Jovem morre em meia maratona: correr longas distâncias pode ser perigoso?

Ler resumo da notícia
Um homem de 20 anos morreu no sábado enquanto corria o percurso de 21 km na 40ª Maratona Internacional de Porto Alegre. João Gabriel Hofstatter De Lamare teve um mal súbito e parada cardiorrespiratória faltando um quilômetro para o fim da prova, segundo a organização do evento. Ele foi atendido pela equipe médica, mas não resistiu.
Correr longas distâncias é perigoso?
Mortes em provas de corrida são raras. O número de corredores pelo mundo tem aumentado, então notícias sobre mortes podem ser mais frequentes. Além disso, é um evento que chama atenção e desperta medo, fazendo com que pareça mais corriqueiro. Mas, proporcionalmente, o risco de mal súbito cardíaco é muito baixo: estudos falam de um caso para cada 50 mil ou 100 mil maratonistas. Uma pesquisa nos EUA mostra que esse risco ficou estável entre 2010 e 2023, em comparação com o período de 2000 a 2009, e até diminuiu cerca de 50%.
Mas treinar e correr uma meia ou uma maratona é exaustivo. O processo causa alterações metabólicas e fisiológicas no organismo. Se a pessoa não estiver preparada, o corpo pode sofrer consequências sérias. O ponto-chave é evoluir aos poucos, mesmo que você já seja um corredor experiente e vá entrar nas longas distâncias pela primeira vez.
Perigoso mesmo é o sedentarismo. A inatividade física está entre as dez principais causas de morte e incapacidade, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). De modo geral, correr reduz a mortalidade por todas as causas e os fatores de risco cardiovasculares, mesmo que se corra pouco e devagar.
Em tese, qualquer pessoa pode correr uma maratona. Mas, claro, há pontos a considerar. Se vai começar do zero, é essencial construir uma boa base em distâncias menores (5 km e 10 km) para evoluir aos poucos para as maiores (15 km, por exemplo) até chegar à meia maratona e, por fim, aos 42 km. A constância vale mais do que a intensidade. Para quem já está habituado à prática, propõe-se ciclos de treinamento de quatro a seis meses. Se a pessoa não se adapta e decide correr longas distâncias, o corpo não vai aguentar o estresse inesperado.
Quais cuidados ter
Faça check-up médico. No livro "Correr: o Exercício, a Cidade e o Desafio da Maratona", o médico Drauzio Varella explica que as mortes cardíacas súbitas estão geralmente ligadas a problemas prévios ainda não diagnosticados, como anomalias congênitas ou alterações anatômicas que interferem no fluxo sanguíneo. "Mesmo quando não causam sintomas na vida diária, tais anormalidades podem provocar infartos, caso o coração seja submetido a esforços intensos", escreve.
Procure orientação profissional. Treinadores e assessorias esportivas são importantes para montar um plano de treino adequado, que vai ajudar a evitar lesões e acelerar sua evolução.
Faça fortalecimento. Adaptar músculos, tendões e ligamentos torna a atividade eficiente; do contrário, os riscos incluem tendinite, fratura por estresse e falta de cálcio. Além disso, os músculos guardam parte da energia que o corpo precisa para as atividades diárias. Quem corre geralmente abastece esse estoque na forma de glicogênio consumindo carboidratos antes ou durante o treino e a prova.
Cuide da sua alimentação. É preciso equilibrar o gasto e o consumo de energia (calorias) para que o corpo tenha combustível para os treinos e para a prova, bem como se hidratar da maneira adequada. Para o uso de suplementos, tem de testar o produto antes e fazer adaptação.
Como se preparar
A RRCA (Road Runners Club of America) orienta um modelo por metas intermediárias. Chamado de Step-Up Running., ele é voltado para corredores recreativos. Meta um: 5 km - oito semanas de treinamento (com corrida e caminhada, se necessário); meta dois: 10 km - oito a dez semanas de treinamento; meta três: 21 km (meia maratona) - 12 semanas de treinamento; meta quatro: 42 km (maratona) - 16 a 20 semanas de treinamento.
O modelo estabelece um total de 36 a 50 semanas com metas claras, sem pular etapas. Treinar para uma maratona exige disposição, disciplina, paciência e renúncia. É preciso entender também se esse processo cabe na sua vida e faz sentido para você.
Para iniciantes, recomenda-se correr de três a cinco vezes por semana. Mas, novamente, veja o que cabe na sua rotina e ajuste com a pessoa treinadora. A evolução precisa ocorrer sem sobrecarga e bem distribuída ao longo dos dias de treino.
Descanso também é treino. Deixar que o corpo se recupere do estresse causado pelas corridas é fundamental. Ignorar isso é comprometer o processo.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.