Promessa contra envelhecimento, suplemento NAD ainda requer mais estudos

Um dos maiores desejos humanos é envelhecer de forma saudável. Nesse sentido, alguns hábitos já são conhecidos como eficazes, como manter uma alimentação equilibrada e praticar atividade física de forma regular. Contudo, de tempos em tempos, surgem notícias ou suplementos alimentares —nem sempre confiáveis— que prometem aumentar a longevidade e fazer bem à saúde.

Esse é o caso do NAD, sigla para "nicotinamida adenina dinucleotídeo", uma molécula natural do corpo humano que atua na produção de energia para nossas células. Essa função faz do NAD muito importante para o funcionamento adequado do nosso organismo, mas não é a única: Barbarella de Matos Macchi, docente do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia e Bioquímica da UFPA (Universidade Federal do Pará), lembra ainda que outra função crucial do NAD é a reparação das nossas moléculas de DNA quando alguma delas foi lesada.

Esses papéis dentro do nosso organismo fizeram com que a NAD se tornasse uma "molécula de interesse" para a ciência. Ainda mais depois que os cientistas descobriram que, com o avanço da idade, ocorre a queda gradual dos níveis dela no corpo.

"Por conta disso, surgiu a hipótese de que a diminuição do padrão da molécula durante o envelhecimento poderia explicar problemas de saúde comuns em idosos", afirma Manuela Dolinsky, professora associada da Faculdade de Nutrição da UFF (Universidade Federal Fluminense).

Ou seja, se os níveis de NAD de fato estiverem conectados com o envelhecimento, suplementar essa molécula no organismo poderia evitar problemas com o avanço da idade e promover um envelhecimento mais saudável?

O que a ciência diz sobre essas dúvidas?

Por enquanto, não existem certezas sobre essas perguntas, e o tema é motivo de debate entre especialistas. Ana Paula Loureiro, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e autora de estudos sobre esse tema, afirma que pesquisas sobre o impacto do NAD no envelhecimento humano começaram a ser mais comuns na década de 2000, mas muitas dúvidas ainda seguem abertas.

Em animais, por exemplo, as evidências apontam que a manutenção do nível de substância leva a efeitos positivos, mas esse não é o caso em humanos. "Tem muitos resultados de pesquisas com humanos que não batem com o que é observado nos animais", afirma Loureiro.

A dose é uma hipótese que explica essas discrepâncias. Normalmente, em estudos em humanos, usa-se uma dose um pouco maior de NAD daquela utilizada em pesquisas com camundongos. Mas esses animais são muito menores, fazendo com que a concentração da substância seja maior neles do que nos humanos participantes de pesquisas. Isso pode explicar por que se vê efeitos positivos em camundongos, mas não em humanos —a dose precisaria ser maior para ver mais efeitos.

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Mas o tema é discutido até mesmo no universo dos testes em animais. Por exemplo, em uma pesquisa publicada na revista científica Cell Metabolism, cientistas alteraram o organismo dos camundongos para reduzir em até 85% os níveis de NAD nos músculos desses animais. No entanto, mudanças não foram observadas nas funções musculares. Esse resultado é um indicativo de que a queda na concentração da substância não aparenta levar a problemas diretos nos músculos.

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Imagem: Getty Images

Então é necessário tomar suplemento de NAD?

Como a ciência ainda não definiu se o NAD leva a um envelhecimento mais saudável, especialistas não recomendam o consumo desses suplementos que vendem ideias milagrosas para o avanço da idade. Dolinsky recomenda cautela no acesso a esse tipo de produto por conta da falta de evidências e afirma ser necessário ter o acompanhamento de profissionais qualificados.

O mesmo é apontado por Macchi, que critica produtos vendidos como milagrosos. Para a professora da UFPA, suplementos desse tipo prometem retardar o envelhecimento mesmo sem contarem com comprovação científica consolidada.

Além de não se saber se o NAD proporciona um envelhecimento saudável, outro ponto é que uma alimentação comum já promove a ingestão da molécula. Isso acontece por conta da vitamina B3, substância que é precursora do NAD. Ao consumir leites, carnes e alimentos fermentados, uma pessoa insere vitamina B3 em seu organismo, o que leva a níveis regulares de NAD sem precisar de suplementação.

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O que posso fazer para envelhecer de forma saudável?

Quando o assunto é longevidade, a ciência já sabe que o que faz diferença são os hábitos saudáveis. Tanto Macchi quanto Dolinsky e Loureiro foram categóricos: manter uma alimentação saudável e equilibrada, praticar exercícios físicos de forma regular e dormir bem, por exemplo, são altamente recomendados. Talvez um dia o NAD entre nessa lista também, mas esse não é o caso atual.

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