Farinha da felicidade vira hit para metabolismo, mas entrega o que promete?

A farinha da felicidade ganhou popularidade nas redes sociais ao ser apresentada como uma mistura capaz de acelerar o metabolismo, contribuir para a perda de peso, controlar a glicemia e melhorar a saúde intestinal.

A receita varia bastante e costuma reunir diferentes farinhas e ingredientes nutritivos, como gérmen de trigo, aveia, psyllium, farinha de banana verde, fibra de maçã, gergelim, maca peruana, ora-pro-nóbis e beterraba.

Embora tenha ficado famosa, ainda não há comprovação científica sobre os efeitos da farinha, principalmente porque não existe uma receita única. Portanto, acredita-se que os possíveis benefícios estejam relacionados às propriedades de cada ingrediente, e não à mistura como um todo.

A procura por um superalimento ou uma combinação milagrosa é bastante frequente pela população. No entanto, não existe um alimento ou farinha que solucione todas as questões da saúde, muito menos trazer felicidade.
Thelma Feltrin, nutricionista, mestre em saúde pública

"Não é conhecida nenhuma comprovação científica robusta de que a mistura dessas diferentes farinhas possa potencializar os efeitos umas das outras", completa Feltrin, que também é membro do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região (São Paulo e Minas Gerais).

Combinação de nutrientes e possíveis benefícios

De forma geral, a farinha da felicidade combina diferentes ingredientes e pode fornecer fibras, proteínas, vitaminas, minerais e antioxidantes que contribuem para a saúde.

"Embora seja um alimento concentrado de nutrientes, não fornece os macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios) nem os micronutrientes (vitaminas, minerais e eletrólitos) em proporções equilibradas e quantidades adequadas. Por isso, seu uso é indicado como suplemento nutricional, podendo ser incorporado preferencialmente em refeições intermediárias", explica Isolda Prado, nutricionista, diretora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) e professora da UEA (Universidade do Estado do Amazonas).

Entre os possíveis efeitos associados ao consumo (e dependendo da composição da mistura), estão:

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Saúde intestinal: fibras presentes no psyllium, na banana verde e na aveia ajudam na regulação do trânsito intestinal e nutrem a microbiota, melhorando a digestão.

Controle da glicemia: a presença de b-glucanas (fibras da aveia) e de amido resistente (carboidrato da banana verde que atua como fibra) contribui para a liberação mais lenta do açúcar no sangue.

Coração protegido: sementes como linhaça, chia, gergelim e oleaginosas fornecem gorduras boas, com potencial de diminuir o colesterol LDL (considerado "ruim") e reduzir inflamações.

Saciedade e peso: o alto teor de fibras e proteínas vegetais aumenta a sensação de plenitude, ajudando a controlar o apetite e apoiar o manejo do peso corporal.

Defesas do corpo: polifenóis (compostos de frutas e vegetais com ação antioxidante), betalaínas (pigmentos da beterraba), vitaminas C e E e carotenoides do ora-pro-nóbis auxiliam na proteção celular contra radicais livres.

Mais energia: a maca peruana pode melhorar disposição e libido, enquanto as proteínas vegetais contribuem para a manutenção da massa muscular.

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Vale destacar que os benefícios da farinha da felicidade ocorrem apenas quando ela é consumida dentro de um estilo de vida saudável, com alimentação variada, colorida e equilibrada.

Riscos do consumo

Consumir a farinha da felicidade por conta própria e sem orientação profissional pode causar alguns riscos à saúde. Ingredientes comuns na mistura, como o glúten ou sementes (caso do gergelim), podem provocar alergias, intolerâncias e reações indesejadas em pessoas sensíveis.

Quem tem síndrome do intestino irritável ou outras doenças inflamatórias intestinais também pode sentir desconforto, devido ao alto teor de fibras da mistura.

O consumo inadequado de líquidos junto à farinha pode causar constipação, e o excesso de fibras pode interferir na absorção de determinados medicamentos. Por isso, a recomendação é ingerir a farinha em horários afastados da medicação e com moderação, sempre dentro de uma alimentação equilibrada.

"O consumo excessivo deve ser evitado, já que a farinha é calórica. Se a farinha tiver uma quantidade elevada de aveia, ela pode levar ao ganho de peso e aumentar a glicemia em pessoas com diabetes. Embora a sobrecarga de nutrientes seja possível, ela é rara", afirma Erica Oliveira, nutricionista do Hospital Nove de Julho.

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Quantidade recomendada e como consumir

Não há uma quantidade padrão recomendada, mas a orientação geral é consumir a farinha com moderação, geralmente uma a duas colheres de sopa por dia. É importante lembrar que a recomendação diária de fibra alimentar para um adulto saudável é de 25 a 30 gramas, que devem ser obtidas por meio de uma dieta diversificada, incluindo frutas, verduras, legumes, cereais integrais e leguminosas.

A mistura de farinhas da felicidade pode contribuir para atingir essa meta, mas não deve ser a única fonte de fibras na alimentação. Além disso, é essencial certificar-se da procedência das farinhas e armazená-las corretamente, em local seco e longe da luz, para preservar seus nutrientes e evitar contaminações.
Thelma Feltrin, nutricionista

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