Hábito estranho: por que algumas pessoas falam sozinhas em voz alta?

Pode parecer estranho para quem não tem esse costume, mas falar em voz alta consigo mesmo é algo bastante comum. Muitas vezes, acontece quando estamos tentando nos concentrar, organizar pensamentos ou orientar nossas ações.

A ciência já atestou que repetir o nome de algo que procuramos, por exemplo, pode facilitar a lembrança quando o objeto é familiar. "Diante de tarefas esportivas ou intelectuais, usar a fala para guiar a ação pode ajudar no rendimento motor e cognitivo, além de alimentar a motivação", explica o psiquiatra Ary Ornellas.

Será que no meu caso é normal?

Apesar do estigma, falar sozinho é uma estratégia mental natural para muitas pessoas. A fala em voz alta funciona para:

Organizar a mente;

Estabelecer prioridades;

Reduzir a confusão interna;

Acalmar as emoções.

Entre adolescentes e jovens adultos, falar sozinho pode ajudar ainda a afirmar a autoestima, especialmente em frente ao espelho, servindo de treino para lidar com as próprias emoções. Também é comum recorrer à fala em voz alta para pensar melhor e tomar decisões conscientes.

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Imagem: iStock
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Sinais para prestar atenção

Nem sempre a conversa interna em voz alta é útil ou saudável. Quando a pessoa repete palavras sem saber o que está procurando, ou quando esse comportamento vira um diálogo com vozes imaginárias, pode ser sinal de algum transtorno mental, como esquizofrenia, transtornos de humor, psicoses, bipolaridade ou depressão. Também pode estar ligado a dificuldades sensoriais, como surdez.

Ansiedade, estresse e fobia social podem estimular o que os médicos chamam de "solilóquios", monólogos espontâneos e esporádicos que são normais quando isolados e não invasivos. Já os diálogos desconexos, agressivos ou ameaçadores, acompanhados de gestos, indicam que algo mais sério precisa ser investigado.

Já no envelhecimento, falar sozinho pode ser um hábito ou um sinal de memória em declínio. Por volta dos 30 anos, começa a perda natural de neurônios, que aumenta com o tempo, causando dificuldades para lembrar nomes e palavras — e a repetição verbal pode surgir para compensar essas falhas cognitivas.

Quando procurar ajuda profissional

A fala consigo mesmo passa a ser preocupante quando causa sofrimento, prejudica relacionamentos ou atrapalha a rotina. Não é esperado se a pessoa não percebe que está falando sozinha, age como se estivesse em diálogo com outra pessoa, ou relata ouvir vozes e ordens.

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Nesses casos, é fundamental buscar a avaliação de um neurologista ou psiquiatra. A psicoterapia também pode ajudar a entender as causas profundas, como traumas, dificuldades sociais ou luto.

Para crianças, é importante que pais e cuidadores não reprimam o hábito com críticas ou castigos, mas fiquem atentos se o comportamento persiste após a idade em que se distingue fantasia da realidade — neste caso, o acompanhamento médico é recomendado.

Idosos devem fazer consultas regulares com o geriatra, que deve se atentar a sintomas como confusão, esquecimento e alterações no humor, acompanhados de fala desorganizada —sinais iniciais de demência, como Alzheimer.

*Com informações de reportagem publicada em 30/05/2022

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