Estudo revela se personalidade influencia no prazer por exercícios físicos

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Como definir quais os melhores exercícios físicos para você? Talvez sua personalidade possa ajudar nisso. Essa foi a conclusão de um estudo que avaliou o engajamento e prazer com exercícios físicos em indivíduos com diferentes tipos de personalidade.
No entanto, a pesquisa não é conclusiva —afinal, o tema ainda é objeto de discussão entre especialistas, já que existem poucas evidências sobre o assunto.
O que diz o estudo?
Publicada na revista científica Frontiers in Psychology, a pesquisa buscou entender se a personalidade de alguém poderia ser um fator para aptidão física, prazer com exercícios físicos e engajamento com planos de treinamento. O estudo envolveu:
82 participantes que chegaram até o final do estudo;
Os integrantes foram divididos em dois grupos: um que praticou atividades físicas por oito semanas e outro sem treinamento pelo mesmo período de tempo;
Os exercícios físicos propostos no estudo foram ciclismo, em diferentes níveis de intensidade, e treinos de força;
Os participantes foram estratificados de acordo com cinco traços de personalidades: extroversão, neuroticismo, abertura/franqueza, amabilidade e conscienciosidade. Esses traços já são difundidos no campo da psicologia, e os pesquisadores usaram questionários para acessá-los nos diferentes participantes;
Os integrantes do estudo também foram submetidos a testes em laboratórios para medir fatores biológicos, como composição corporal, e passaram por avaliações sobre prazer e engajamento durante os treinos.
Ao fim da pesquisa, a conclusão principal foi que a personalidade pode influenciar, mesmo que minimamente, o engajamento em exercícios físicos. Por exemplo:
Pessoas com forte traço de extroversão tendem a preferir sessões de alta intensidade;
Já participantes caracterizados com neuroticismo preferiram sessões de exercícios leves sem a presença de outras pessoas;
Esse grupo também esteve mais confortável com exercícios que não exigiam um esforço intenso por um tempo mais prolongado;
Aqueles com traço de personalidade relacionado a abertura classificou exercícios muito intensos como menos eficazes do que outras atividades;
Integrantes com fortes traços de amabilidade e conscienciosidade não apresentaram preferências sólidas por nenhum dos treinos fornecidos.
Segundo os autores do estudo, esse tipo de conclusão pode ser útil para elaborar treinos adaptados aos interesses de diferentes personalidades. Isso poderia aumentar o engajamento, prazer e interesse por atividades físicas para distintos grupos de pessoas.

O que outros especialistas dizem?
A conclusão dos pesquisadores, no entanto, é tema de discussão entre especialistas da área que não estiveram envolvidos no estudo. Paulo Gentil, professor na Faculdade de Educação Física e Dança da UFG (Universidade Federal de Goiás), afirma que traços de personalidades são mutáveis e que, na psicologia do esporte, é possível trabalhá-los.
Para ele, a melhor estratégia seria trabalhar esses traços de personalidade e não somente prescrever exercícios que supostamente se encaixam melhor no perfil de alguém.
O professor da UFG afirma ainda que existem fatores que influenciam o engajamento com atividades físicas mais importantes do que a personalidade de uma pessoa, como resultados visíveis a partir de treinos e o encaixe adequado na rotina do indivíduo.
"A ideia de ajustar atividades físicas a personalidade tem pouca utilidade real. O ideal seria tornar o exercício viável, eficiente e adaptável à rotina das pessoas", diz Gentil.
Dirceu Gama, professor do Departamento de Ciências da Atividade Física da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), é outro especialista que tem ponderações sobre o tema. Ele afirma que a personalidade pode ser um dado útil no desenvolvimento de um plano de treino, mas esse é somente um fator entre tantos outros.
Por exemplo, no caso de uma pessoa sedentária, considerar a personalidade do indivíduo pode ser interessante para elaborar um treino que possa aumentar as chances de adesão. No entanto, levar em conta só esse aspecto é um erro. "É importante considerar a personalidade para montar um treino, mas, de forma parecida, os fatores individuais e próprios da pessoa em questão", diz Gama.

Por outro lado, Marina Pereira Gonçalves, professora associada de psicologia da UNIVASF (Universidade Federal do Vale do São Francisco) e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Psicometria e Psicologia do esporte (GPPPE), afirma que personalidade é considerada um fator importante para entender motivações por atividades físicas.
Por isso, Gonçalves aponta que as conclusões da nova pesquisa se alinham a discussões sobre como elaborar treinos de acordo com gostos e personalidades de diferentes pessoas.
Ao mesmo tempo, ela também reforça que ainda faltam evidências mais sólidas sobre o assunto. Ela aponta que os próprios autores do estudo indicam que existem limitações nessa área de pesquisa. "Ou seja, mais pesquisas são necessárias para definir o quanto a personalidade impacta o engajamento com atividades físicas", pondera.



























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