Corante alimentar liberado no Brasil aumenta risco de doenças, diz estudo

O corante alimentar dióxido de titânio tem efeitos mais tóxicos do que se imaginava, apontou um novo estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Jiaxing Nanhu, na China. A pesquisa foi recém-divulgada no periódico científico Food and Chemical Toxicology, que incluirá o trabalho na sua edição de agosto.

O que aconteceu

Estudo foi feito em ratos e mostrou relação do corante com obesidade, diabetes e outros problemas de saúde. Dióxido de titânio pode alterar a resposta hormonal do corpo aos alimentos e desregular o nível de açúcares no sangue, o que levaria à obesidade, ao diabetes e outros problemas de saúde a longo prazo, de acordo com o estudo. Estas alterações no metabolismo, no entanto, foram encontradas em ratos expostos ao corante analisados pelos cientistas.

Substância é largamente utilizada para deixar a cor branca mais vibrante ou destacar tons em sucos, coberturas, bolos, biscoitos, doces. Por isso, pesquisadores decidiram comparar a saúde intestinal de três grupos de ratos: aqueles que receberam nanopartículas do dióxido de titânio, aqueles que foram alimentados com partículas maiores e aqueles cujas refeições não incluíam o corante.

Experimento mostrou alterações provocadas pelo corante. Animais que receberam as nanopartículas frequentemente presentes em alimentos humanos apresentaram níveis mais baixos de diversos tipos de hormônios gastrointestinais que sinalizam ao corpo que está satisfeito, auxiliam na digestão e regulam os índices de glicose do organismo. Ao medir os níveis de açúcar no sangue destes ratos, cientistas encontraram números muito mais altos do que aqueles que receberam as partículas maiores do corante.

Hormônios produzidos por células do intestino têm um papel-chave na regulação dos níveis energéticos do corpo, como o açúcar no sangue. O corante não só atrapalhou o processo de diferenciação destas células, como reduziu o número delas, descobriram ainda os cientistas. Problemas como este poderiam levar os ratos —e os seres humanos— à resistência à insulina, diabetes tipo 2 e obesidade, segundo os pesquisadores.

Dióxido de titânio, corante usado na indústria alimentícia
Dióxido de titânio, corante usado na indústria alimentícia Imagem: iStock

Banido na Europa, permitido nos EUA e no Brasil

A União Europeia proibiu o uso do dióxido de titânio em 2022. Pesquisas anteriores já haviam demonstrado a probabilidade de que essa substância agisse como uma neurotoxina, imunotoxina e ainda causasse lesões intestinais, potencialmente danificando genes. As partículas podem se acumular no corpo por anos, de acordo com estudos prévios.

Em 2022, um processo nos EUA acusava o confeito Skittles de ser "inapropriado para o consumo humano" por causa do corante. No entanto, ele acabou arquivado pela Justiça americana. Apesar de o FDA (Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos) ter considerado que o dióxido de titânio era seguro, a empresa Mars —que fabrica o Skittles— anunciou no fim de maio de 2025 que já não usa mais o corante em seus produtos, segundo a BBC.

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No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) passou a reavaliar em 2023 se o dióxido de titânio era seguro para consumo humano. A avaliação foi concluída em setembro de 2024 e a agência afirmou não ter encontrado evidências que justifiquem "preocupações de segurança" e que há um longo histórico de uso seguro do aditivo alimentar.

Desde 2010, a Iarc (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, órgão das Nações Unidas) classifica o dióxido de titânico como um composto "possivelmente carcinogênico para humanos" (grupo 2B). Mas a Anvisa afirma que a decisão foi tomada com base em evidências de maior incidência de tumores no pulmão de ratos que inalaram o produto, em vez de ingeri-lo pela boca.

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