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'Vi no TikTok'. Todo mundo tem TDAH? O que é (e o que não é) o transtorno

Será que é TDAH ou ansiedade? Imagem: iStock

De VivaBem, em Fortaleza*

20/06/2025 15h57

Você vê um vídeo no TikTok e se identifica: dificuldade de foco, distração constante, esquecer o que foi fazer ao entrar num cômodo? Pronto: é TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade).

Com a popularização das redes sociais, muita gente passou a se reconhecer em sintomas do transtorno. Mas isso não quer dizer que o diagnóstico esteja correto.

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"Não é incomum que adultos procurem o médico dizendo que têm TDAH porque viram algo online. Mas o importante é escutar com atenção e avaliar de forma criteriosa", diz o pesquisador britânico Philip Shaw a jornalistas no Congresso Brain. "Às vezes, a pessoa tem traços de distração ou impulsividade, mas isso não afeta a vida dela, portanto não é um transtorno."

Shaw é diretor da Parceria King's Maudsley para Crianças e Jovens, do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociências do renomado King's College London, e lidera pesquisas sobre TDAH em instituições como o Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, nos EUA. Segundo ele, o diagnóstico sério exige uma avaliação clínica cuidadosa e baseada na história de vida da pessoa.

"Todos temos momentos de desatenção ou inquietação. Só é TDAH se isso causar prejuízo real na vida escolar, profissional ou pessoal", explica.

TDAH não é só "ser distraído"

O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, se manifesta desde a infância. Por isso, não basta apresentar sintomas aos 30, 40 ou 60 anos para ter o diagnóstico: é preciso investigar o histórico da pessoa desde os primeiros anos de vida.

"Em alguns adultos, os sintomas só se tornam um problema mais tarde porque, durante a juventude, eles tinham suporte, pais, professores, estrutura. Mas os sinais já estavam ali, mesmo que mais sutis", afirma Shaw.

Ele destaca ainda que o diagnóstico não pode ser feito às pressas: requer tempo, escuta ativa e envolvimento da família e dos professores (no caso de crianças e adolescentes). "É um processo que exige profissionais bem treinados. Não é uma checklist rápida, muito menos um vídeo no TikTok", alerta.

O cérebro e os genes do TDAH

Imagem: GETTY IMAGES

Em um estudo de 2022 com 10 mil pessoas, Shaw e sua equipe mapearam padrões cerebrais associados ao TDAH. Descobriram que, em alguns casos, certas áreas do cérebro interrompem outras em momentos-chave —o que ajuda a explicar por que quem tem o transtorno tende a se dispersar com facilidade.

Além disso, Shaw afirma que pesquisa genética também avançou. Ele conta que os cientistas estão identificando variações genéticas ligadas ao TDAH e desenvolvendo o chamado "marcador poligênico de risco", uma ferramenta que pode, no futuro, prever a evolução do transtorno em cada paciente.

"Não queremos só entender quem tem TDAH, mas como essa condição vai se desenrolar ao longo da vida. Pacientes com risco genético mais alto podem enfrentar mais dificuldades", diz o pesquisador.

TDAH na vida adulta e na velhice

É possível receber o diagnóstico só na idade adulta, desde que os sintomas existam desde a infância. Shaw relata que muitos pacientes só percebem o impacto do TDAH ao entrar na universidade ou ao perderem suas estratégias de compensação na velhice.

"Recebo pacientes com 65 anos que chegam dizendo que estão com demência. Mas, ao investigar, percebemos que eles já tinham TDAH desde os cinco anos, só nunca foram diagnosticados", conta. Nesses casos, a avaliação correta pode fazer toda a diferença para garantir qualidade de vida na terceira idade.

Nem tudo é TDAH

O alerta final do pesquisador é para o uso indiscriminado do termo "neurodivergente". Ele reconhece a importância do movimento, mas destaca que nem todo comportamento diferente é sinal de TDAH.

"Já vi crianças que diziam ser neurodivergentes, mas na verdade tinham ansiedade ou problemas de humor. É fundamental ouvir, investigar e diferenciar os diagnósticos", afirma.

O recado é simples: desatenção não é sinônimo de TDAH. E, para saber a diferença, é preciso mais do que um vídeo curto e um checklist da internet, é preciso uma consulta com um profissional de saúde mental sério e treinado.

*A jornalista viajou a convite do Brain.

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