Ferrugem diz que tinha idade biológica de 78 anos; o que isso significa?

O cantor Ferrugem, de 36 anos, afirmou que tinha a idade biológica de 78 anos antes do seu processo de emagrecimento.

É possível ser mais velho do que a sua idade?

O músico contou com a ajuda de um profissional para perder 45 kg, que o teria informado que seu corpo "era bem mais velho" do que os documentos diziam. "Ele mudou minha vida e sem remédio. A troca de ideia que a gente teve foi muito esclarecedora para mim e intimidadora também. Eu tinha 78 anos de idade biológica, e fiquei pensando 'vou morrer semana que vem'. Isso fez eu querer mudar", desabafou.

Eu estava pré-diabético, com gordura no fígado, inflamações em todas as articulações do corpo, tudo meu doía, eu não respirava bem, não conseguia me desempenhar bem nos shows. [...] Era estar dentro do avião e ter a vergonha de pedir um alongador de cinto de segurança porque não fechava... tive uma inflamação na lombar por conta do sobrepeso que, para chegar até o portão de embarque, eu parava umas quatro ou cinco vezes. Andava um pouquinho e sentava porque pegava fogo [na lombar]. Na época, eu estava com 28 anos. Bem mais novo, e bem debilitado. Ferrugem

Ferrugem tem razão: é possível ter um organismo "mais velho", na prática. A idade cronológica é o tempo decorrido desde o momento do nosso nascimento, geralmente contada em anos de vida, como já explicou a colunista de VivaBem, Sophie Deram. Naturalmente, à medida que envelhecemos cronologicamente, o risco de desenvolver doenças crônicas (doenças do coração, diabetes, hipertensão, câncer e etc.) aumenta.

Já a idade biológica é uma avaliação numérica quanto ao nível de danos e de perdas das funções que as células, tecidos e órgãos do corpo acumularam —e que podem contribuir para a manifestação de doenças. Ela é um indicador para prever o risco do organismo desenvolver problemas de saúde. Esse envelhecimento biológico também pode ser chamado de epigenético. A epigenética é a ciência que estuda o modo como o nosso material genético é regulado e muda sua expressão, sem o envolvimento de alterações no DNA.

Ferrugem antes e depois de perder peso
Ferrugem antes e depois de perder peso Imagem: Reprodução/Instagram

Existem diversas maneiras de calcular a idade biológica de um paciente. Por três décadas, pesquisadores têm explorado diferentes métricas para desvendar com exatidão a idade biológica de um indivíduo. Elementos como a capacidade física, perfis lipídicos (índices de distribuição de gordura pelo corpo) e danos ao DNA têm sido considerados biomarcadores potenciais. No entanto, ainda não se estabeleceu um método definitivo para medir o envelhecimento saudável.

Um dos mecanismos mais estudados é através da metilação do DNA, ou seja, da adição e remoção de grupos metil (um átomo de carbono ligada a três átomos de hidrogênio) ao DNA. Para fazer este tipo de estudo, cientistas colhem amostras de saliva. Grau de metilação do DNA já demonstrou que, quem é mais velho do que a própria idade, tem risco aumentado para câncer de mama.

Muitos pontos de metilação do nosso DNA respondem de maneira imediata a estímulos ambientais, o que mostra que o relógio biológico é modificável e hábitos influenciam o surgimento de doenças. O processo de envelhecimento é influenciado por múltiplos fatores. A taxa em que envelhecemos pode ser acelerada por eventos significativos em nossas vidas, como exposição a estresse ou doenças prolongadas (crônicas), que podem impulsionar o avanço da nossa idade biológica.

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No entanto, este não é o único caminho. Cientistas chineses já utilizaram exames de urina para avaliar os níveis de subprodutos de oxigênios liberados pelo metabolismo que, acumulados naturalmente com a passagem do tempo, causavam dano oxidativo ao nosso DNA e RNA. Estudos de retina com o auxílio de inteligência artificial, da força de um aperto com as mãos, além de análise da rigidez arterial a partir de medições de velocidade de onda do pulso também já se tornaram referências.

Dá para "atrasar" o relógio biológico?

Sim. Como o exemplo de Ferrugem demonstra, a adoção de novos hábitos pode melhorar o rendimento imediato do organismo, como a diminuição de dores musculares e articulares, por exemplo, e aumento da disposição. E, mesmo que alguns danos possam ser permanentes — a ciência ainda os estuda —, é importante parar de acelerar o envelhecimento

Isto porque médicos concordam que a genética é responsável por somente 25% pela maneira como se envelhece. Os outros 75% são determinados por estilo de vida e as condições ambientais.

Médicos e outros pesquisadores de saúde ainda concordam em alguns pontos essenciais para envelhecer melhor. São eles:

  • Boa alimentação: aumentar a proporção de comida caseira, com alimentos de qualidade, e sem ultraprocessados para melhor saúde cardiovascular, metabólica e gastrointestinal;
  • Prática regular de atividade física: o sedentarismo está diretamente relacionado a quadros de doenças cardiovasculares, depressão, demência e perda de autonomia motora, provaram estudos nos últimos anos;
  • Lazer e descanso: cuidado com a saúde mental diminui os riscos de quadros de estresse, além de doenças como depressão e ansiedade, que no longo prazo aumentam o risco de outras condições como a demência. Para combatê-los, o convívio social saudável também é essencial;
  • Abandono de fumo e consumo de álcool: o uso destas e outras drogas afeta o organismo como um todo, prejudicando o desempenho das células e levando a doenças cardiovasculares, cânceres, entre outras.
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*Com informações de matérias publicadas em 28/02/2018, 23/02/2019, 09/06/2021

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