Canetas emagrecem menos 'na vida real' do que em laboratório, diz estudo

Drogas injetáveis análogas ao GLP-1 —hormônio produzido no intestino que regula a glicemia e o apetite— como é o caso da semaglutida (Ozempic e Wegovy) e da tirzepatida (Mounjaro) produzem perda de peso menor na vida real do que indicam os testes dos seus laboratórios fabricantes.

A conclusão é de um estudo realizado por pesquisadores da renomada instituição americana Cleveland Clinic e publicado no dia 10 de junho no jornal científico Obesity.

Por que Ozempic e similares são menos eficientes na prática?

Pesquisadores acompanharam o tratamento de 7.881 pessoas obesas, sendo que 16% delas já apresentavam alterações dos níveis de açúcar no sangue. A perda de peso média apresentada por elas foi de 8,7% após um ano do início do uso das canetas, muito menos do que a faixa entre 15% a 20,9% obtida pelos testes de fase 3 dos laboratórios que fabricam a semaglutida (Novo Nordisk) e tirzepatida (Eli Lilly).

Culpa não seria (só) das canetas indicadas para tratar diabetes tipo 2 e obesidade. O estudo indicou que a diferença entre o resultado obtido em laboratório e a perda de peso obtida na realidade está relacionada ao uso inadequado dos medicamentos. Pacientes, muitas vezes, param o tratamento no meio do caminho ou usam doses menores do que a recomendada para a manutenção dos cuidados.

Estudiosos analisaram 7.881 pacientes com IMC (índice de massa corpórea) acima de 39 —o que os colocaria, clinicamente, na categoria de obesidade severa. Dentre eles, 1.320 participantes eram considerados "pré-diabéticos" no início do estudo, com níveis de açúcar no sangue entre 5,7% e 6,4% acima do normal, ou seja, com maior risco de desenvolver diabetes tipo 2.

Todos os pacientes estudados até dezembro de 2024 começaram a se tratar com canetas de semaglutida ou tirzepatida entre 2021 e 2023. Mais de 20% dos pacientes pararam de usar as canetas até três meses após o início do tratamento e 32% interromperam o tratamento no período entre três meses e um ano.

Mais de 80% dos pacientes também tomavam doses menores de manutenção da medicação —até 1 mg de semaglutida ou até 7,5 mg de tirzepatida, indicadas pelos seus médicos. A dose de manutenção deve ser recomendada com base no que é necessário para manter o efeito terapêutico, ou seja, mesmo que o intuito não seja mais a perda de peso, pode ser necessário continuar as injeções para controlar o açúcar no sangue e evitar o ganho de peso. A esperança dos pesquisadores é que este resultado possa ajudar a esclarecer aos médicos como lidar com as canetas.

Um ano após o início do tratamento, a perda de peso média de quem usou as canetas por até três meses era de 3,6%. Já entre aqueles que pararam o tratamento entre três meses e um ano, a redução média de peso era de 6,8%.

Comparativamente, os pacientes que não pararam seus tratamentos perderam, em média, 11,9% do seu peso. Já aqueles que foram mantidos em doses mais altas de manutenção reduziram cerca de 13,7% de seu peso com a semaglutida e 18% com a tirzepatida. Os pacientes com maiores chances de alcançarem perdas de peso de 10% ou mais após um ano de tratamento foram:

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  • Aqueles que não interromperam o tratamento ou fizeram uso por mais tempo;
  • Utilizaram doses de manutenção mais altas;
  • Receberam tirzepatida (em vez da semaglutida);
  • Eram mulheres.

Por que pacientes deixam a caneta antes da hora?

Dentre os pacientes considerados "pré-diabéticos", 33% dos que abandonaram o tratamento até três meses depois do início obtiveram níveis de açúcar no sangue normais (com hemoglobina glicada de até 5,6). Já entre aqueles que interromperam o uso da caneta entre três meses e um ano do início do tratamento, 41% apresentaram níveis glicêmicos normais.

Dos participantes que seguiram o uso da caneta conforme indicação médica, 67,9% conseguiram níveis saudáveis de açúcar no sangue. Ou seja, há evidentes benefícios para a saúde de uma manutenção correta do tratamento. Então, por que os pacientes param tanto de utilizá-las?

As razões mais comuns apresentadas pelos pacientes para terem parado o tratamento incluiu o custo das canetas e problemas com a cobertura do tratamento pelo convênio médico. Efeitos colaterais e falta da medicação nas farmácias também pesaram na decisão. Os estudiosos da Cleveland Clinic já trabalham em uma nova pesquisa para quantificar quais as situações mais comuns em que os pacientes deixam de tratar sua obesidade.

No nosso estudo, a maioria dos pacientes com pré-diabetes apresentou níveis normais de açúcar no sangue quando continuaram seus tratamentos. Diabetes tipo 2 é uma das complicações mais comuns da obesidade, então a prevenção da diabetes é muito importante. Este estudo destaca que a descontinuação do tratamento, especialmente no início, afeta negativamente tanto o peso quanto o resultado do controle glicêmico. Hamlet Gasoyan, autor principal do estudo e geriatra da Cleveland Clinic

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Apesar de pacientes que pararam o tratamento terem perdido significativamente menos peso do que aqueles que seguiram tomando as canetas, eles conseguiram manter o peso, revelou o estudo. Por isso, os pesquisadores já anunciaram que também irão estudar quais outros métodos de controle do peso podem ser utilizados no dia a dia após parar o uso da medicação.

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