Quanto tempo leva até primeiros sintomas de consumo de metanol aparecerem?

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Os sintomas de uma intoxicação por metanol podem levar até um dia para aparecerem. O governo de São Paulo já confirmou 22 casos no estado.
Quanto tempo leva até os primeiros sintomas?
Os sintomas podem demorar horas para aparecer, com uma janela variável de 30 minutos até mais de um dia. O motivo, explica o toxicologista Carlos Augusto Mello da Silva, presidente do Departamento de Toxicologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, é a interação do metanol com o próprio etanol. "
Quando há presença de álcool etílico na mesma bebida, ele compete pelas enzimas de metabolização e atrasa a transformação do metanol em ácido fórmico, que é o composto tóxico. Por isso os sinais podem ser retardados em várias horas. Carlos Augusto Mello da Silva
O principal sinal de intoxicação por metanol são as alterações visuais precoces. A substância, usada ilegalmente na adulteração de bebidas alcoólicas, pode provocar sintomas semelhantes ao consumo de etanol comum, mas com um diferencial grave: problemas de visão logo no início. O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) alerta que cerca de 10 ml de metanol puro podem causar cegueira e 30 ml podem ser letais, dependendo da rapidez do atendimento.
Os primeiros sinais podem ser confundidos com embriaguez comum. Segundo Silva, o início da intoxicação pode trazer tontura, náusea e vômito, mas com um alerta decisivo. "O que chama mais a atenção no metanol é a alteração visual precoce. O paciente começa a relatar que a visão está embaçada ou diferente, e isso não é esperado no consumo normal de álcool", diz.
A Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia fez um alerta sobre os riscos de o consumo de metanol causar neuropatia óptica, "uma doença grave que pode causar perda de visão irreversível", descreve a nota enviada à Agência Brasil. Ainda a associação, podem surgir sintomas de intoxicação como "dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor abdominal, confusão mental e, principalmente, visão turva repentina ou até cegueira."
O diagnóstico deve ser feito a partir da história clínica do paciente e por exames de sangue e de imagem. O tratamento deve ser imediato e com uso de antídotos (como o etanol venoso), bicarbonato para corrigir a acidez no sangue, vitaminas (ácido fólico/folínico) e, nos casos mais graves, hemodiálise para remover o veneno.
O metanol ataca diretamente o nervo óptico. Em casos graves, a substância leva a lesões irreversíveis que causam perda parcial ou total da visão. "A preferência do metanol é pelo nervo óptico, e isso pode levar à cegueira completa se o atendimento não for feito logo", afirma Silva. O especialista acrescenta que outros órgãos também podem ser afetados: "Dependendo da gravidade, pode haver comprometimento do sistema nervoso central, dos rins e do fígado".
Difícil de identificar
Não há como identificar a bebida adulterada pelo consumidor. O metanol é incolor e tem odor alcoólico fraco, o que o torna indistinguível do etanol. Guias do CDC e do Methanol Institute apontam que o limiar de percepção de odor é alto e não confiável, por isso não se deve depender de cheiro, sabor ou aparência para detectar adulteração. "Infelizmente, não há como diferenciar no paladar ou pelo cheiro. Só em concentrações muito altas pode haver um odor lembrando solvente, mas isso não é confiável", afirma Silva.
A única forma de confirmar é por análise laboratorial. O diagnóstico padrão envolve cromatografia para identificar a substância e exames de sangue para medir acidose metabólica e níveis de ácido fórmico. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) e a literatura médica reforçam que não existe teste rápido confiável disponível para consumidores ou estabelecimentos.
Tratamento disponível
A eficácia depende da rapidez do atendimento. Guias técnicos como os do Methanol Institute recomendam a administração de antídotos para impedir a metabolização do metanol. "Essas substâncias bloqueiam a ação da enzima álcool-desidrogenase, evitando que o metanol se transforme em ácido fórmico", explica Silva.
Casos graves exigem hemodiálise. O procedimento é utilizado para remover rapidamente o metanol e seus metabólitos do organismo. Ejzenbaum reforça em sua explicação: "Se o reconhecimento ocorre nas primeiras 24 a 48 horas, o prognóstico visual pode ser menos pior. Mas quando a paciente chega já cega, como nesse caso, as sequelas costumam ser irreversíveis".
Alerta do Governo Federal
Nove casos de intoxicação por metanol em 25 dias levaram o governo federal a emitir um alerta urgente em São Paulo. O Ministério da Justiça e Segurança Pública direcionou a recomendação a bares, restaurantes e mercados. A nota técnica, assinada pelo secretário nacional do Consumidor, Paulo Henrique Pereira, reforça que a venda de bebidas adulteradas é crime previsto no Código Penal e destacou a necessidade de ação conjunta entre governo, setor privado e sociedade para proteger os consumidores.
Estabelecimentos devem reforçar o controle sobre os produtos. As recomendações incluem a conferência das bebidas e o fortalecimento da rastreabilidade. Bares e mercados precisam estar atentos a sinais suspeitos, como preços muito baixos, lacres tortos, erros grosseiros de impressão e odor semelhante a solventes.
A conduta em caso de suspeita exige ação imediata. Se clientes apresentarem sintomas — como visão turva, dor de cabeça intensa, náusea ou rebaixamento de consciência —, a orientação é encaminhá-los ao atendimento médico e acionar o serviço da Anvisa (Disque-Intoxicação). Também é necessário interromper a venda do lote, isolar fisicamente os produtos e preservar garrafas, caixas, rolhas e rótulos como evidência, mantendo ao menos uma amostra por lote para possível perícia.
O que fazer
Em caso de suspeita de intoxicação, procure atendimento médico imediato. Alterações visuais, dor abdominal intensa, vômito e confusão mental após consumo de bebidas alcoólicas devem ser tratados como emergência.
Canais oficiais de orientação:
- Disque-Intoxicação: 0800 722 6001 (serviço nacional, 24h, gratuito, do Ministério da Saúde).
- Centro de Informação e Assistência Toxicológica de São Paulo: atendimento pelo mesmo número do Disque-Intoxicação, com médicos especializados.
O que fazer ao suspeitar de intoxicação:
- Não tente métodos caseiros de neutralização.
- Guarde, se possível, a embalagem ou amostra da bebida suspeita para análise pela Vigilância Sanitária.
- Oriente familiares e amigos que consumiram o mesmo produto a buscarem avaliação médica mesmo sem sintomas.
* Com informações da Agência Brasil.


























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