avançar e quando recuar, sem deixar que a insegurança paralise. Na prática, quem foge de situações complexas pode estar desperdiçando oportunidades de crescimento.

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3. Controlar ou manipular situações

Excesso de organização e controle pode se confundir com eficiência, mas muitas vezes traduz insegurança. Pessoas que são dominantes em tudo o que fazem podem ter dificuldade em lidar com falhas ou imprevistos.

"O que se apresenta como firmeza ou segurança pode, na verdade, revelar uma dificuldade de adaptação e um traço de imaturidade emocional", explica Leandro Groba, psicólogo pela UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia).

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Imagem: Alexander Dummer/Pexels

4. Estar sempre ocupado

Rotina lotada de tarefas dá a impressão de disciplina, comprometimento com o trabalho e as obrigações diárias, mas pode funcionar como fuga emocional: evitar reflexões, sentimentos incômodos ou até o próprio sofrimento.

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A psicóloga Luciana Oliveira, pós-graduada em psicopatologia pelo Grupo PBE, reforça: "Nós não precisamos produzir constantemente... Somos seres sociais, também precisamos socializar e de passatempos."

Segundo ela, sem pausas e lazer, corre-se o risco de viver no piloto automático, desconectado das próprias necessidades.

5. Ignorar emoções

Frases como "não é nada demais" ou "resolvo depois" podem soar como autocontrole, mas muitas vezes escondem medo de se expor. Reprimir sentimentos acumula frustrações e pode gerar ansiedade, estresse e até explosões emocionais inesperadas. Além disso, compromete relacionamentos, já que os outros não conseguem entender limites e necessidades de quem silencia o que se sente.

6. Ser excessivamente crítico

Exagerar nas críticas transmite a impressão de discernimento, mas de modo repetitivo reflete insatisfações pessoais. A psiquiatra Danielle Admoni esclarece: "Aquele que critica o outro pode parecer uma pessoa que tem boa visão, mas na realidade pode estar projetando alguma questão que gostaria de estar fazendo ou acha que poderia fazer melhor."

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Em outras palavras, apontar falhas nos outros pode ser uma forma de mascarar desejos não realizados, além de decepções ou fracassos, consigo mesmo.

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Imagem: iStock

7. Evitar pedir ajuda

Recusar apoio transmite ideia de independência, mas costuma revelar receio de mostrar vulnerabilidade. Muitas pessoas, inclusive, resistem a pedir auxílio devido a experiências dolorosas do passado. Essa postura, em vez de sinalizar força, limita conexões e impede aprendizados importantes.

8. Evitar conflitos a todo custo

Fugir de confrontos pode parecer ter muita paciência, mas na verdade pode refletir dificuldade em impor limites e defender necessidades. Relações saudáveis exigem diálogo honesto, inclusive sobre divergências.

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Leandro Groba destaca que essa postura pode revelar imaturidade emocional: "Evitar enfrentar situações desafiadoras impede o desenvolvimento de habilidades indispensáveis para a vida adulta".

9. Tentar agradar a todos

Diplomacia é diferente de anulação. Quem busca agradar constantemente acaba escondendo insegurança e sentimento de inferioridade.

"Não podemos o tempo todo dar conta do que o outro pensa, do que o outro gostaria que a gente fosse. Tentar agradar todo mundo acaba sendo uma atitude muito insegura. A pessoa vai se anulando, deixando de fazer o que gosta e de colocar suas opiniões", observa Danielle Admoni.

Luciana Oliveira complementa: "A busca por agradar é uma prisão. Ela nasce do medo de não ser aceito e, muitas vezes, nasce de uma autoestima baixa".

10. Falar muito sobre conquistas

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Exaltar sucessos pode soar como confiança, mas frequentemente funciona como compensação para inseguranças. Quem tem autoestima sólida compartilha vitórias de forma natural, sem precisar de exageros ou demonstrações teatrais.

Como lidar com a imaturidade - nossa e alheia

Maturidade verdadeira vai além da imagem de firmeza. Nas palavras do psicólogo Leandro Groba, "para desenvolver maturidade emocional na vida adulta, a forma mais indicada e eficaz continua sendo iniciar um processo terapêutico". Ou seja, querer e buscar ajuda de especialistas em saúde mental para se desenvolver.

Com autoconhecimento e acompanhamento adequado, é possível transformar comportamentos que parecem virtudes em caminhos reais de evolução, fortalecendo a resiliência, a confiança e o equilíbrio emocional.

E quando se trata da imaturidade dos outros? O primeiro passo é compreender que não temos controle sobre as atitudes de terceiros, apenas sobre como reagimos a elas. Isso envolve estabelecer limites claros, evitar assumir responsabilidades que não são nossas e praticar a empatia sem confundir com permissividade. Em alguns casos, manter certa distância pode ser necessário para preservar a própria saúde mental.

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