Não para de comer? Saiba por que parece que temos mais fome no inverno

"Um dia frio, um bom lugar para ler um livro". A canção de Djavan soa perfeita para inspirar uma tarde gelada, mas vamos acordar que o que combina mesmo com baixas temperaturas é passar o dia comendo, principalmente guloseimas.

É o efeito do inverno, com seus dias curtos e noites longas e um clima frio e seco predominante no ar. Isso tudo altera o metabolismo do organismo, além de diminuir a produção de serotonina, o hormônio neurotransmissor que promove a sensação de bem-estar. Para suprir essa onda de tristeza e garantir que o corpo fique aquecido, algumas pessoas recorrem aos alimentos.

O frio faz com que o corpo precise de mais energia para se manter aquecido, aumentando o gasto energético. Como a energia vem do que comemos, ele envia sinais para aumentar a fome e manter a temperatura equilibrada.

É um mecanismo do corpo para se proteger e garantir a sobrevivência. De acordo especialistas, o que existe é uma zona termoneutra, faixa de temperatura ambiente, chamada de homotermia (temperatura normal), que mantém a temperatura do corpo estável. Quando as pessoas são expostas acima ou abaixo desta zona termoneutra —em torno de 36,5ºC—, o corpo se adapta para manter a homotermia.

Se a temperatura ambiente for menor do que a zona, o indivíduo começa a aumentar o gasto calórico para aquecer o corpo. É por esse motivo que no frio a sensação de fome é maior.

É fome mesmo ou vontade de suprir tristeza com comida?

Se no inverno sentimos necessidade de ingerir mais calorias por causa do gasto de energia, existe ainda outra questão a ser considerada: o que é fome física e o que é fome emocional. A palavra fome, do latim faminem, é o nome dado à sensação fisiológica pela qual o corpo percebe que necessita de alimento para manter as atividades necessárias à vida.

Já a fome emocional é psicológica, surge em momentos variados, está relacionada a algum acontecimento como estresse ou tédio e geralmente requer um alimento específico, na maioria das vezes aqueles ricos em açúcares ou gorduras, já que são mais saborosos.

Não precisa optar por guloseimas o tempo todo

Comer é uma necessidade humana durante todas as estações do ano, mas é no inverno que a fome e a vontade caminham mais juntas, por isso é preciso atenção para não passar do ponto. A escolha e a seleção dos alimentos devem ser sempre cuidadosas. E, apesar de não existir uma regra para alimentos preferenciais no frio ou no calor, o que devemos fazer sempre é manter a qualidade da alimentação, consumindo verduras, legumes e fibras.

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Se a pessoa sente dificuldade em controlar o apetite, eventualmente pode ser necessário usar algum medicamento para regular a fome que o frio produz. Claro, sempre com orientação médica.

É possível optar por versões mais magras de laticínios, molho vermelho para massas em vez de molho branco com mais gordura, e sopas à base de legumes no lugar de sopas à base de carboidratos, por exemplo.

Especialistas também sugerem beber mais chás em vez de chocolate quente, ou ainda optar por cacau 70%.

Cuidado com excessos

Apesar de o alimento ser fundamental para a produção do calor no organismo, há outros elementos com os quais o ser humano pode contar, como utilizar roupas quentes e ficar em ambiente com aquecimento para manter a temperatura. Além disso, as atividades físicas constituem-se em importantes aliadas para combater o frio, principalmente caminhadas, trilhas e corridas.

A necessidade de ingerir mais alimento nos dias frios aumenta em torno de 10%, assim não é uma fome excessiva, mas uma solicitação extra do corpo para manter a temperatura corporal que pode ser amenizada com agasalhos e exercícios físicos.

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O que acontece, muitas vezes, é que no frio sentimos a necessidade de ficarmos mais recolhidos e isso pode fazer com que se ganhe mais peso no inverno.

Como a necessidade calórica está elevada no frio, há o risco de levar o mesmo consumo para outras estações do ano e, não precisando de mais energia para a manutenção de temperatura, provavelmente haverá ganho de peso. Por esse motivo, saber ouvir o que o corpo realmente quer e precisa é essencial.

Fontes: Luciane Osse, médica nutróloga, fellowship pela Cleveland Clinic - Weston/USA, responsável pela equipe de Nutrologia do Hospital Nove de Julho; Mario Carra, diretor do Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), médico endocrinologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo); e Vera Lucia Morais Antonio de Salvo, nutricionista e pós-doutora em saúde coletiva nos temas Mindfulness e Mindful Eating - Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) - Departamento de Medicina Preventiva.

* Com informações de reportagem publicada em 29/06/2021

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