Foi tratar ansiedade e depressão e saiu de 'ressaca'? Entenda por quê

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Não é só tristeza, raiva ou ansiedade que uma sessão de terapia pode despertar. Às vezes, o impacto é tão grande que parece que o corpo levou uma surra ou que toda sua energia foi drenada. Esse fenômeno é chamado pelos especialistas de "ressaca pós-terapia" — um efeito colateral mais comum (e natural) do que se imagina no caminho do autoconhecimento.
"Algumas sessões de terapia são particularmente desafiadoras e podem até provocar reações físicas como dores musculares, de cabeça e de estômago, fadiga, sonolência e até dificuldade para pensar e agir", confirma a psicóloga Márcia Maria de Oliveira Zuzarte.
O que é essa tal "ressaca"?
Embora não seja reconhecido cientificamente, o termo "ressaca pós-terapia" ficou famoso pela sensação peculiar que provoca. Vale reforçar que esse esgotamento após uma sessão onde foram abordados temas intensos é natural e produtivo e, segundo a psicóloga Adriana Nunan, doutora pela PUC-Rio, pode indicar que houve um progresso.
"Não é fácil falar daquilo que mais dói, medos, traumas, tristezas, frustrações. Mas é justamente ao abordar essas questões que elas podem começar a ser trabalhadas e resolvidas", diz Nunan. Essa fadiga mostra que foi possível atingir um nível mais profundo do problema.
Durante um processo de terapia, é importante ampliar a condição de pensar e sentir, e isso traz consequências. O paciente pode se aproximar de algo profundo e desconfortável, despertando uma situação que estava adormecida. "Isso pode ser perturbador e extenuante, por isso também pode incomodar, tirar a pessoa de uma zona de conforto e se manifestar sob a forma de mal-estar e até de resistência à terapia", alerta Zuzarte.
Às vezes, pausar é necessário
Se o peso de abordar certos assuntos for grande demais, é importante conversar com o terapeuta sobre isso, que em parceria com o paciente pode indicar uma pausa em determinados temas.
"Cada um tem mecanismos diferentes de enfrentamento das dificuldades. E o tema, quando não resolvido, voltará com certeza", afirma Mônica de Barros Soutello, especializada em psicologia pela USP.
O mais importante é manter o diálogo aberto com o profissional e não desistir diante do cansaço. Até porque, como lembra a psicóloga Isabelle Carneiro, "sessões dolorosas também podem abrir espaço para novas histórias, caminhos e recomeços".
O que fazer quando a ressaca bate
No ritmo acelerado do dia a dia, pode ser difícil emendar a terapia com um momento de descanso. Mas se for possível criar esse respiro — com uma caminhada, um papo leve, música, filme ou até um tempo de silêncio —, ajuda muito a aliviar esse cansaço.
Se não der para desacelerar, leve a sessão na bagagem emocional. Aceite esse desconforto como parte de um processo maior. No fim das contas, ele tende a gerar crescimento.
E não se esqueça: nem toda sessão é pesada. Muitas vezes, a terapia também oferece momentos de alívio, compreensão e até euforia. "Há sessões em que o paciente sai radiante com as descobertas feitas, portanto, todos os momentos são necessários para o amadurecimento", completa Soutello.
Atenção ao que vem depois
Para aliviar esse esgotamento, algumas pessoas buscam compensações, como comer em excesso ou gastar demais. O paciente precisa lembrar que está em tratamento e a dor habitual faz parte do processo. Por isso, aceitá-la pode ser suficiente para seguir em frente.
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