'Identificar autismo cedo é crucial', diz pesquisadora dos EUA
Detectar o autismo nos primeiros anos de vida pode ser determinante para o desenvolvimento da criança. Pesquisas mostram que o diagnóstico pode ser feito a partir dos 18 meses de idade —período em que o cérebro está em rápido desenvolvimento e há maior chance de avanços significativos na linguagem e nas habilidades sociais.
"Os maiores ganhos na linguagem acontecem entre os 18 meses e os 4 anos. É nessa janela que crianças, inclusive as com autismo, têm mais facilidade para aprender a falar. Por isso, diagnosticar cedo é crucial", afirma Catherine Lord, psicóloga clínica e professora de psiquiatria na Escola de Medicina David Geffen da UCLA, nos EUA, cujo foco principal de pesquisa é o TEA (transtorno do espectro autista). Ela falou com jornalistas no Congresso Brain, cujo tema é neurociências, em Fortaleza.
Relacionadas
Apesar disso, identificar o autismo em crianças muito pequenas ainda é um desafio. Muitos pais, especialmente os de primeira viagem, não têm referências claras sobre o que é esperado em cada fase do desenvolvimento infantil. "Eles podem não perceber que há algo fora do padrão, a menos que tenham outros filhos para comparar", explica Catherine Lord.
Outro fator que dificulta o diagnóstico precoce é o fenômeno da regressão. Em alguns casos, crianças autistas perdem habilidades que já haviam adquirido, como o uso de palavras ou o interesse por interações sociais. "Essa perda costuma ser gradual e sutil. Às vezes, só percebemos depois de acompanhar a criança por seis meses. Pode ser algo pequeno, como deixar de brincar com o irmão, ou mais evidente, como parar de falar completamente", diz a especialista.
Esse padrão de perda de habilidades entre 12 e 24 meses gerou, no passado, a ideia equivocada de que vacinas poderiam causar autismo —mito já desmentido por inúmeras pesquisas científicas. "As vacinas não causam autismo. O que acontece é que a regressão de habilidades pode coincidir com o período em que as crianças recebem algumas vacinas, o que levou a conclusões erradas", reforça Lord.
O diagnóstico do TEA também exige atenção a outras condições que podem estar presentes, como TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), deficiência intelectual, problemas de linguagem ou ansiedade. "Não existe um único tipo de autismo, nem um único caminho diagnóstico. Cada criança é única e é preciso tempo para entender suas forças e desafios", afirma.
A boa notícia, segundo a pesquisadora, é que muitas dessas condições associadas são tratáveis, e intervenções precoces podem melhorar significativamente a qualidade de vida da criança e de sua família.
Além disso, ela ressalta a importância de pesquisas voltadas não apenas à biologia do autismo, mas também à experiência de vida das pessoas com o transtorno. "Estamos longe de compreender como a biologia afeta cada indivíduo. Precisamos ouvir mais essas pessoas e entender como ajudá-las em sua trajetória", conclui Catherine Lord.
*A jornalista viajou a convite do Brain.