Difícil escolher? Adultos indecisos podem ter sido crianças superprotegidas

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É comum que pais e responsáveis queiram proteger seus filhos dos percalços da vida. Mas quando o zelo ultrapassa o limite e vira controle absoluto, o efeito pode ser o oposto do desejado: em vez de segurança, surge a insegurança.
A superproteção transforma crianças em adultos frágeis. Elas crescem sem autonomia emocional, sem margem para tomar decisões por conta própria e sem a oportunidade de desenvolver resiliência diante de situações adversas. O resultado? Dificuldade de adaptação, medo constante de errar e extrema indecisão na vida adulta.
Um adulto indeciso geralmente carrega uma infância onde raramente foi incentivado a escolher. Alguém sempre decidia por ele — o que vestir, o que comer, como agir. Sem prática, o cérebro não se acostuma a lidar com incertezas ou riscos. E isso impacta diretamente a autoconfiança: a pessoa duvida de sua própria capacidade de decidir, teme consequências mínimas e se sente travada até diante de escolhas simples.
Um pouco de estresse pode ajudar
Ao contrário do que se pensa, o estresse na infância não é sempre negativo. Em um estudo de 2004, filhotes de macaco foram separados brevemente das mães todos os dias, durante uma semana. O que parecia cruel revelou algo surpreendente: tanto mães quanto filhotes aprenderam a lidar melhor com a separação e com o desconforto de situações novas.
Esse tipo de "estresse controlado" é um ingrediente fundamental na formação da resiliência — a capacidade de enfrentar frustrações, pressões e medos sem colapsar. No cérebro, inclusive, há mudanças visíveis: o estresse intermitente estimula a formação de uma camada protetora nos neurônios do córtex pré-frontal, região responsável pelo autocontrole, vigilância e tomada de decisões.
Em resumo: pequenos desafios moldam cérebros mais adaptáveis. Já a ausência deles, como no caso de crianças superprotegidas, pode limitar o desenvolvimento dessas habilidades.
Marcas da superproteção na vida adulta
O adulto que foi superprotegido não apenas evita riscos, mas frequentemente congela diante deles. A indecisão se torna um traço crônico. Não se trata apenas de pensar demais, mas de uma incapacidade enraizada de confiar no próprio julgamento. E isso afeta todas as áreas: pessoal, profissional, afetiva.
Além da indecisão, outras consequências da superproteção incluem:
Baixa tolerância à frustração;
Dependência emocional de figuras de autoridade;
Medo paralisante de errar;
Falta de iniciativa e criatividade para resolver problemas.
A resiliência se constrói ao longo da infância, justamente por meio de desafios cotidianos e oportunidades de aprender com pequenos erros. Portanto, dar autonomia à criança não é largá-la sozinha, é permitir que ela se desenvolva com segurança, mas também com espaço para tropeçar, levantar e, principalmente, escolher por si mesma.
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