Ele viveu 20 anos comendo só 3 coisas; hoje, prova comidas pela 1ª vez

Imagine descobrir o sabor da maioria dos alimentos somente aos 24 anos. Essa é a história de Ben Sutter, um jovem norte-americano que passou duas décadas comendo só três alimentos e tomando sucos de caixinha formulados.

Tudo por causa de uma condição rara chamada gastroenterite eosinofílica (GEE), que fazia seu corpo entender a maior parte das comidas como um "inimigo". Mas, após começar a tomar o remédio Dupixent aos 20 anos, ele passou a experimentar alimentos de verdade e hoje viraliza com vídeos reagindo às primeiras mordidas da sua vida. Ele falou sobre como é viver com a condição à revista People.

Sonda dos 3 aos 16 e relação diferente com a comida

Durante anos, sua única fonte de nutrição eram sucos de fórmula. Ben tomava o Neocate Splash, um "suco de caixinha" prescrito. "No ensino médio, passei a tomar suco de caixinha com fórmula em tempo integral. Eu simplesmente carregava uma sacolinha preta, com um monte de caixinhas de suco dentro. E essa era só a minha comida."

Dos 3 aos 16 anos a rotina de alimentação era feita por sonda. Ele andava com uma bomba de alimentação que funcionava de 30 minutos a uma hora por vez, duas vezes ao dia.

Só três alimentos eram seguros: batata, arroz e milho. Mesmo assim, só em determinadas formas. Chips, por exemplo, eram mais bem tolerados — o que moldou sua preferência por alimentos crocantes.

A comida sempre esteve presente, mas de outras formas. Com três irmãos mais velhos e uma família muito presente, ele participava dos jantares mesmo sem comer. "Era uma questão de passar tempo com a família", afirma Ben. "Aprender sobre o dia a dia uns dos outros." Em aniversários e feriados, sua mãe encontrava saídas criativas. Em um deles, como só podia consumir açúcar puro, ele ganhou uma máquina de algodão-doce. "Minha mãe moldou aquilo em um bolo de aniversário", lembra.

Sentir-se 'normal' era mais difícil com o tempo. Por volta dos 12 anos, Ben começou a questionar a própria rotina. Mas os pais sempre o incentivaram a valorizar o que ele podia fazer, não o que estava fora do seu alcance.

Experimentando alimentos pela primeira vez

Remédio que mudou tudo. Em 2021, Ben foi aprovado para tomar o Dupixent, um medicamento que reduz a inflamação e permite que pacientes com GEE testem novos alimentos sem tantas reações alérgicas. "Um mês depois de começar a usar o medicamento, minha endoscopia estava limpa pela primeira vez em quase 16 anos", diz.

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As primeiras mordidas foram tensas. "Ainda me lembro de voltar pra casa, depois da endoscopia, e sentar no meu apartamento. Minha esposa colocou uma cenoura baby na minha frente, e acho que um pedaço de aipo", relata Ben. "E eu não sou uma pessoa ansiosa. Mas eu estava suando, só de olhar para a comida. Eu estava tão nervoso, com tanto medo."

@benlore4 First time trying banana bread and it went pretty well. I wouldn't say I'm in love with it, but I have definitely tried worse things. It's very different than what I have had in the past as the flavor is very deep and later, but isn't overpowering. It feels like one of the few things that didn't smack me in the face. ##Benlore##foodie##foodtiktok##foodtok ? original sound - BenLore

Torrada foi uma das primeiras comidas de verdade que ele adorou. Ele contou que sempre escolheu os alimentos com base em duas coisas: aparência crocante e cheiro bom. "Torrada era simplesmente a melhor opção, e eu mal podia esperar para experimentar", disse à revista People.

Maçã, por outro lado, foi uma decepção. Apesar da crocância, o suco e a textura pegajosa o incomodaram. "Não gostei", diz.
Hoje, ele compartilha tudo nas redes.

Cada nova descoberta vira conteúdo no TikTok, onde Ben faz sucesso reagindo a comidas comuns como se fossem grandes novidades. Para ele, são mesmo.

Como funciona a doença

O corpo de Ben via comida como inimigo. A gastroenterite eosinofílica (GEE) é uma condição em que o sistema imunológico ataca os alimentos como se fossem invasores nocivos, provocando inflamações no trato digestivo.

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Acúmulo de glóbulos brancos em excesso. A gastroenterite eosinofílica (GE) é uma doença inflamatória crônica do trato gastrointestinal (TGI) caracterizada pelo acúmulo excessivo de um tipo de glóbulo branco chamado eosinófilo nas paredes do estômago, intestino delgado ou cólon, explica Alexandre Nishimura, cirurgião coloproctologista no Hospital Israelita Albert Einstein em entrevista a VivaBem.

A restrição alimentar em casos de gastroenterite eosinofílica é comum porque, em muitos pacientes, a doença é mediada por alergias alimentares. Embora nem todos os casos estejam diretamente ligados a uma alergia IgE mediada (o tipo de alergia clássica com reações imediatas), a exposição a certos alimentos pode desencadear ou piorar a inflamação. Quando um paciente é diagnosticado com GE, uma das abordagens de tratamento é identificar e eliminar o alimento gatilho que podem estar provocando a resposta inflamatória.
Alexandre Nishimura, cirurgião coloproctologista a VivaBem

Descobrir um novo alimento era um processo invasivo. Antes do remédio, Ben precisava comer o mesmo alimento por meses e, ao fim, fazer uma endoscopia para avaliar a reação. "É muito difícil comer a mesma coisa todos os dias, por um ou dois meses", afirma. "Não gosto de fazer endoscopias altas. Não são muito divertidas", afirmou para People.

A doença afetava até a capacidade do estômago. Como ele nunca ingeriu grandes volumes, seu estômago não se expandiu. "Se eu coloco um sanduíche com duas folhas de alface e uma fatia de presunto, quando termino, estou basicamente satisfeito", diz. "E levo meia hora para comer isso."

A comida agora é um aprendizado diário. "Eu nem criei o hábito de sentar para comer. Não sei cozinhar", conta. "Isso é muito mais do que eu esperava." Mesmo assim, ele diz que sempre teve uma vida plena, com estudos, viagens, casamento e apoio. "Há muita coisa na vida para aproveitar, e não precisa ser em torno da comida", conclui Ben Sutter, em entrevista à People.

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