Dá para saber quando começa a velhice? Por que uns envelhecem antes?

Não são rugas ou o aparecimento de cabelos brancos que vão definir o início do envelhecimento. Segundo pesquisadores da área, não há uma linha no tempo que se possa traçar com exatidão que separe a meia-idade da velhice. Essa fronteira é móvel, subjetiva e profundamente individual.

O que se tem hoje é a compreensão de que a idade cronológica, aquela registrada na certidão de nascimento, é uma medida limitada e pouco diz sobre a vitalidade real de uma pessoa. Já a idade biológica, que considera o estado dos tecidos, das células e da capacidade funcional do organismo, oferece um retrato muito mais fiel da saúde e da vitalidade.

Estudos recentes, como um publicado em agosto de 2024 na revista Psychology and Aging, revelam que adultos de meia-idade e idosos se sentem hoje mais jovens do que os de gerações anteriores. Esse fenômeno é reflexo não apenas do aumento da longevidade, mas também de uma cultura que, de maneira especial no Ocidente, reluta em aceitar o envelhecimento como parte natural da vida. Conforme explica Markus Wettstein, pesquisador da Universidade Humboldt (Alemanha), o atraso subjetivo na percepção da velhice é uma forma de resistência à carga simbólica negativa associada à palavra "velho".

Genética x ambiente

Pesquisadores investigam há mais de 30 anos diferentes biomarcadores de envelhecimento: capacidade física, perfis lipídicos, danos ao DNA, entre outros. Embora ainda não exista um marcador universalmente aceito, já se sabe que o processo é influenciado por múltiplos fatores — e que muitos deles estão em nossas mãos.

A genética explica apenas 25% do modo como envelhecemos. Os outros 75% dizem respeito ao nosso estilo de vida e ao ambiente em que vivemos. O envelhecimento saudável não é privilégio dos "geneticamente sortudos", mas uma possibilidade real para quem cultiva bons hábitos e vive em condições favoráveis.

Estresse crônico, doenças prolongadas, má alimentação, sedentarismo e o tabagismo podem acelerar drasticamente a idade biológica, mesmo que o número de anos sugira o contrário. Por outro lado, indivíduos com rotina de exercícios, alimentação balanceada, controle de doenças crônicas e boa rede de apoio social tendem a envelhecer de forma mais lenta e saudável.

Como destaca o geriatra Maurício de Miranda Ventura, as populações mais longevas vivem em regiões com bons recursos de saúde e segurança, mas também contam com uma cultura que valoriza o envelhecimento como parte da experiência humana, e não como um declínio inevitável.

Envelhecer bem é questão de perspectiva

A forma como cada pessoa encara o envelhecimento é tão importante quanto sua genética ou rotina de exames. "A velocidade como o tempo passa é igual para todos, mas a forma como reagimos a ele faz toda a diferença", ressalta Ventura. Enquanto alguns se sentem produtivos, sonham, planejam e se adaptam aos déficits naturais da idade (como os auditivos e visuais), outros se retiram da vida ativa por acreditarem que não lhes resta mais tempo para se reinventar.

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Esse afastamento pode ser agravado por fatores emocionais e psicológicos. Quando a velhice é vivida como um estado de limitação, a resiliência tende a diminuir. Em contrapartida, idosos que cultivam uma mentalidade positiva e autônoma enfrentam melhor as adversidades.

De acordo com a geriatra Jullyana Chrystina Ferreira Toledo Affonso, o segredo está em manter o foco naquilo que se pode controlar: manter um estilo de vida ativo, fazer check-ups regulares, tratar doenças precocemente e, sobretudo, não deixar que o número de anos defina quem se é.

O envelhecimento, portanto, não é um ponto fixo no tempo, mas um processo moldado por escolhas, contextos e crenças. A velhice começa, talvez, não quando o corpo muda, mas quando se perde a curiosidade pela vida — e essa, felizmente, pode ser preservada por muito tempo.

*Com informações de reportagem publicada em 17/07/2023

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